Numa nova fase da sua vida, e com uma abordagem mista – uma forte aposta no apoio ao emprego sénior combinada com uma aposta em projectos de empreendedorismo social –, o Fundo de Capital de Risco Bem Comum pretende continuar a deixar a sua marca de originalidade no universo do private equity em Portugal, procurando através desta ferramenta atingir o seu verdadeiro objetivo: contribuir para o Bem Comum
POR MANUEL CARY

A Bem Comum – Sociedade de Capital de Risco é uma sociedade gestora de fundos de capital de risco, criada em 2011 com o objectivo principal de promover e gerir o Fundo de Capital de Risco “Bem Comum”, um projecto pioneiro com um objetivo social claro, realizado através de um instrumento financeiro gerido com critérios de racionalidade económica e em colaboração com parceiros e investidores de referência (ACEGE, Caixa Geral de Depósitos, Montepio Geral – Associação Mutualista, José de Mello SGPS, Caixa Capital, Espírito Santo Tech Ventures e Santander Pensões.

Contexto e motivação para a criação do Fundo

O Fundo nasceu da constatação da existência de um elevado número de pessoas desempregadas com mais de 40 anos, com saber adquirido, competência profissional e talento não utilizados, e da evidente necessidade que Portugal tem de iniciativas empresariais capazes de promover o emprego e a criação de riqueza. Assim, foi constituída a Bem Comum SCR com os seguintes objectivos:

– Estimular quadros qualificados, desaproveitados por desemprego ou em situação de pré-reforma e com experiência profissional relevante a desenvolverem projectos empresariais;

– Apoiar os projectos com potencial de crescimento, financeiramente e com assessoria técnica, no sentido de garantir a criação sustentável de postos de trabalho;

– Potenciar uma plataforma ampla de apoio e informação ao empreendedorismo sénior.

A Bem Comum SCR é um projecto inovador e pioneiro que se propôs utilizar o private equity numa função social de criação de empresas e de geração de riqueza, capaz de promover a integração no mercado de trabalho de quadros desempregados, com base na criação de empresas com elevado potencial.

O profissionalismo e a exigência colocada na análise e no apoio técnico a cada proposta de investimento, a par do acompanhamento pessoal do empreendedor por conselheiros do Fundo, foram os critérios base adaptados para a gestão do fundo e acompanhamento dos projectos.

[quote_center]É evidente a necessidade que Portugal tem de iniciativas empresariais capazes de promover o emprego e a criação de riqueza[/quote_center]

Em resumo, o Bem Comum tem como missão promover a criação de condições efectivas que permitam transformar quadros médios e superiores desempregados em empreendedores, através de novas empresas, alavancadas na experiência dos associados da ACEGE e na sua disponibilidade de apoio à iniciativa.

Ao longo da sua existência o Fundo pretendeu apostar em novas empresas, com investimentos de pequena dimensão (100-300 mil euros), em qualquer sector de actividade, tendo preferência por projectos pouco intensivos em I&D (time-to-market inferior a 1 ano) e com alguma componente diferenciadora, rejeitando assim projectos pouco inovadores e/ou financiáveis pela banca (restauração, pequeno comércio, etc.).

A fórmula de entrada no capital social das novas empresas implicava a não exigência de garantias reais, numa lógica de sociedade com o promotor, tomando entre 25% e 40% do capital social, procurando maximizar a taxa de sucesso dos projectos (sem prejuízo da rentabilidade do fundo) de forma a assegurar a efectiva criação de emprego.

O caminho percorrido

Ao longo da sua existência, a Sociedade, e perante a falta de oportunidades de investimento enquadráveis nos critérios do Fundo, procurou identificar diferentes meios, acções e instrumentos para conseguir alargar a sua visibilidade e, dessa forma, promover novas candidaturas. Dessas acções destacamos:

– Diversas campanhas de comunicação realizadas em parceria com os investidores do Fundo, a presença regular na comunicação da ACEGE, conferências e campanhas on-line.

– Participação e interacção com diferentes concursos de empreendedorismo, incubadoras de empresas e programas de aceleração de ideias;

– Contacto regular com fundos de investimento e business angels na procura de oportunidades comuns;

– Desenvolvimento do conceito de “promotores sem capital”, associando a novas empresas tecnológicas com forte potencial de crescimento, na sua maioria com produtos inovadores em fase final de desenvolvimento, gestores desempregados que pudessem trazer competências de gestão e capacidade comercial.

[quote_center]A missão do Fundo Bem Comum foi alargada ao investimento em projectos de empreendedorismo e impacto social, potenciando a concretização de uma missão social de luta contra a pobreza e pela dignidade humana[/quote_center]

Na mesma linha de procura de novos projectos, e com total apoio dos participantes no Fundo, procurámos, sem diminuir a exigência económica e o enquadramento nos critérios base, alargar alguns dos critérios de investimento de forma a aumentar a possibilidade de novas candidaturas, nomeadamente, diminuindo a idade do promotor para 35 anos e deixando de exigir que o promotor fosse o fundador da empresa, podendo assim integrar uma empresa com outros promotores, ganhando capacidade e tracção para o investimento.

A sociedade foi capaz de atrair um elevado número de solicitações, cerca de 900 ao longo destes anos, dos quais foram analisados 271 projetos pela equipa de gestão e 120 pelo Conselho, mas a verdade é que a execução foi muito limitada, tendo sido concretizados seis investimentos.

Uma realidade que demostrou que o grupo alvo identificado para este Fundo – desempregados seniores com experiência relevante de vida – era um pouco limitado e/ou as suas características de elevada aversão ao risco e dificuldade de assumir a passagem de empregado a empregador limitaram fortemente a decisão de arriscar o investimento num novo projecto.

Em face desta realidade, a equipa de Gestão da Sociedade Gestora concluiu que faria sentido analisar caminhos alternativos, e em particular estudar a hipótese de alargar a missão do Fundo Bem Comum, introduzindo a possibilidade de investimento em projectos de empreendedorismo e impacto social desenvolvidos por organizações ou empresas, potenciando desta forma a concretização de uma missão social de luta contra a pobreza e pela dignidade humana que levou à constituição do Fundo.

É nesta nova fase da sua vida, e com uma abordagem mista – uma forte aposta no apoio ao emprego sénior combinada com uma aposta nos projectos de empreendedorismo social – que a Bem Comum pretende continuar a deixar a sua marca de originalidade no universo do private equity em Portugal, procurando através desta ferramenta atingir o seu verdadeiro objetivo: contribuir para o Bem Comum!

Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Gestora Bem Comum