No IAPMEI, procuramos identificar as reais necessidades das empresas e responder com a disponibilização de produtos/soluções úteis para o reforço da sua capacidade de interpretação dos mercados e, em consequência, da definição de estratégias empresariais mais competitivas e, mais sustentáveis. É neste sentido que o programa AconteSER, liderado pela ACEGE, nos pareceu particularmente interessante e oportuno
POR LUÍS FILIPE COSTA

Atravessamos um período adverso e exigente para toda a sociedade europeia e, muito em especial, para a sociedade portuguesa. Esta situação faz um apelo adicional a determinadas alterações nos comportamentos, nas responsabilidades e nas expectativas de desempenho dos diversos agentes económicos.

Nestas circunstâncias, é importante reconhecer que as empresas em geral e, muito em particular, as PME, têm sido protagonistas de uma dinâmica de resistência, senão mesmo de controlo e superação de um pesado conjunto de adversidades. Entre estas, impõe-se, desde logo, a referência à falta de liquidez da economia e às dificuldades acrescidas no acesso ao crédito, aliadas à forte contracção dos mercados, nomeadamente do mercado interno e, às expressivas quebras verificadas na actividade económica em geral.

A situação actual revela ainda características específicas, algumas das quais inéditas, que apelam a uma maior ousadia, mais determinação mas, também, a um maior sentido de responsabilidade social na definição das estratégias empresariais e nas práticas de negócio.

A ausência de pontualidade nos pagamentos manifesta-se, com intensidades variáveis, um pouco por toda a Europa, mas assume uma expressão particularmente significativa em Portugal. Trata-se, como é amplamente reconhecido, de uma “má-prática” que introduz fortes condicionantes ao desempenho da economia, com consequências evidentes ao nível da reputação e da qualidade do ambiente de negócios mas, também, ao nível da riqueza criada, do emprego e da produtividade.

Assim e, em alinhamento com as preocupações europeias neste domínio, Portugal concluiu, por decisão do Conselho de Ministros do passado dia 26 de Abril, a transposição da directiva comunitária que estabelece medidas contra os atrasos de pagamento nas transacções comerciais, em vigor desde 1 de Julho do ano corrente.

Sendo naturalmente importante dispor de um quadro regulamentar preciso e harmonizado em todo o espaço europeu, há que reconhecer que o mais importante, nesta fase, será assegurar uma ampla divulgação deste novo quadro, aproveitando a oportunidade para aumentar a sensibilização de todas as partes envolvidas nestes processos para o impacte positivo que uma cultura de respeito pelos prazos de pagamentos introduz na competitividade da economia, no crescimento e no emprego.

É neste sentido que o programa AconteSER, liderado pela ACEGE, nos pareceu particularmente interessante e oportuno. Trata-se de uma iniciativa que assume como principal objectivo a melhoria da competitividade das micro, pequenas e médias empresas nacionais e que define três compromissos fundamentais: pagar a horas aos fornecedores, ter em especial atenção o projecto de vida dos colaboradores e promover as condições necessárias para um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Reconhecemos, neste programa, um alinhamento com a nossa missão, em especial no que respeita à intervenção destinada ao reforço das capacidades endógenas das empresas. No IAPMEI, procuramos identificar as reais necessidades das empresas e responder com a disponibilização de produtos/soluções úteis para o reforço da sua capacidade de interpretação dos mercados e, em consequência, da definição de estratégias empresariais mais competitivas e, mais sustentáveis. Neste caso, acreditamos que “competitividade” e “estratégias de desenvolvimento sustentáveis” são conceitos indissociáveis que incorporam um relevante vector de responsabilidade social.

Por outro lado, apostamos em modelos de intervenção que valorizam formatos de parceria com os actores mais relevantes da envolvente empresarial. É neste contexto que valorizamos a participação no programa. Esta participação traduz uma actuação pró-activa e concertada, numa lógica de valorização de sinergias, que contribui para minimizar as falhas de mercado e para acelerar as dinâmicas positivas emergentes na sociedade.

As empresas sabem que precisam de se afirmar de forma distintiva e inovadora nos mercados em que se inserem. Acreditamos por isso que, perante uma situação tão exigente como a actual, saberão reconhecer as práticas socialmente responsáveis como elementos de um desempenho diferenciador e (ainda) inovador, capaz de contribuir para uma notoriedade mais positiva junto do mercado e para um acréscimo da sua competitividade. Todos sabemos como estes factores diferenciadores são importantes para as empresas que actuam (ou que pretendem actuar) nos mercados externos mais exigentes e sofisticados e, sobretudo, mais atentos ao impacte da actividade dos seus fornecedores numa sociedade mais equilibrada e sustentável.

É precisamente na linha de valorizar os ganhos de reputação e de aumentar a notoriedade que se insere a promoção do “Compromisso Pagamento Pontual” agora em destaque. No IAPMEI também acreditamos que a promoção de boas práticas é mais eficaz quando associada a mecanismos de distinção e de reconhecimento social, amplificando os seus efeitos demonstradores. Da mesma forma, mecanismos que promovam a projecção pública dos compromissos de responsabilidade social assumidos pelas empresas podem funcionar como poderosos indutores de dinâmicas de mobilização e de adesão, sobretudo por parte das empresas de menor dimensão. Na realidade, quando a diferenciação no mercado se joga (também) ao nível das boas práticas e da reputação, os aspectos relacionados com a comunicação e com a percepção pública dessas boas práticas, assumem uma importância decisiva. É neste contexto muito interessante a iniciativa de promover a adesão ao “Compromisso Pagamento Pontual” e de investir na divulgação dos aderentes. Sabendo que as empresas de menor dimensão têm, em geral, menor disponibilidade de recursos para afectar a políticas “agressivas” de divulgação das suas boas práticas, é possível admitir que serão as que mais podem beneficiar da associação a esta forma colectiva de valorização de uma imagem reforçada no domínio do pagamento pontual.

A prática generalizada de incumprimento dos prazos de pagamento tende a gerar um ciclo vicioso que compromete a sustentabilidade e, mesmo, a sobrevivência de muitas PME. Todos acreditamos nos benefícios da inversão desta situação pelo que importa agir em conformidade. Com o envolvimento do IAPMEI neste programa, queremos afirmar o nosso contributo para uma ampla adesão das PME e para uma rápida correcção desta situação.

Presidente do Conselho Directo do IAPMEI