Muitas grandes empresas têm vislumbrado em Portugal uma escolha apropriada para criação de projectos que possam testar e desenvolver as soluções de futuro e a sua aplicação a várias indústrias, bem como suportar serviços tecnológicos com foco global.
POR CARLOS SEZÕES

Nos últimos anos, gerou-se em Portugal um ecossistema bastante positivo no que concerne à atracção de talento. Desde logo, o estabelecimento de vários centros de competências, inovação e excelência, digital e não só, que gerou milhares de postos de trabalho e trouxe muitas competências STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics) para Portugal. Com efeito, muitas grandes empresas têm vislumbrado em Portugal uma escolha apropriada para criação de projectos que possam testar e desenvolver as soluções de futuro e a sua aplicação a várias indústrias, bem como suportar serviços tecnológicos com foco global.

Também muitos decisores têm encarado Portugal como uma escolha apropriada para criação de projectos que possam desenvolver soluções de futuro e prestar serviços para o mundo. Das tecnologias de informação e comunicação ao automotive, das ciências da vida aos serviços financeiros, da indústria à engenharia, muitos são os exemplos. E, depois, a emergência da designada como gig economy (freelancers e nómadas digitais), donos do seu trabalho e do seu tempo. Com efeito, muitos empreendedores têm escolhido o nosso país como base de trabalho – trabalhando daqui para o mundo.

Vários factores contribuíram para este contexto. As nossa localização geográfica, apropriada para o nearshoring, as nossas crescentes competências tecnológicas (jovens qualificados em engenharias e tecnologias) e linguísticas, o nosso contexto de acolhimento (qualidade de vida, segurança, custo de vida, povo aprazível e adaptável, que convive bem com a diversidade) foram afirmando a primazia de Portugal em contraponto com os seus concorrentes mais directos (ex. a Europa de Leste). Nos últimos anos, os anúncios sucederam-se, desde serviços de suporte global a verdadeiros centros de inovação: Altran, Accenture, Bosch, Capgemini, Cloudflare, Cisco, Mercedes, Google, IBM, Fujitsu, Natixis, Nokia, SAP, Siemens, Schréder, VW, Kaizen e muitos mais.

Tudo isto produz um «efeito de alavanca» no nosso ecossistema digital. Não só pelo «halo» positivo para a marca Portugal, com o incremento da sua reputação que facilita novos investimentos, como pela interacção com os nossos sistemas de formação (universidades e centros de investigação) e com o universo de startups nacionais de base tecnológica – que também atraem talento internacional.

Mas, nesta fase pós-pandemia, em que o paradigma de flexibilidade do trabalho (anytime-anywhere) vai prevalecer, devemos ter a ambição de ir mais longe. Há que proporcionar condições e recursos para que sejamos, com escala e de forma sustentável, a escolha de mais profissionais que possam acrescentar competências e valor à economia portuguesa.

Na Plataforma Portugal Agora já debatemos por diversas ocasiões esta realidade. Várias linhas de acção foram já apontadas:

  • Marca e reputação de Portugal – definir e assegurar a consistência da marca «Portugal» na comunicação a nível global, que promova a sua proposta de valor como país de destino (a nossa rede diplomática e a nossa diáspora serão essenciais neste esforço);
  • Um ecossistema mais sólido que reúna multinacionais, startups, universidades e centros de investigação e financiamento (private equity e capital de risco, com operações de levantamento de capital mais favoráveis para os projectos early-stage) numa colaboração profícua;
  • Investimentos massivos em conectividade (em todo o território), aproveitando a emergência das tecnologias 5G;
  • Apostar em projectos específicos que nos confiram vantagens competitivas em determinadas tecnologias (ex. Blockchain, Internet of Things, Augmented/ Virtual Reality);
  • Uma nova legislação laboral e previsibilidade fiscal que facilitem a atracção de profissionais qualificados.
  • Simplificar e agilizar processos para migrantes profissionais que facilitem a entrada e mobilidade de profissionais qualificados;
  • Facilitação de investimentos em soluções de coworking e coliving, que se assumem hoje como tendência e preferência das novas gerações;

Podemos construir um ambiente altamente competitivo, que atraia talento e gere inovação, neste contexto de acelerada digitalização das nossas sociedades. Como sempre, precisamos de Visão (saber onde queremos chegar), Estratégia (o caminho a trilhar) e Liderança (mobilizar e fazer as coisas acontecer). Este deve ser um verdadeiro compromisso nacional.

BIO
Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. É fundador e coordenador da plataforma Portugal Agora.

Carlos Sezões

Coordenador da Plataforma Portugal Agora