Não vêm pelas paisagens nem pelas praias, nem sequer pela nossa conceituada gastronomia. Vêm à procura de um refúgio. E um refúgio é, essencialmente, um local seguro, livre de perigo, onde subsiste a paz.
POR PEDRO FURTADO DE MENDONÇA

Em Portugal acompanhamos a guerra na Ucrânia com especial proximidade geográfica e cultural. Uma guerra tão perto num País não assim tão diferente do nosso.

Talvez também por esta razão, a solidariedade dos portugueses e a mobilização da sociedade civil tem sido admirável. Somos muitos os que têm vontade de ajudar. Todos recebemos vários apelos de campanhas para recolha de bens, todos conhecemos alguém que partiu para as fronteiras para apoiar os que fogem da guerra e todos ouvimos falar de grupos que se organizaram para resgatar pessoas ucranianas e trazê-las para Portugal.

Os últimos números confirmam que já são quase 4 milhões os ucranianos que se viram obrigados a fugir das suas casas, a abandonar as suas vidas. Em resposta a esta tremenda crise humanitária, de Norte a Sul do País estamos a preparar-nos para receber e integrar as famílias ucranianas, sobretudo mulheres e crianças, que procuram refúgio em Portugal.

Mas do que vêm estas pessoas à procura no nosso País?

Não vêm pelas paisagens nem pelas praias, nem sequer pela nossa conceituada gastronomia. Vêm à procura de um refúgio. E um refúgio é, essencialmente, um local seguro, livre de perigo, onde subsiste a paz.

Se as imagens na televisão chocam, os testemunhos dos que fugiram da Ucrânia fazem-nos tremer. Ouvir na primeira pessoa as histórias das vidas deixadas para trás interpela-nos a encarar a paz de outra forma.

O Global Peace Index é o relatório anual publicado pelo Instituto para a Economia e Paz, uma organização internacional que se dedica à pesquisa e ao estudo da Paz em todo o Mundo. Através da análise de 23 indicadores que incidem sobre os conflitos domésticos e internacionais, a segurança social (na sociedade) e a militarização, quantifica-se o nível de Paz de 163 países. Em 2021, Portugal ficou no 4º lugar do ranking, apenas atrás da Islândia, da Nova Zelândia e da Dinamarca. Já a Ucrânia figurava em destaque pela maior subida, avançando 6 posições.

À exceção dos que ainda viveram as guerras do século XX, talvez nunca tenhamos pensado a sério sobre o valor da paz e da segurança. Mas como vemos e ouvimos agora, a paz é, na verdade, muito frágil e instável. Não podemos dá-la por garantida.

Para manter a paz é preciso combater a guerra, a violência, a discórdia e os extremismos. Para acolher a paz é preciso promover a cultura do diálogo e do encontro, fortalecer a amizade e a moderação.

Neste tempo de guerra, nem todos podemos ir para as fronteiras, nem todos podemos acolher refugiados em casa mas todos podemos acolher a paz. Em tempo de guerra, ser refúgio é acolher a paz.

Pedro Furtado de Mendonça

Pedro Furtado de Mendonça nasceu em Lisboa em 1996. Estudou Gestão na Nova SBE, ontem também foi Professor Assistente de Comunicação, Liderança e Ética. Actualmente trabalha na Câmara Municipal de Lisboa.