Todos nós, quando crianças, temos uma curiosidade insaciável e uma vontade permanente de aprender coisas novas e de questionarmos cada uma das certezas com que somos confrontados. Infelizmente, à medida que crescemos, questionamos cada vez menos e aceitamos cada vez mais o que nos é transmitido, perdendo gradualmente essa capacidade inquisitiva. Este comportamento pode conduzir a resultados negativos nas organizações
POR RODOLFO OLIVEIRA*

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*Rodolfo Oliveira é consultor
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Todos nós, quando crianças, temos uma curiosidade insaciável e uma vontade permanente de aprender coisas novas e de questionarmos cada uma das certezas com que somos confrontados e que são habitualmente resultado da experiência de alguém que estudou o tema em questão. Apesar de ser um processo natural de aquisição de conhecimento, na ânsia de preservarmos as nossas certezas, muitas vezes acabamos por limitar a capacidade inata da criança de questionar tudo. Afinal, é muito mais fácil aceitar uma verdade que nos é transmitida como imutável do que questionarmo-nos regularmente sobre a sua validade. Quantos de nós não ficamos sem resposta com os inúmeros ‘Mas Porquê?’ quando somos questionados?

Deste modo, à medida que crescemos, questionamos cada vez menos e aceitamos cada vez mais o que nos é transmitido, perdendo gradualmente aquela característica importantíssima que as crianças têm de se maravilhar com os pequenos detalhes e de serem capazes de, para cada facto aparentemente imutável, formularem perguntas desconcertantes.

O impacto deste padrão de comportamento na nossa actividade profissional reflecte-se na habitual busca por optimizar modelos ao invés de os questionar – à medida que crescemos profissionalmente vamos aceitando como factos muitas das realidades que nos foram transmitidas e que fazem parte do status quo da organização e da indústria em que se insere. Este processo retira-nos, gradualmente, essa capacidade de questionar o que é pré-definido e cria o espaço para perdermos a nossa capacidade de identificar e agir sobre a mudança.

A possibilidade de percepcionar mudanças no comportamento dos consumidores, ou mudanças tecnológicas significativas com impacto na actividade, resulta desta capacidade inata de nos questionarmos regularmente sobre estas verdades adquiridas. As empresas que se adaptam mais rapidamente são aquelas em que este espírito de questionar regularmente é incentivado e estimulado, e em que as mudanças de paradigma não são analisadas à luz daquilo que consideramos como o padrão, mas onde existe uma cultura que incentiva a inovação e criatividade e em que existe um espaço para lançar e testar novas ideias à luz desse novo paradigma. E em que é premiado o empreendedorismo e o voluntarismo para tomar riscos calculados.

As empresas automóveis norte-americanas não reagiram à entrada dos pequenos carros japoneses quando estes surgiram. Afinal, toda a gente queria carros grandes. Quando o fizeram, tinham perdido a liderança. Faziam excelentes motores V8 quando os consumidores queriam uns poupadinhos quatro cilindros.

A IBM não previu o sucesso do PC, era apenas mais uma área de negócio. Afinal, o seu principal negócio eram os grandes sistemas centrais com toda a capacidade de processamento e segurança. Actualmente já não fabrica PCs.

A WordPerfect era líder incontestada do mercado de processadores de texto em MS-DOS, por isso para quê apressar-se a lançar uma versão para Windows? O mercado mudou e os clientes não esperaram. Quando reagiu, era tarde, e o novo padrão de processador de texto passou a ser o Microsoft Word, e ainda o é.

Por isso, da próxima vez que alguém lhe perguntar por que é que algum processo é feito de determinada forma ou por que não mudar ou criar uma operação, produto ou serviço, pense duas vezes antes de responder que sempre foi assim e que tem dado excelentes resultados. As mudanças antecipam-se.

 

Managing Partner da BloomCast Consulting