Numa sociedade equilibrada e harmoniosa, as empresas, ao suprir as necessidades das sociedades, deverão contribuir para a criação de um mundo melhor para todos, e não só para alguns. O movimento das B Corps promove a preocupação com todos os stakeholders, fomentando o contributo e posicionamento das empresas para que, não só sejam as melhores, mas para que contribuam para um mundo melhor. E, nesta busca constante de serem as melhores para o mundo, contribuem inevitável e significativamente para que os Direitos Humanos e os ODS sejam cada vez mais uma realidade, quer no universo das empresas, quer na sua envolvente
POR LUÍS AMADO

As empresas são uma das grandes forças das sociedades actuais, podendo moldar o mundo de forma significativa.

O impacto das empresas e negócios na sociedade pode ser muito positivo (por exemplo, quantas vidas salvam os medicamentos produzidos pelas farmacêuticas) ou muito negativo (quantas pessoas morrem devido a consequências nefastas do tabaco). No entanto, muitas vezes, é mais o posicionamento do que a área de negócio que determina o seu impacto positivo ou negativo.

Este posicionamento implica ter em atenção todos os stakeholders (colaboradores e suas famílias, clientes, fornecedores, comunidade em que se insere a empresa, meio ambiente, etc.) e não apenas a criação de valor para os accionistas. Só assim as empresas poderão criar valor para a sociedade como um todo, e ter um impacto positivo relevante na mesma.

Na minha opinião, as empresas deverão ter sempre um contributo global positivo para a sociedade como um todo, e não apenas para alguns dos membros da sociedade, em particular à custa de outros.

Entendo que, quando as empresas não criam valor global positivo para a sociedade no seu todo, as sociedades deverão ter a capacidade de as eliminar, caso contrário, estaremos perante sociedades suicidas que permitem que nelas existam entidades que contribuem para a sua destruição, enquanto uns quantos enriquecem. E, quer como representantes activos de alguns grupos da sociedade, quer como estruturas com grande capacidade de intervenção na sociedade terão sempre um grande impacto nas mesmas. Assim sendo, e a sua postura e acções serão determinantes no moldar do futuro das sociedades.

É esta visão que me faz acreditar que o movimento B Corp pode ser muito relevante para que possamos ter sociedades de futuro mais equilibradas e um mundo melhor com base no contributo das empresas, materializando a ideia do capitalismo consciente que, felizmente, tem cada vez mais força.

A meu ver, o maior problema do mundo corporativo resume-se à fixação de objectivos de curto prazo, muitas vezes, fomentados por incentivos errados, que fazem as empresas e os seus gestores esquecer as verdadeiras razões da sua existência (propósito) para se focarem em objectivos de curto prazo dos quais dependem os seus bónus, visibilidade e sucesso.

Este foco no curto prazo e reduzida abrangência do universo analisado para tomar as decisões é, para mim, a fonte de muitos outros erros que frequentemente observamos no mundo corporativo e que passam pela falta de transparência, de responsabilidade para com o meio ambiente e a sociedade, entre outros.

Este tipo de posicionamento faz as empresas esquecer o que deveria ser o propósito da sua existência – suprir uma necessidade relevante para a sociedade – e atropelar muitos dos princípios básicos dos Direitos Humanos com vista a potenciar o lucro para os accionistas, a curto prazo (se pensassem a longo prazo tudo seria bem diferente), e não o valor criado para a sociedade (que será a forma sustentada de criar também valor para os accionistas que são parte de uma sociedade harmoniosa e integrada).

[quote_center]As B Corps aproveitam o poder dos negócios para mudar o mundo, usando os lucros e o crescimento como um meio para um fim maior: impacto positivo para os seus funcionários, comunidades e meio ambiente[/quote_center]

É expectável, e desejável, que sejam as próprias empresas a liderar a mudança da sociedade através de uma postura cada vez mais preocupada com a sua razão de ser/propósito que, é muito maior, ou deveria ser, do que o proporcionar lucros aos seus accionistas.

O gerar lucros para os accionistas deveria ser só uma forma de ser sustentável, sendo que o propósito tem de ser, sem dúvida, algo de maior, nomeadamente, no sentido de um contributo positivo para a sociedade/consumidor, suprindo necessidades relevantes para os mesmos.

Numa sociedade equilibrada e harmoniosa, as empresas, ao suprir as necessidades das sociedades, deverão contribuir para a criação de um mundo melhor para todos, e não só para alguns.

O movimento das B Corps promove a preocupação com todos os stakeholders, fomentando o contributo e posicionamento das empresas para que, não só sejam as melhores, mas para que contribuam para um mundo melhor.

O movimento B Corp e a sua comunidade de líderes usam os negócios como uma forma de construir uma economia mais inclusiva e sustentável. Pretendem que as suas empresas sejam não só as melhores do mundo mas, acima de tudo, as melhores para o mundo.

As B Corps aproveitam o poder dos negócios para mudar o mundo, usando os lucros e o crescimento como um meio para um fim maior: impacto positivo para os seus funcionários, comunidades e meio ambiente.

Nesta busca constante de serem as melhores para o mundo, contribuem inevitável e significativamente para que os Direitos Humanos e os ODS sejam cada vez mais uma realidade, quer no universo das empresas, quer na sua envolvente.

A certificação B Corp é uma ferramenta de diagnóstico e melhoria que visa o equilíbrio das empresas no que respeita ao propósito e ao lucro. As empresas são legalmente obrigadas a considerar o impacto das suas decisões sobre os seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente.

A comunidade B Corp acredita igualmente que os problemas mais desafiantes da sociedade não podem ser resolvidos apenas pelos governos e pelas organizações sem fins lucrativos. Por isso, trabalham para reduzir a desigualdade e os níveis mais elevados de pobreza; constroem ambientes mais saudáveis e comunidades mais fortes, e lutam por mais empregos de alta qualidade e com dignidade contribuindo assim para que os Direitos do Homem e os ODS sejam uma realidade cada vez mais presente.

Para que a postura de contribuição positiva das empresas para a sociedade seja uma realidade, a sociedade como um todo deve ter uma postura exigente para com as empresas, nomeadamente, através do papel preponderante dos consumidores que são, senão sempre, na vasta maioria dos casos, a razão do sucesso dos projectos empresarias.

Se uma empresa não suprir uma necessidade da sociedade, a sociedade, por meio dos seus consumidores, não deverá estar disponível para a sustentar. Se os consumidores forem exigentes nas suas escolhas, obrigarão as empresas a mudar as suas posturas e preocupações, até porque as empresas são constituídas por pessoas, elas próprias, consumidores.

A comunidade B Corp portuguesa está na sua fase inicial contando com 10 empresas portuguesas certificadas e outras tantas multinacionais, também certificadas, com presença significativa em Portugal.

É uma comunidade em franco crescimento com várias empresas em fase final de certificação prevendo-se um crescimento de mais de 50% no número de empresas certificadas até ao final do ano.

Esta comunidade de empresas que troca experiências e boas práticas, tantos com os parceiros locais, como com os internacionais, para além de desenvolver projectos e estabelecer inúmeras parcerias de negócio, tem vindo a reunir-se trimestralmente. Estas reuniões servem, não só para que as empresas se conheçam melhor e possam trocar experiências e estabelecer parcerias, mas também para discutir temas do interesse de todos.

O último encontro teve lugar na Casa do Impacto na passada sexta-feira, 12 de Julho, e teve como tema “Marketing do movimento B Corp – como o podemos divulgar e fazer crescer”.

Luís Amado, Director Executivo B Lab Portugal