Está aberta, até ao dia 25 de Junho, a segunda fase de candidaturas ao Fundo de Capital de Risco Bem Comum. Quatro meses depois do arranque da iniciativa que investe na criação de novas empresas por profissionais seniores, confirma-se a oportunidade deste projecto como alternativa para fazer face ao desemprego e potenciar o crescimento económico do país
POR GABRIELA COSTA

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O Fundo de Capital de Risco lançado, no final de Outubro, pela Associação Cristã de Empresários e Gestores, por quatro dos maiores bancos portugueses (CGD, BES, Montepio e Santander Totta) e pelo Grupo José de Mello, com a missão de promover emprego sustentável para quadros qualificados com mais de quarenta anos, está prestes a concluir a sua primeira fase de implementação, correspondente ao quadrimestre que encerra o período de 27 de Novembro a 27 de Março.

Numa altura em que estimular o empreendedorismo e a empregabilidade – os grandes objectivos do Fundo Bem Comum – são estratégias fundamentais para conseguir tirar o país do fundo do poço, o VER conversou com Alexandre de Oliveira Carvalho, responsável pela avaliação do Fundo Bem Comum, a propósito das quase duzentas candidaturas recebidas e da oportunidade que iniciativas como esta representam na actual conjuntura socioeconómica do país.

Projectos diferenciadores garantem competitividade
Segundo os critérios de investimento do Fundo, os projectos devem possuir uma capacidade diferenciadora que garanta vantagem competitiva no mercado; e devem estar focados na criação de uma estrutura independente do promotor, isto é, devem conseguir ser autónomos depois do apoio recebido através deste Fundo de Capital de Risco.

Face a estes critérios de diferenciação e autonomia dos projectos, e como alerta Alexandre Carvalho, ficam, à partida, excluídas iniciativas nas áreas da restauração e do franchising, negócios de comércio e distribuição, pequenos gabinetes profissionais ou projectos cujo investimento seja concentrado em imobiliário.

Nos primeiros quatro meses de implementação do projecto foram efectuados cerca de mil contactos com o Bem Comum, dos quais resultaram quase duzentas candidaturas submetidas.
Neste momento cinco projectos estão em apreciação para execução, “cujo investimento global ascende a cerca de três milhões de euros” e nos quais o Fundo “prevê investir 750 mil euros”. Este valor representa um “esforço potencial de afectação” de cerca de trinta por cento dos recursos do Fundo Bem Comum, adianta, mas as candidaturas agora em análise têm uma capacidade de geração de cerca de trinta postos de trabalho, no acumulado”, conclui.

A avaliação das candidaturas ao Fundo de Capital de Risco Bem Comum ocorre em dois momentos. Num primeiro faz-se uma triagem dos processos submetidos, tendo por base a apreciação de três factores: o conceito de negócio; o perfil do promotor (ou a sua adequação ao negócio proposto); e a proposta de valor para o mercado.

Num segundo momento, são avaliadas em detalhe as condições económico-financeiras do projecto, designadamente em quatro dimensões: mercado e competitividade; qualidade das projecções financeiras e viabilidade potencial do projecto; condições de implementação (plano e capacidade da equipa de gestão para levar a cabo essa implementação); e a importante dimensão da avaliação do risco potencial do projecto (onde deve estar considerada a capacidade do promotor para estabelecer um plano de contingência, como sublinha Alexandre Carvalho).

“Este Fundo de Capital de Risco não podia ser mais oportuno, por duas ordens de factores: o crescimento do desemprego e a redução da disponibilidade para o crédito, por parte da banca” .
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Os projectos são então submetidos ao Conselho de Investimento, onde os accionistas do Bem Comum se pronunciam sobre o interesse de execução de cada uma das iniciativas propostas.

Face ao conjunto de critérios de elegibilidade dos projectos que, como referido, privilegia as capacidades diferenciadora e de autonomia dos mesmos, as candidaturas incidindo em negócios de consultoria, pequenos serviços locais como cabeleireiros, restaurantes ou cafés, apresentam uma actividade que não se enquadra no âmbito deste Fundo, por razões óbvias: afinal, estes negócios dificilmente conseguem implementar-se de forma inovadora, trazendo algo distintivo ao mercado, e o seu investimento “é focado em despesas não elegíveis, particularmente investimento em imobiliário, que o Fundo não apoia”, explica o especialista em gestão de investimentos.

Por outro lado, a aplicação de fundos em tesouraria também não se enquadra, já que “não é da competência do Bem Comum – dado que este Fundo se afasta da actividade dos bancos – apoiar a tesouraria das empresas, muito menos em situação de resgate ou de saneamento financeiro.

Nova ronda gera emprego qualificado
Realizada, a 18 de Maio, a reunião do Conselho de Investimento, concluiu o primeiro ciclo de avaliação e abre uma nova ronda de candidaturas, cuja expectativa é receber iniciativas que contribuam para o desenvolvimento económico do país e para o crescimento do emprego, “através da produção efectiva de bens e serviços transaccionáveis e fortemente ancorados em factores de diferenciação, como patentes, marcas e inovações de processo ou de produto”, explica. Cumulativamente, o desafio é garantir que essas novas candidaturas (cujo prazo decorre até 25 de Junho) apresentem uma concepção adequada da estrutura organizativa que dará suporte ao negócio, “em particular nas capacidades de gestão”, conclui Alexandre Carvalho. Ou, por outras palavras, “queremos iniciativas que produzam e que sejam consolidadas por uma boa gestão”.

Significa isto que a equipa do Fundo de Capital de Risco promovido pela ACEGE dará preferência a projectos nos sectores da indústria transformadora e da agricultura, assim como a negócios que tenham muita incorporação de Investigação e Desenvolvimento, e não forçosamente na área tecnológica, explicita.

Quanto aos promotores, “acreditamos que existe um número significativo de quadros médios e superiores que têm em si capacidades de empreendedorismo não desenvolvidas e pelos quais gostaríamos de ser abordados”, avança Alexandre Carvalho, para quem “há seguramente muitos profissionais seniores em todo o país que têm know-how mas não têm a coragem para iniciar o seu próprio projecto”. O Bem Comum “pode ser o apoio, não só financeiro, mas que também ajuda a acreditar no sucesso dos projectos e a mitigar o seu risco”.

De resto, e perante a crise aguda que Portugal atravessa, este Fundo de Capital de Risco “não podia ser mais oportuno”, por duas ordens de factores: o crescimento do desemprego e a redução da disponibilidade para o crédito, por parte da banca.

A partir de agora, “há mais capital humano de qualidade disponível e a economia precisa desta criação de PME para gerar emprego”, conclui o Gestor do Fundo. E o sistema financeiro, incapaz de apoiar este tipo de iniciativas, deixa espaço a que investidores “disponíveis para assumir mais riscos, por contrapartida de rentabilidades mais elevadas”, possam entrar no mercado, “contribuindo para a valorização individual de pessoas altamente qualificadas e para a melhoria do tecido empresarial nacional”.