O nosso modo de vida normal foi interrompido por causa da pandemia da COVID-19. Isto também se aplica à atividade económica, uma vez que os governos fecharam as economias para conter a propagação do vírus e ajudar os seus sistemas de saúde a lidar com o súbito surto em doentes críticos. Esta crise está a desafiar os sistemas e estruturas existentes, lançando as sementes para novas mudanças futuras. O surto de coronavírus de 2020 é, provavelmente, visto como um ponto de viragem nas nossas vidas e no nosso pensamento
POR NANNETTE HECHLER-FAYD’HERBE e DANIEL RUPLI

Num ano excecionalmente positivo para os mercados acionistas mundiais em 2019, o desempenho superior dos temas de investimento a longo prazo identificados nas Supertrends do Credit Suisse, forneceu mais provas de que as tendências sociais que abordam continuam a ser altamente relevantes.

Este ano, a tendência “Sociedades enraivecidas” evoluiu para “Sociedades ansiosas”, uma vez que o descontentamento popular é cada vez mais direcionado para as desigualdades e outras questões a nível interno. O tema “Tecnologia ao serviço do homem” centra-se na computação de ponta como complemento da computação em nuvem num mundo cada vez mais digitalizado. A tendência das “Infraestruturas” tem um novo subtema “Cidades Inteligentes”, que analisa os desafios de infraestruturas que os centros urbanos em rápido crescimento enfrentam.

A supertrend “Economia Silver” tem um novo foco nos mercados emergentes, que albergam uma população sénior em rápido crescimento, mas continuam a ter poucos recursos em termos de prestação de cuidados de saúde e seguros. O tema “Valores dos Millennials” analisa a forma como estes estão a conduzir o consumo responsável. Foi lançada uma nova sexta super-tendência, “Alterações Climáticas – Descarbonizar a economia”, que se centra em sectores que podem desempenhar um papel fundamental na descarbonização do crescimento económico nos próximos anos.

Sociedades Ansiosas – Capitalismo inclusivo

Na altura do lançamento da supertrend “Sociedades Enraivecidas”, há alguns anos, uma classe média descontente abalava a política em muitos países desenvolvidos, levando ao aumento do populismo político e do protecionismo num mundo cada vez mais multipolar. Três anos mais tarde, a raiva está a ceder à ansiedade. Confrontados com a pandemia do coronavírus, os governos e as empresas enfrentam um momento único de responsabilidade social. Os investidores podem desempenhar e desempenharão um papel cada vez mais importante na viabilização de soluções que respondam às principais preocupações dos cidadãos de todo o mundo, incluindo a desigualdade, a rápida evolução dos ambientes de trabalho, o financiamento da terceira idade, a acessibilidade dos preços da habitação, os cuidados de saúde e a educação. Chegou o momento de um capitalismo inclusivo.

Infraestruturas – Colmatar o fosso

As ações de infraestruturas tendem a oferecer rendimentos de dividendos sólidos, o que as torna atrativas na medida em que os investidores lutam para gerar retornos no meio de taxas de juro baixas ou mesmo negativas em muitas partes do mundo. Este ambiente de taxas de juro baixas ou negativas, que auxilia o processo de aprovação de novos projetos, deverá continuar a ser um obstáculo para esta supertrend nos próximos meses. Separadamente, as preocupações com as alterações climáticas estão a criar poderosos catalisadores regulamentares e políticos dentro do espaço das infraestruturas. Finalmente, o nosso novo subtema “Cidades inteligentes” centra-se nos desafios infraestruturais que se colocam aos centros urbanos em rápido crescimento, incluindo os novos desafios revelados durante a pandemia do coronavírus.

Tecnologia ao serviço do ser humano

Há muitas razões pelas quais as empresas continuam a investir na sua transformação digital, tais como a adaptação mais rápida à evolução das necessidades dos clientes, o aumento da eficiência operacional e o aumento da rentabilidade. A pandemia de coronavírus descobriu muitas novas razões para aumentar ainda mais o investimento na digitalização. O aumento da mobilidade, processos automatizados em tempo real (edge computing) e a educação e entretenimento em casa são apenas alguns deles.

Economia Silver – Investir no envelhecimento da população

No centro desta Supertrend está a projeção de que a população sénior mundial irá duplicar para mais de dois mil milhões até 2050. Esta evolução deverá prosseguir independentemente do estado da economia mundial ou dos acontecimentos políticos, criando necessidades associadas ao envelhecimento da população nos cuidados de saúde, nas soluções de seguros e de financiamento e nos mercados de consumo e imobiliário. Olhando para o futuro, faz sentido concentrarmo-nos nos mercados emergentes, dado que dois terços do número incremental de idosos viverão nesse grupo de países, que continuam a ter poucos recursos tanto no fornecimento de cuidados de saúde, como em soluções de seguros públicos e privados.

Valores dos Millennials

A sustentabilidade tem sido um subtema chave da supertrend “Valores dos Millennials” desde o seu lançamento. Enquanto os veganos continuam a ser uma pequena minoria nos países desenvolvidos, as Geração Y e Z são mais propensas a adotar uma dieta vegetal ou vegetariana devido a preocupações com o ambiente e a saúde. As suas preferências alimentares em evolução estão a influenciar a sociedade em geral, impulsionando as vendas de alternativas à carne e aos lacticínios. Agora, mesmo as bem conhecidas cadeias de fast-food estão a testar nas suas ementas carne e hambúrgueres à base de plantas. Os Millennials estão também a assumir a liderança noutras áreas, incluindo os serviços por subscrição.

Alterações climáticas – descarbonizar a economia

O aquecimento global causou grandes perturbações nos padrões meteorológicos e as condições extremas parecem estar a tornar-se a nova norma. A Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas estima que, se não alterarmos a forma como consumimos e produzimos a nível mundial, é provável que as temperaturas globais aumentem de 3 a5 °C até ao final de 2100. À luz destas perspetivas, os governos de todo o mundo intensificaram os esforços para combater as alterações climáticas e iniciaram estratégias de transição energética para alcançar os objetivos estabelecidos no âmbito do Acordo de Paris de 2015.

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Nannette Hechler-Fayd’herbe, Chief Investment Officer for International Wealth Management (IWM) and Global Head Economics & Research. Daniel Rupli, Head of single security research, equity and credit no Credit Suisse.