O UN Global Compact é uma plataforma de liderança para o desenvolvimento de políticas e práticas empresariais responsáveis. Uma aliança que sonha com a construção de um futuro diferente e melhor
POR FERNANDO NOBRE*

A percepção que as empresas têm sobre a sua Responsabilidade Social e o seu papel de proximidade cidadã com as pessoas e o tecido social das comunidades humanas em que estão inseridas mudou radicalmente, tanto globalmente como em Portugal. Um forte exemplo dessa mudança foi a adesão à iniciativa levada a cabo por Kofi Annan em 2000, o UN Global Compact, cujo objectivo é incentivar as empresas e organizações da sociedade civil a alinharem, de forma voluntária, as suas estratégias e políticas com 10 princípios universalmente aceites nas áreas dos direitos humanos, práticas laborais, ambiente e anticorrupção, e a promoverem acções de apoio aos objectivos da ONU, incluindo os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Trata-se de uma plataforma de liderança para o desenvolvimento, implementação e divulgação de políticas e práticas empresariais responsáveis. Uma aliança que sonha com a construção de um futuro diferente e melhor. É a maior iniciativa de responsabilidade social empresarial, a nível mundial, com mais de 10 mil signatários (empresas e instituições da sociedade civil) em mais de 145 países.

A AMI procurou sempre reger a sua actuação com base em critérios de transparência e responsabilização que, aliados a uma exigência cada vez maior das partes interessadas, fortalecem uma interdependência e compromisso mútuo para a disponibilização de resultados, razão pela qual aderiu, naturalmente, ao UN Global Compact em 2011, assumindo o compromisso de apoiar e promover os 10 princípios da iniciativa.

Nesse mesmo ano, a AMI juntou-se também à rede portuguesa do Global Compact (em Portugal, são já 49, os membros da rede), e foi nesse sentido que propôs a realização, ao longo de quatro anos, das conferências AMI/GCNP (Global Compact Network Portugal), sobre cada uma das quatro áreas abordadas pelo Global Compact. No passado dia 27 de Setembro, decorreu a primeira, em formato de Mesa Redonda, dedicada à área do trabalho e subordinada ao tema “Novas Formas de Organização do Trabalho”.

“Algo de profundo mudou no paradigma mental do mundo empresarial”

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Com as ilustres presenças de Catarina Horta, Gonçalo Pinto Coelho, Manuel Carvalho da Silva, João Proença e Paula Nanita, e num auditório com a presença atenta de 150 pessoas, destacou-se o impacto da tecnologia na reorganização do trabalho, a importância de criar incentivos que captem talentos e invertam a tendência actual de emigração, e também a de promover o diálogo entre o sector público e o sector privado. Reunindo à mesma mesa Estado, empresas e instituições do Terceiro Sector, na procura de soluções inovadoras.

Porque, a verdade é esta: o mundo mudou e o mercado de trabalho transformou-se radicalmente, pelo que a alternativa não é a resignação, é a reinvenção e a criatividade na demanda de respostas que possam colmatar as necessidades mais prementes da sociedade. Algo de profundo mudou no paradigma mental do mundo empresarial.

Cientes de que os desafios impostos pela conjuntura global actual não podem ser abordados isoladamente, mas como parte de um ecossistema, as empresas e outras organizações da sociedade civil começaram a sentir necessidade de rever a forma como conduziam a sua actuação. As primeiras, porque pretendiam ir além do donativo e criar valor partilhado, procurando ser parte activa das iniciativas, envolver as comunidades nas quais estão integradas, causar um verdadeiro impacto social e exigir uma disponibilização cada vez mais célere e clara de resultados; e as segundas, porque compreenderam que precisavam de encontrar soluções inovadoras para fazer face às pressões sociais constantes e aumentar o seu impacto.

A economia e o empreendedorismo extravasaram de um mundo até há pouco muito elitista e fechado para querer gerar a mudança e abrir-se a outras visões, outras experiências emanadas de outras vivências no mundo… E isso é formidável, é extraordinário, e não deve ser ignorado. Pelo contrário, deve ser profundamente encorajado.

Presidente e Fundador da AMI