O Café Joyeux é a primeira família de cafés-restaurantes solidários e inclusivos, nascida em França, que emprega jovens adultos com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento (tais como a trissomia 21 ou o autismo), com o objetivo de os formar para uma vida autónoma. Em Portugal, já existem dois -um deles no interior de uma grande empresa – e o plano de expansão prevê a abertura de mais cinco até 2026. Estimular naturalmente a inclusão social e profissional destas pessoas incríveis constitui o “prato principal” no menu dos Cafés Joyeux
POR FILIPA PINTO COELHO

Era uma vez um rapaz chamado Theo. Num dia de sol, embarcou numa viagem no catamaran “Voile Solidaire”, em Dinard, França, com um conjunto de empresários e outras pessoas que, como ele, tinham alguma limitação no desenvolvimento cognitivo.

O Theo queria um emprego, algo onde se sentisse útil e feliz. Pediu a um destes empresários por esse trabalho. A resposta foi negativa: “Desculpa, Theo, mas não tenho neste momento um emprego para te oferecer”. O Theo ficou muito triste e zangado durante o resto da viagem, mas, sem saber, fizera nascer, no coração daquele empresário que abordara, de seu nome Yann Bucaille, a semente do que hoje é o Café Joyeux: a primeira família de cafés-restaurantes que tem por missão trazer a diferença para o centro das nossas vidas e das nossas cidades para formar e empregar, em meio comum, jovens-adultos com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento, tais como a trissomia 21 ou as perturbações do espectro do autismo. O primeiro Café Joyeux nasceu em Rennes, em Dezembro de 2017, o segundo em Paris, em Março de 2018, ao que se seguiu um terceiro, um quarto em Bordéus, e hoje são já oito no total naquele país.

Esta é a história do Theo e de tantos outros rapazes e raparigas que, chegando ao momento em que deixam a escola, ficam sem solução de continuidade para os seus sonhos, ambições e vocação. Histórias de vidas, tantas vezes frustradas, de pessoas com muito para dar – a eles mesmos, às suas famílias e a nós, sociedade em geral. Na quase ausência de oportunidades estruturadas de desenvolvimento de autonomia no trabalho em comunidade, adequadas ao potencial e ritmo de cada um, estes jovens são na sua maioria hoje encaminhados para contextos ocupacionais – ou formativos, mas segregados da sociedade. Quem perde? Perdem eles e perdemos nós.

Sou mãe da Carolina, da Marta e do Manuel. O Manuel nasceu há 6 anos. Durante a gravidez veio a notícia de que teria um cromossoma a mais no par 21. O que senti? Medo, estranheza, angústia por cá dentro ter a semente de algo totalmente desconhecido – para mim, para o meu marido João – também pai do Pedro, do Nuno, da Joana e do Francisco – e para a nossa família. Desesperada, mas otimista, vi a luz ao fundo do túnel: se era estranho para nós, como não o ser para a maioria da sociedade em geral? E se é estranho, provoca medo. E se há medo, há rejeição natural. E rejeição equivale a exclusão social.

Estava neste dilema quando recebo um telefonema de uma hoje grande amiga, a Rita, que me incita a integrar um grupo de pais de jovens com dificuldades cognitivas para pensarmos em conjunto num projeto de autonomia para estas pessoas, um sonho há muito alimentado pela mãe, Dra. Eulália Calado, neuropediatra reconhecida no campo da paralisia cerebral. Na altura eu era empresária por conta própria, para ajudar empresas no setor da moda e do luxo a comunicar o que fazem de melhor. O convite caiu como mel na sopa. Na verdade, chamava com cada vez mais força por mim a vontade de desbravar este mundo, saber o que nos esperava, mas também o que pensam estas famílias, quem as acompanha, os responsáveis pelas instituições que os acolhem e, acima de tudo, as pessoas que, como eu, como todos nós, não lidam com a diferença porque ela não nos passa à frente no dia-a-dia.

Estávamos em 2017. Quis então ir conhecer outras realidades europeias para saber como é que noutros países se vivia o problema da exclusão social destas pessoas.

Voltei a Portugal em Outubro com uma certeza e uma inspiração. A certeza: o problema da exclusão social destas pessoas e o abismo entre o mundo dito “normal” e o mundo “diferente” deve-se ao medo do desconhecido – que afinal, era o mesmo em Portugal ou noutros países – sendo por isso urgente aproximá-los para que se tornem num só.

A inspiração: se queremos aproximar a sociedade da diferença, vamos criar oportunidades naturais, positivas, regulares e com qualidade, para que estas relações aconteçam, estando onde muitas pessoas estão. Todas as pessoas vão a cafés – vamos então criar Cafés com Vida um pouco por toda a parte em Portugal. A equipa será inclusiva – como todas deveriam ser – e com uma proposta de qualidade, ajudando a desmistificar o preconceito e fazer da diferença parte integrante das nossas vidas e das nossas cidades.

A esta visita seguiu-se o telefonema da Mariana, outra grande amiga, que por saber do sonho dos cafés, fez a ponte com o designer do Café Joyeux – que acabara de abrir o seu segundo café, desta vez no centro de Paris, uma notícia que correu os jornais e televisões francesas, pois tinha sido inaugurado pela mulher do presidente Francês, Brigitte Macron e toda a classe política. Aleksander Debinsky, francês a residir em Lisboa, a quem tive a sorte de conseguir apresentar – por pura coincidência, no mesmo local onde hoje é o primeiro café Joyeux – o nosso sonho e a convição de que juntos somos mais fortes e vamos também mais longe e mais rápido fazer a diferença, acreditou e levou-me a conhecer Yann Bucaille em Paris, dia 3 de Maio de 2018, apenas dias antes do concerto de lançamento oficial do conceito português, que aconteceu no dia 17 desse mesmo mês, no Estoril.

Não havendo razão – como nunca deverá haver – para reinventar a roda, muito mais quando se trata de agilizar e acelerar o processo de transformar a vida de pessoas incríveis e cheias de talento para virem revelar os seus talentos profissionalmente – e após o grande SIM de Yann Bucaille e do Café Joyeux àquela que seria a primeira internacionalização desta grande missão – assinámos, em Abril do ano passado, após 18 meses do piloto de restauração do conceito “CafécomVida”, que preparou o caminho para o Café Joyeux, e depois de algumas vagas da pandemia, o primeiro contrato de franchising entre o Fundo de Dotação Émeraude Solidaire (que em França detém a marca Café Joyeux), a Associação VilacomVida (IPSS que em Portugal representa esta missão) e a empresa Joyeux Portugal, 100% detida por esta para explorar estes espaços de restauração solidária e inclusiva, cujos lucros reverterão para abrir novos cafés-restaurantes e aumentar assim o número de postos de trabalho para estes super-heróis.

O primeiro café Joyeux inaugurou assim em Lisboa, na Calçada da Estrela, 26 (em frente à Assembleia da República) no final do ano passado e hoje, após um período de observação, já prepara a contratação da Carolina, do João, da Joana, do David, do António, do José, da Lurdes, do Sebastião e do Pedro. Estes jovens extraordinários estavam em casa, parados, e hoje estão a ser formados – modelo Escola Joyeux – em quatro posições de base na restauração: barista, serviço de mesa, caixa e cozinha. Daqui a dois anos, obterão o seu diploma de colaboradores polivalentes no sector e com ele na mão, caber-lhes-á decidir se querem manter o seu contrato a tempo indeterminado no Café Joyeux ou ir trabalhar para outro local da sua preferência, agora já capacitados.

Cerca de 10 km mais à frente, no Parque das Nações, um novo conceito “Joyeux Inside” – o café Joyeux dentro de uma empresa – também já abriu portas no novo Edifício Ageas Tejo, onde trabalham cerca de 1600 colaboradores. Aqui também estão em estágio pré-contratação a Sofia, o Bruno, o Bruno S., o Ricardo e o André.

Nos cafés-restaurantes Joyeux são servidos e preparados com o coração, por estes colaboradores Joyeux (Alegres), e com a supervisão de profissionais experientes da restauração, cafés, bolos frescos, pão, croissants, quiches de especialidade com salada (que pode encomendar e levar para casa), sopas do dia, cookies caseiras de aveia ou com 3 chocolates, e, no caso do café de S. Bento, também um prato do dia – que pode ser por exemplo a lasanha de salmão e espinafres (best-seller), o crumble de pato com batata doce, o fusilli de espinafres com pesto e amêndoas ou, aos sábados, o brunch, especialmente pensado para as famílias. O café, desenvolvido especialmente pela Delta para o Joyeux em Portugal, é único e de uma qualidade superior. E porque há muitas mais vidas para transformar, preparamos já a abertura de um terceiro café-restaurante em pleno centro de Cascais, onde esperamos revelar as capacidades e preparar para uma vida autónoma 10 a 12 novos colaboradores. O plano de expansão prevê abrir cerca de 5 cafés até 2026 e em cada um empregar perto de 10 colaboradores com este perfil. No recrutamento trabalhamos em rede com muitas instituições de referência nesta área – mais uma vez porque juntos somos mesmo mais fortes e vamos mais rápido, mais longe.

Para além dos produtos de cafetaria, e para suportar este ambicioso plano de crescimento, o café Joyeux tem uma linha de merchandising à venda nas lojas e brevemente online, onde podemos encontrar tote bags, aventais, t-shirts e sweat-shirts de alta qualidade, cadernos timbrados com o Theo (logotipo Joyeux), cafés em cápsula e moído, tudo a reverter 100% para esta missão. Existe também a possibilidade de privatizar o espaço para eventos corporativos ou pessoais e encomendar caterings.

O café Joyeux atua como se fosse uma empresa social – estatuto que deveria existir mas não existe em Portugal. O investimento necessário para abrir cada café depende por isso da filantropia social e de empresas socialmente responsáveis, que convidamos a aderir ao projeto e a financiar este período de crescimento cujo objetivo é a sustentabilidade da missão global da Associação VilacomVida / Joyeux Portugal – já que não beneficiamos de apoios da segurança social.

Hoje somos uma equipa apaixonada de 13 pessoas – nas áreas da gestão, comunicação, marketing e formação – que, juntamente com a equipa operacional dos cafés Joyeux, acredita e comprova, todos os dias, que a transformação positiva da sociedade é possível e muda todas as vidas – as nossas e as dos incríveis colaboradores que integramos – para melhor.

Viva a Alegria na diferença!

Para saber mais – www.joyeux.pt / www.vilacomvida.pt/cafejoyeux
Para ajudar – https://www.vilacomvida.pt/ajude-nos/
IBAN para donativos: PT50.0018.000344298446020.92 (Banco Santander)
MB Way para donativos: 938877919

Filipa Pinto Coelho

Presidente da Direção Associação VilacomVida / CEO Joyeux Portugal