Enquanto agentes cada vez mais influentes na sociedade, que principais reptos se colocam às empresas neste novo ano? Da presença crescentemente ubíqua da inteligência artificial nos locais de trabalho, à importância cada vez maior das questões de diversidade e inclusão, passando pela reformulação dos curricula das escolas de negócios que melhor vão de encontro às necessidades desta nova era, seguem-se 10 previsões que, ao que tudo indica, marcarão a intersecção entre empresas e sociedade no ano que agora começa
POR HELENA OLIVEIRA

Os executivos de topo e académicos reconhecidos que fazem parte do Programa Negócios e Sociedade do Aspen Institute, um fórum independente assente na liderança através dos valores, avançaram com 17 previsões sobre fenómenos que, na sua opinião, irão muito provavelmente ser uma realidade em 2019 no que respeita à intersecção entre o universo da gestão e a sociedade. Assim e com base nas temáticas que mais se coadunam com o que o VER vai escrevendo ao longo do ano, foram escolhidas algumas destas previsões, seguidamente sumarizadas.

A Inteligência Artificial irá, discretamente, deixar uma marca cada vez mais visível nos locais de trabalho

De acordo com Joseph Byrum, Chief Data Scientist do Principal Financial Group, as mais curiosas jogadas no tabuleiro da inteligência artificial serão aquelas menos visíveis para o consumidor. Não serão as Alexas ou os Assistentes do Google embutidos nas televisões ou nas torradeiras, mas sim a utilização da inteligência aumentada (que inclui as novas tecnologias de Realidade Aumentada (RA), Realidade Virtual (RV) e tecnologias activadas por voz) para estimular uma maior produtividade nos processos industriais. Um bom exemplo desta realidade é o facto de em 2018 a American Medical Association ter reconhecido formalmente a capacidade desta inteligência aumentada para ajudar os médicos a melhorar os diagnósticos dos seus pacientes. Este especialista em dados assegura que estas mesmas tecnologias aumentarão a sua presença nos “bastidores” dos serviços financeiros, na logística de transportes e em outras indústrias de grande importância calculando resultados verosímeis, os quais permitirão informar melhor as equipas para que estas tomem as decisões mais acertadas.

As escolas de negócios encontrarão inspiração nos seus valores de base

É um tema que tem vindo a dar que falar nos últimos anos e que coloca em causa o papel das escolas de gestão no que respeita à sua responsabilidade de formar os líderes do futuro num ambiente de incerteza generalizada. De acordo com David Bach, Professor de Práticas de Gestão na Yale School of Management, as escolas de gestão devem muito do seu sucesso ao facto de constituírem “campos de treino” para o mundo dos mercados livres, das sociedades abertas e da integração global. Todavia e como sabemos, cada um destes três pilares está sob ameaça por parte do populismo e do nacionalismo económico ressurgente. Assim, está na altura de as escolas de negócios responderem a esta nova era através da adaptação dos seus curricula para assegurar que os seus alunos estão bem posicionados para trabalhar no sentido de um crescimento inclusivo e sustentável que possa unir as pessoas em vez de as dividir. “Relembrarmo-nos do nosso propósito central permitirá que as escolas de negócios possam ajudar a salvar o mundo – e, ao longo do processo, salvarmo-nos a nós mesmos”, remata o professor.

Os conselhos de administração não regressarão ao status quo

Longe já vão os tempos em que os conselhos de administração dedicavam a maior fatia da sua atenção ao retorno para os accionistas. O propósito está agora na agenda de qualquer executivo que se preze. O aumento da voz dos empregados e a guerra pelo talento – em conjunto com o medo de percepções públicas negativas – ajudarão a manter as questões da diversidade e da inclusão em cima da mesa. Para o Director Associado do Aspen Institute Business & Society Program, Eli Malinsky, “ficar calado” deixou de ser uma opção e os CAs mais eficazes serão aqueles que forem mais rápidos a introduzir novas perspectivas nas suas discussões.

A responsabilização dos senhores de Silicon Valley

Em particular nos últimos dois anos, as percepções relativamente a Silicon Valley passaram de este constituir uma fonte benigna de inovações que mudam o mundo para uma “entidade” maligna e invasiva que rouba o nosso tempo, perturba a nossa saúde mental e ameaça a democracia. Como assegura Jerry Davis, Professor na Michigan Ross School of Business, os accionistas perceberam agora que não têm qualquer poder a mais sobre estas empresas face a qualquer outra pessoa devido às estruturas que oferecem aos fundadores 10 ou mais votos por acção. Para este professor, Mark Zuckerberg poderia, se quisesse, vender o Facebook ao presidente russo Vladimir Putin sem ter de pedir permissão a ninguém. Como também afirma, 2019 será o ano em que os investidores finalmente se juntarão para exigir o fim destes sistemas autoritários e procurar a responsabilização por parte dos senhores do Vale.

Diversidade e Inclusão são obrigatórias nas empresas e os líderes têm de ter essa noção

Em 2019, as empresas irão tentar encontrar formas crescentemente inovadoras para implementar a diversidade e a inclusão. Esta realidade constitui uma continuidade natural daquilo que já foram programas pontuais e que passaram a ser questões mais profundamente consideradas na cultura das empresas. Quem o afirma é Deepa Purushothaman, Gestor Responsável da área de Inclusão da Deloitte, afirmando que uma das grandes questões a ter em consideração consiste na discussão crescente sobre como é que a liderança precisa de evoluir e “parecer diferente” como forma de aumentar a diversidade e apresentar “caras novas” à mesa. Para ir ao encontro destas necessidades, as funções de D&I irão aumentar em termos de importância e visibilidade nas organizações e as empresas que ainda não têm esse tipo de função deverão criá-la.

À medida que a liderança se concentra mais nas questões sociais, as acções dos trabalhadores e dos gestores irão ganhar um novo peso

Para Mary Gentile, criadora e directora do Giving Voice to Values e Professora na Darden School of Business da Universidade de Virginia, se por um lado, e como acredita, o sector público estar a recuar nas questões ambientais, na diversidade e inclusão e nos direitos humanos, as empresas estão, por outro lado, a marcar cada vez mais o seu território. E, neste caso, qualquer contributo é valioso. Dar voz e colocar em prática os valores que se advogam exige a presença de um líder/gestor que tenha as competências certas e um nível elevado de conforto face à mudança e que seja igualmente capaz de escutar e de agir em conformidade.

Afirmar ainda mais a nossa humanidade será uma questão central para o ensino superior

De acordo com Jeffrey Nesteruk, um desafio crucial para o ensino superior em 2019 será a forma de tornarmos a nossa humanidade central para a pedagogia. Para se florescer nos locais de trabalho de amanhã, os estudantes precisam de ser capazes de fazer muito bem aquilo que os robots fazem mal ou não fazem de todo. Assim, questiona o Professor de Estudos Legais no Franklin & Marshall College, como é que se criam comunidades educativas e currículos capazes de oferecerem excelência necessária a disposições e qualidades distintivas dos humanos para que estes tenham uma vida profissional rica? Desde a empatia ao estimular da confiança, passando pelo potenciar do humor e da imaginação, desde a inspiração e criatividade até à promoção da colaboração, e sem esquecer a criação de estratégias e a expressão de sorrisos, estas são as pedagogias que têm de estar no centro do novo modelo educativo.

O novo enfoque para os negócios será a mudança do sistema no qual as empresas operam, não se limitando a fazer produtos e serviços “verdes”

Estamos a entrar na “próxima fase da sustentabilidade empresarial”, a qual está direccionada para criar sustentabilidade em vez de reduzir a insustentabilidade. Esta é a tendência escolhida por Rick Wartzmann da Universidade de Michigan. Por exemplo, já não é suficiente reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, mas sim atingir-se a neutralidade carbónica. O professor de Gestão da Sustentabilidade dá o exemplo da Toyota, cujos planos de descarbonização até 2050 implicam um esforço que só pode ser compensado e atingido se trabalhar com velhos e novos parceiros para alterar o sistema mediante o qual os carros são produzidos, usados, reutilizados e eliminados.

As empresas que não apostarem nos intrapreneurs ficarão para trás

Em 2019, a pressão nas empresas por parte dos investidores e empregados para melhorar a sua performance ambiental, social e de governança será continuamente crescente. E as boas intenções deixarão de ser suficientes. Assim, questiona Nancy McGaw, subdirectora do Business & Society Program, como é que as organizações passarão da teoria à prática? A resposta reside na introdução e apoio a intrapreneurssociais nas suas fileiras. Para este ano, afirma, as empresas que florescerem serão aquelas que estimularem o potencial da sua base de empregados para criar inovações que possam desbloquear o valor social e de negócio.

Os “educadores da gestão” terão de dar ferramentas aos seus alunos para que estes construam uma vida com mais propósito

No seu livro Excellence Without a Soul, Harry Lewis, o anterior reitor do Harvard College, argumenta que as universidades se esqueceram do seu principal propósito, ou seja, ajudar os estudantes “a aprender quem são, a procurarem um propósito maior nas suas vidas e a deixarem a universidade como seres humanos melhores”. O mesmo defende Lynn Wootem, professor de Gestão e Organizações no Cornell SC Johnson College of Business, que argumenta que se os educadores na área dos negócios se comprometerem com este chamamento, há então que investir as energias na concepção e oferta de experiências de aprendizagem que vão mais além dos curricula tradicionais e que se concentrem em propósitos maiores de aprendizagem ao longo da vida, de autodescoberta, de bem-estar, de envolvimento cívico e de carreiras com significado. Tudo isto implicará uma abordagem de aprendizagem integradora que promoverá a capacidade dos estudantes para aprenderem ao longo do tempo e para além dos muros da universidade.

FONTE: Business Leaders Make Their Predictions for 2019

Editora Executiva