Estes são, entre outros, dois objectivos que Rolando Medeiros pretende ver concretizados no XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC, a organização a que preside e que juntará líderes empresariais, académicos e religiosos em Lisboa no próximo mês de Novembro. Sob o mote “a actividade empresarial é uma vocação nobre”, a União Internacional de Empresários e Gestores Cristãos, em conjunto com a ACEGE, que co-organiza o evento, pretende convidar os participantes a “uma transformação pessoal” que lhes permitirá alcançar um propósito maior nas suas vidas e que os capacitará a trabalhar no sentido de uma economia que serve as pessoas, e não o seu contrário. Em entrevista, o presidente da UNIAPAC fala sobre os “bastidores” deste evento internacional
POR HELENA OLIVEIRA

A UNIAPAC está presente em 38 países e conta já com décadas de história. Este será o primeiro congresso sob o seu mandato. Quais são as suas maiores expectativas para a vinda de centenas de líderes de todo o mundo prestes a reunirem-se em Lisboa?

Só o facto de centenas de líderes de negócio, provenientes de todos os cantos do mundo e com backgrounds distintos, se irem encontrar para trocar experiências diversas com o objectivo de ganhar uma melhor compreensão do seu papel crítico enquanto agentes sociais de mudança que contribuem para a transformação da sociedade num mundo melhor e que estão dispostos a ser inspirados e “tocados”, não só pelos seus pares, mas também por oradores de renome e painelistas de Igrejas Cristãs e do mundo académico, os quais os irão ajudar na sua cruzada de ultrapassarem a divisão entre a sua fé e as suas actividades diárias, desafios e decisões é, por si só, muito encorajador. Assim, a minha maior expectativa relativamente ao XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC é que este se torne num lugar de encontro, de partilha e aprendizagem para cada um e para todos os presentes e participantes activos.

“Os elementos principais a serem discutidos neste congresso têm como base a convicção de que o trabalho de um gestor é uma vocação, e uma vocação nobre, que funciona como um desafio pessoal para se encontrar um novo significado para a vida e para o trabalho”, escreve na nota introdutória do congresso. Num mundo repleto de desafios complexos e globais, com as desigualdades a aumentarem e onde os mercados ainda “lideram” a forma como as empresas se devem comportar para serem lucrativas, o que devem fazer os líderes empresariais para abraçarem esta “transformação pessoal, a disseminarem por todos os seus stakeholders e continuarem a gerar lucro nas suas organizações?

Ao abordar esta questão importantíssima é necessário perceber, em primeiro lugar, que o lucro é um resultado, uma consequência: é simplesmente uma indicação de que um negócio está a funcionar porque os factores produtivos estão a ser adequadamente empregues e que as necessidades humanas correspondentes estão ser devidamente satisfeitas. Consequentemente, o lucro não é um fim em si mesmo mas um meio que permite a sustentabilidade de longo prazo da empresa ao identificar, o mais cedo possível, causas profundas – incluindo os factores humanos e morais – que a afectam, as quais são pelo menos de igual importância [face às demais] para a vida do negócio.

A transformação pessoal dos líderes de negócio que a UNIAPAC está a promover está relacionada com esta perspectiva de longo prazo, fazendo-os entender que o propósito do negócio não é simplesmente o de gerar lucros a qualquer custo e de imediato; e tem a ver igualmente com a ideia de que uma empresa é principalmente uma comunidade de pessoas que interage com pessoas reunidas em várias outras comunidades, as quais constituem os seus stakeholders.

Por outro lado, é necessário compreender, de forma mais significativa, o que é o “sucesso” do negócio: ou seja, é uma empresa que é constituída por membros totalmente motivados e comprometidos e que encontram uma fonte de prosperidade no local de trabalho; que conta com clientes leais e fornecedores que valorizam os benefícios mútuos de longo prazo que derivam do relacionamento também de longo prazo que os acompanha; com comunidades que consideram a empresa como uma boa cidadã corporativa, social e ambientalmente responsável; com investidores e/ou accionistas dispostos a arriscar os seus recursos financeiros neste mesmo projecto sustentável de longo prazo. Por fim, essa mesma empresa não só é sustentável, como também significativamente lucrativa.

Trazer líderes empresariais, académicos reconhecidos e representantes da Igreja para debaterem em conjunto os “caminhos” que poderão conduzir a uma organização mais humana, e escutar testemunhos ricos de pessoas que realmente transformaram o mundo mudando-se a si mesmos em primeiro lugar, consiste no objectivo principal do congresso. Quais foram as principais premissas que estiveram na base da escolha dos temas não só dos diferentes painéis, como também dos oradores que virão partilhar as suas visões e histórias pessoais com a audiência?

Os temas dos painéis foram fundamentados e inspirados pela definição adoptada por nós de que a gestão de uma empresa pode ser uma vocação nobre: “A actividade empresarial é uma vocação, e uma vocação nobre, que implica que os que nela estão envolvidos se sintam desafiados por um propósito maior nas suas vidas; e que tal os capacite a servirem, verdadeiramente, o bem comum, empenhando-se em aumentar os bens deste mundo e tornando-os mais acessíveis a todos”.

Nesta definição, distinguem-se três pilares por excelência: a transformação do líder empresarial, a construção de culturas organizacionais mais humanas e a forma como as empresas devem servir o bem comum.

Desta forma, os painéis do congresso debaterão as seguintes temáticas: “Uma transformação pessoal para assumir o negócio como um chamamento”; “Promover a inclusão nas empresas”; “Inspirar uma performance de negócio baseada em princípios”; “Incentivar as empresas com impacto no bem comum” e “Abordar os desafios do futuro do trabalho”.

A escolha das pessoas para cada um dos painéis derivou – e para além dos seus princípios e valores e dos níveis exigidos de aptidões e conhecimento – de dois princípios orientadores: a diversidade e a inclusão, com vista a uma representação alargada das diferentes geografias mundiais (África, Ásia, Europa e Américas), o seu background (líderes empresariais, académicos e representantes da Igreja), idade (desde jovens adultos a seniores), sexo (oradoras e oradores) e religião (apesar de a maioria professar a fé cristã).

A UNIAPAC junta na actualidade Associações de Líderes Empresariais Cristãos da Europa, América Latina, África e Ásia, congregando mais de 45 mil executivos de todo o mundo e que trabalham em sectores líderes da economia. Com uma heterogeneidade significativa entre os continentes, países, economias e respectivos estados de desenvolvimento, qual é a “cola” que mantém todos estes membros em conjunto?

Todas as associações internacionais, nacionais, regionais e locais da UNIAPAC partilham o objectivo de promover, entre os líderes empresariais, a visão e implementação de uma economia que serve as pessoas e não o seu contrário; uma missão que consiste na transformação das empresas que lideram para que estas contribuam verdadeiramente para a construção de uma sociedade mais humana e justa e para a promoção de um modelo de negócio que procure colocar os princípios e valores da nossa fé cristã no centro do negócio.

Todos partilhamos a convicção de que o desenvolvimento integral é um ponto fulcral na forma como os líderes empresariais se envolvem na comunidade para promoverem a dignidade humana e o bem comum. A nossa Visão do Futuro partilhada é a de sermos reconhecidos devido à nossa promoção singular da gestão enquanto uma nobre vocação.

E ao avaliarmos os gapsque possam existir nesta mesma Visão do Futuro, definimos planos de acção específicos que os possam “fechar” de acordo com cada circunstância em particular, grau de desenvolvimento, condição financeira, capacidades, etc., sem esquecer que as iniciativas de cada associação podem ser úteis para outras tantas que possam estar a enfrentar desafios similares.

Assim, partilhar sucessos e fracassos, bem como programas e actividades, entre as diversas associações é essencial – sendo também a nossa esperança – para transformar a heterogeneidade existente entre continentes, economias e fases de desenvolvimento em benefícios sinergéticos virtuosos.

Porquê a decisão de realizar este congresso mundial em Lisboa e em colaboração com a ACEGE?

Os elementos principais subjacentes à decisão de organizarmos este congresso mundial em Lisboa e em colaboração com a ACEGE residem no elevado nível de compromisso e motivação da sua equipa de liderança, em conjunto com o fervor e convicção demonstrados pelos seus associados ao assumirem a sua missão, a qual é totalmente consistente com a da UNIAPAC.

Complementarmente, a ACEGE é uma associação muito bem estruturada e com excelentes competências e, por isso, capaz de apoiar e envolver-se com sucesso nos muitos desafios que envolvem a organização de um congresso com esta magnitude. Por último, Lisboa é também reconhecida como uma cidade global de nível-alfa pelo Globalization and World Cities Study Group devido à sua importância financeira, em termos de comércio, media, entretenimento, arte, comércio internacional, educação e turismo; assim e consequentemente, é o local perfeito para um congresso mundial como o nosso. E também convém não esquecer que Lisboa é uma das mais bonitas e antigas cidades do mundo, repleta de história e de vida cultural, o que definitivamente irá contribuir para uma estadia de três dias produtiva e muito agradável.

Que tipo de mensagem gostaria de partilhar com os nossos leitores e com os associados da ACEGE, convidando-os a participar neste evento mundial?

Este congresso oferece uma oportunidade única para um discernimento profundo sobre o papel principal que um líder empresarial é chamado a desenvolver na sociedade da actualidade. Se Deus nos dota com competências empresariais, aptidões, conhecimento e capacidades de liderança, temos de as transformar em forças para um bem maior, num mundo em que nos vemos a servir os outros, e a Deus, nas nossas vidas profissionais.

Se considera estar seriamente disposto a fazer esta viagem permitindo ser desafiado para encontrar um maior propósito na vida e, dessa forma, ficar receptivo a adoptar uma visão alargada do seu papel de liderança, transcendendo a busca pelo lucro de curto prazo, para se transformar num construtor do bem comum e um promotor de um novo humanismo no trabalho, então não pode perder o XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC, em Lisboa, Portugal, de 22 a 24 de Novembro próximo.

Editora Executiva