Competitividade, liderança e responsabilidade social: pontualidade nos pagamentos!
Apesar do contexto de maior incerteza e das dificuldades acrescidas que agora dominam a agenda nacional, sabemos que Portugal precisa não só de superar esta crise, como também de emergir em condições que lhe permitam crescer mais, melhor e mais depressa.

POR LUÍS FILIPE COSTA

Portugal precisa de assegurar definitivamente uma trajectória de convergência real com os países mais desenvolvidos da União Europeia e, sobretudo, de estar preparado para acompanhar o processo de retoma de níveis de crescimento mais expressivos e ambiciosos. Contudo, sabemos que só será possível cumprir esta ambição através de um aumento significativo e sustentado da produtividade e da competitividade da economia portuguesa.

Vivemos hoje num contexto especialmente difícil no que respeita às condições de financiamento da economia onde as tradicionais desvantagens das PME no acesso ao financiamento tendem a agravar-se. Esta circunstância traduz-se, inevitavelmente, numa penalização adicional ao seu esforço de desenvolvimento ou consolidação. Mas, seria um erro pensar que, sem resolver a macro questão do acesso ao financiamento, pouco ou nada se pode fazer.

É nesta perspectiva que se configuram as duas grandes prioridades que inspiram o foco das políticas públicas empresariais: dinamizar a inovação e aumentar as exportações.

A experiência diz-nos que a melhor resposta no apoio aos grandes desafios que ameaçam, sobretudo, as empresas de mais pequena dimensão, deve ser encontrada através de iniciativas abrangentes, flexíveis e mobilizadoras de toda a sociedade. É certamente importante que estas iniciativas captem o envolvimento das empresas a que se destinam mas, por questões de eficácia e eficiência, devem também assegurar a participação das suas diversas instituições de suporte.

Assim, no âmbito da sua missão como agência pública de suporte às PME e à inovação, o IAPMEI procura identificar as reais necessidades das empresas e responder com a disponibilização de produtos/soluções úteis para o reforço da sua capacidade de interpretação dos mercados e, em consequência, da definição de estratégias empresariais mais competitivas e, a prazo, mais sustentáveis.
Por outro lado e, em regra, apostamos em modelos de intervenção que valorizam formatos de parceria com os actores mais relevantes da envolvente empresarial.

Neste caso, a colaboração no projecto AconteSer traduz um exemplo de uma actuação pró-activa e concertada, numa lógica de valorização de sinergias, que contribui não só para minimizar as falhas de mercado, como também para acelerar as dinâmicas positivas emergentes na sociedade.

O projecto AconteSer apresenta como principal objectivo a melhoria da competitividade das micro, pequenas e médias empresas nacionais e define, desde logo, três compromissos fundamentais: pagar a horas aos fornecedores, ter em especial atenção o projecto de vida dos colaboradores e promover as condições necessárias para um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Estes compromissos surgem, claramente, alinhados com o trabalho diário que realizamos no sentido de promover a Responsabilidade Social como um dos vectores da inovação, da competitividade e da sustentabilidade das estratégias de desenvolvimento empresarial. A esta vertente acresce ainda, pela sua relevância, a atenção conferida aos processos de reforço das capacidades endógenas das empresas de uma forma cada vez mais consistente e qualificada.

Pela sua dimensão e acrescido impacto nas actuais circunstâncias de mercado, quero destacar a abordagem à promoção da pontualidade nos pagamentos. Desde logo é de salientar a oportunidade que o projecto proporciona para uma ampla divulgação dos resultados do estudo recentemente realizado no âmbito do projecto [sob a coordenação da Augusto Mateus e Associados]para caracterização da situação e quantificação dos principais impactos da prática corrente de incumprimento nos prazos de pagamento.

Será, certamente, mais difícil ficar indiferente e insistir na prática de atrasar os pagamentos muito para além do razoável, quando se é confrontado com informação quantificada do tipo: “a prática de incumprimento dos prazos de pagamento em Portugal destrói anualmente catorze mil postos de trabalho (…) Portugal, perde por ano, cerca de seiscentos milhões de euros, equivalentes a 0,4% do PIB, já que circulam com atraso, entre as empresas, montantes da ordem dos 48 mil milhões de euros”.

Tal como consagrado no Memorando da “Troika”, todos concordamos que é essencial e urgente acabar com esta via de destruição de riqueza e de emprego, restaurando uma lógica de respeito pelo efectivo cumprimento dos prazos previstos para os pagamentos entre os diversos actores do mercado. O referido estudo apresenta várias sugestões para solucionar este problema. Uma das soluções referidas é manifestamente mobilizadora e passa “apenas” pela necessidade de mudança na atitude dos gestores e líderes empresariais.

Nesta matéria, pela metodologia e configuração que apresenta, o projecto AconteSer contribui para promover esse movimento de sensibilização e de mudança de atitudes. Contribui também para consolidar, nos actuais líderes e gestores, uma visão mais responsável e inovadora, nomeadamente, através da proposta de vinculação ao compromisso com as boas práticas de mercado, da proposta de adesão a um “código de conduta” específico e de um amplo processo de divulgação de diversas ferramentas de apoio à gestão.

Para além dos benefícios financeiros óbvios e imediatos, temos ainda a percepção da relevância do impacto (da regularização nos prazos de pagamento) na qualidade das estratégias empresariais.

É cada vez mais consensual reconhecer que a qualidade das estratégias empresariais e as suas probabilidades de sucesso estão directamente relacionadas com a capacidade de desenvolver bens (ou serviços) de características inovadoras e alto valor acrescentado. É, também, cada vez mais evidente a percepção de que os valores associados à “Responsabilidade Social” corporativa devem ser devidamente incorporados nestas estratégias empresariais – inovadoras e competitivas – sob pena de se comprometerem os resultados esperados.

As práticas socialmente responsáveis são sempre desempenhos diferenciadores que contribuem para uma notoriedade mais positiva junto do mercado e para o acréscimo de competitividade das empresas. São sobretudo indispensáveis para aquelas que actuam (ou que pretendam actuar) nos mercados externos mais sofisticados e mais atentos ao impacto da actividade dos seus fornecedores numa sociedade mais equilibrada e sustentável.

É justo referir que, em termos gerais, ao longo dos últimos anos, temos registado alguns progressos nesta matéria. Estes progressos traduzem-se, sobretudo, no aumento do número de empresas que – em Portugal – aderem, monitorizam e reportam as suas boas práticas de “Responsabilidade Social”. Mas, a verdade é que a grande maioria das Pequenas e Médias Empresas permanece pouco sensibilizada e exibe défices de aderência muito significativos. Sabemos que, para as empresas de menor dimensão, esta circunstância está normalmente associada à fragilidade dos seus modelos de negócio, às competências de gestão disponíveis e a diversas lacunas em matéria de informação/conhecimento.

Esta situação traduz-se numa vulnerabilidade acrescida para este tipo de empresas e apela ao desenvolvimento de acções que contribuam para uma melhor apropriação das diversas dimensões da sustentabilidade e para uma consequente definição de estratégias de desenvolvimento mais competitivas e sustentáveis.

A nossa experiência confirma a necessidade de se continuar a investir recursos e conhecimento para ampliar a base de empresas portuguesas que se mostram sensíveis a estes temas. Valorizamos, por isso, a disponibilidade de metodologias e instrumentos que permitam às PME adoptar e desenvolver processos e práticas de responsabilidade social.

Estou certo que a metodologia, o esforço e o empenho colocados na dinamização do projecto AconteSer asseguram, para além de um efeito demonstrador significativo, um forte contributo para acelerar o processo de generalização de uma liderança bem mais informada, responsável, inovadora e competitiva.

Presidente do Conselho Directo do IAPMEI