Para muitos leitores, já não será fácil imaginar o seu mundo sem a avalanche de apps que todos os dias nascem e se multiplicam a uma velocidade sem precedentes. Mas se muitas delas servem apenas para passar o tempo, existem também as que realmente contribuem para ajudar na gestão diária de tarefas, pessoais e profissionais, promover causas e facilitar a vida dos cidadãos, em particular dos que sofrem de algum tipo de necessidade especial. O VER oferece alguns exemplos de aplicações que, realmente, podem fazer a diferença
POR
MÁRIA POMBO

O que é, exactamente, uma App? A pergunta pode parecer simples, mas na medida em que a linha entre o que é desenvolvido para a web e para os dispositivos móveis continua muito ténue, faz sentido colocá-la. Especificamente, não se pode falar em “coisas” que, ou tiveram início antes da era dos telefones inteligentes (como o YouTube ou o Facebook, por exemplo), ou em serviços que são amplamente desenvolvidos como conteúdos para dispositivos móveis (como o Twitter). Estes serviços têm vindo a sofrer evoluções contínuas há já vários anos e muito antes de as apps fazerem a sua estreia. Na verdade e quando se fala em apps, estamos a falar de programas que são concebidos exclusivamente para a utilização em dispositivos móveis (mesmo que tenham, também, componentes para a web).

Assim, e agregado à explosão de smartphones e tablets, está o fenómeno das apps (o diminutivo, em inglês, para “aplicações”), as quais podem ser divididas em dois tipos por excelência: as que servem para alguma coisa e as que não servem rigorosamente para nada.

Todavia, existem milhões e, tentando separar o trigo do joio, se muitas delas servem todos os tipos de gostos, por mais “tolas” que possam parecer, também existem algumas que respondem a verdadeiras necessidades. Algumas permitem denunciar catástrofes naturais, outras permitem perceber como está o trânsito, outras ajudam a organizar o dia-a-dia… Há até as que prometem ajudar a deixar de fumar ou as que funcionam como autênticos bancos de voluntariado, permitindo perceber quais as instituições que precisam de ajuda e trocar experiências entre utilizadores. Existem ainda aquelas que servem apenas para estimular o cérebro ou, simplesmente, para passar o tempo.

É este o sortido mundo das apps, que tem conquistado um número crescente de adeptos. Cumprindo a sua missão de contribuir para algo que realmente faça a diferença na vida das pessoas, o VER apresenta alguns exemplos de aplicações que realmente têm alguma utilidade.

06112014_ParaUmQuotidianoMaisHAPPyUm mundo mais acessível e inclusivo
Através de um simples download, é possível identificar cores, organizar roteiros acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida, aprender a articular correctamente as palavras, comunicar com pessoas com paralisia cerebral ou autismo, e ainda ligar um cidadão com limitações físicas a bombeiros ou polícia. As apps que se seguem foram criadas por pessoas que pretendem contribuir para a inclusão social e para a diminuição das diferenças, de forma simples e sem inconvenientes.

Partindo da premissa de que “a cor deveria ser para todos”, a portuguesa e premiada ColorADD atribui a cada tonalidade um símbolo e o nome da mesma, para que todas as cores possam ser identificadas até por quem não as consegue distinguir. É enorme a utilidade desta aplicação (que está no mercado apenas desde Janeiro), tendo em conta que basta apontar a câmara do dispositivo onde está instalada, por exemplo a um semáforo, para perceber de que cor se trata. Ainda em expansão, esta ideia contribui para a inclusão social de pelo menos 10% da população mundial, a percentagem estimada de daltónicos existentes no planeta. Um dos grandes objectivos dos seus promotores é “colocar” este código de cores no maior número possível de objectos e serviços, desde transportes públicos, a medicamentos, a peças de vestuário, etc. O seu download custa 89 cêntimos e está disponível para iOS.

A Portugal Acessível Mobile é uma aplicação lançada pela Associação Salvador, que promove a inclusão social de pessoas com deficiência motora. Tal como se pode ler no site com o mesmo nome, esta app foi criada para dar aos seus utilizadores informações sobre a acessibilidade física de diversos locais (praias, restaurantes, museus…), desenhando roteiros acessíveis que promovem uma viagem mais segura. Desta forma, é possível transformar uma experiência potencialmente perigosa, num momento calmo e agradável. Esta app é gratuita e está disponível para iOS, Android e Windows Phone.

Criada por uma terapeuta da fala, a Articula é uma aplicação que ensina os seus utilizadores a pronunciar as palavras de forma correcta, em português. Os sons-alvo podem ser seleccionados pelo utilizador, assim como a sua posição nas palavras e nas sílabas (conforme o grau de dificuldade), podendo também ser acompanhados de imagens e/ou letras. Uma das grandes mais-valias desta app é o facto de os sons poderem ser guardados: ao ouvir a gravação da própria voz, o utilizador (ou o seu terapeuta) consegue ter uma noção mais clara dos progressos realizados. Esta aplicação custa 14,99 euros, é compatível com iPad e pode ser utilizada por adultos e crianças, sozinhos ou em grupo.

A pensar nas pessoas com autismo, com paralisia cerebral e vítimas de AVC, a Microsoft, em parceria com a Imagina, criou uma aplicação simples e intuitiva que lhes permite comunicar com “o mundo”. A Vox4all promove o processo de interacção de pessoas com dificuldades de comunicação e expressão, através de imagens, sons e cores que estas podem seleccionar para expressar preferências e estados de espírito. Esta app ajuda, desta forma, os utilizadores a responder a determinados estímulos, desenvolvendo uma comunicação mais autónoma. O valor da sua instalação é de 69,99 euros, e está disponível para Android.

Para quem tem limitações sensoriais, nomeadamente ao nível da fala ou audição, existe uma aplicação que permite enviar alertas para bombeiros ou para a polícia, em caso de urgência. A App112 foi criada por João Gomes, um cidadão surdo português que conhece bem as dificuldades de comunicar a partir de telemóveis. O utilizador informa o operador da App122 (que tem ao seu dispor ferramentas de comunicação com este tipo de utilizadores) acerca da sua limitação e este estabelece o contacto com os serviços de protecção civil, fazendo a filtragem da informação (tipo de doença, de limitação e local onde é necessário prestar auxílio). A app, que também permite a vídeo-chamada, tem um custo de 20 euros anuais e está disponível para Android.

A Apple é recordista no mundo das apps, não só no geral, mas também no que às temáticas de acessibilidades diz respeito. Apesar de só funcionarem em equipamentos com tecnologia iOS, são várias as opções disponibilizadas que pretendem tornar mais útil e simples o uso da tecnologia, e mais acessível o mundo fora desta.

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Empresas mais eficientes

Existem ainda aplicações especialmente concebidas para tornar o dia-a-dia das empresas mais fácil e produtivo. Desde as que permitem, em poucos minutos, criar websites com aspecto profissional, às que apresentam soluções de facturação que dispensam as tradicionais máquinas registadoras e as famosas folhas de excel, passando pelas que possibilitam ao utilizador controlar os dados empresariais existentes no seu portátil [através do smartphone, é claro] ou, ainda, tirar notas e organizar apontamentos. Na verdade, já quase tudo é possível.

A Jimdo é uma aplicação disponível para iOS que permite criar websites de raiz, ou editar os que já existem, sem o utilizador ter necessidade de trabalhar (n)o código. Este pode fazer tudo o que faz num website “normal”: criar artigos com as respectivas entradas, adicionar imagens, mudar o layout, o tipo e o tamanho da letra e ainda ter acesso a estatísticas acerca das visualizações. O download é gratuito e o valor das assinaturas é de 6.99 euros por mês, ou de 69.99 euros por ano.

Se é proprietário de um estabelecimento comercial e quer tornar mais fácil o seu processo de facturação, a aplicação que se segue foi criada a pensar em si. A 486invoice é uma app exclusiva para tablets Samsung e certificada pela Autoridade Tributária. Para além de permitir um funcionamento autónomo e não ser necessária uma ligação a um computador, a sua utilização é bastante simples e intuitiva. Esta é uma tecnologia móvel, que pode ser levada para qualquer lugar, permitindo também tirar fotografias, navegar na Internet ou aceder ao email. O seu valor é de, pelo menos, 800 euros, conforme o tablet escolhido, e tem actualizações gratuitas e baixos custos de manutenção.

Também já é possível controlar remotamente os dados do portátil através de um smartphone ou tablet com Windows Phone 8 com a Office Remote. Para isso, basta que ambos os aparelhos estejam conectados através de Bluetooth, que esta app esteja instalada no dispositivo móvel e o respectivo add-in no computador. Esta aplicação, criada pela Microsoft Research em parceria com a equipa do Office, permite navegar nas páginas de Word, Excel e Powerpoint, ver notas e tirar apontamentos.

A Evernote já não é novidade mas, considerando a sua utilidade e facilidade, seria impossível não a colocar na lista. Esta é uma aplicação disponível para iOS e Android que permite criar e organizar apontamentos, tirar notas e adicionar imagens, de forma simples e rápida. Ir a uma conferência ou a uma reunião, será uma tarefa mais simples com esta aplicação, que organiza qualquer informação, desde grandes apontamentos a pequenas notas, para que nada se perca.

Mais recentemente, surgiu a Quip, a qual combina o processamento de texto com a organização de dados, muito ao jeito da Evernote. No entanto, neste caso em particular, é possível criar e editar apontamentos e notas, partilhar ideias e imagens, em rede (permitindo que vários utilizadores possam, em simultâneo, editar o mesmo documento). Apesar de o trabalho em equipa lhe dar um destaque relativamente a outros processadores de texto, a sua utilização é igualmente possível em modo offline, considerando que todas as restantes funcionalidades continuam activas (sendo até possível enviar mensagens entre utilizadores). Para além do texto, esta aplicação permite criar “to-do lists” e tabelas que podem ser integradas no texto, para que todo o trabalho fique reunido no mesmo documento. Esta é uma app gratuita e disponível para iPhones, iPads, telemóveis e tablets com Android.

Um dia-a-dia mais appetecível
O utilizador comum tem ainda acesso a um conjunto de outras aplicações que tornam mais simples e saudável o seu dia-a-dia. A BuzzStreets permite ter acesso ao estado do trânsito em Lisboa e no Porto; O Meu Prato Saudável permite fotografar um prato de comida e, nesse mesmo instante, saber se essa é uma refeição saudável e completa; a partir de um código de barras, a GoodGuide dá ao utilizador informações sobre o produto que está a comprar e a respectiva empresa (se é amiga do ambiente, se pratica trabalho forçado e infantil, etc).

Há ainda uma aposta crescente, embora ainda reduzida, das instituições de solidariedade social nas apps, como forma de ganharem adeptos e aumentarem o seu impacto. Segundo a revista Forbes, as apps têm uma dupla finalidade: aumentar a consciência das pessoas acerca de uma causa e levá-las a ter um papel activo no apoio prestado às instituições que admiram.

Por todos os exemplos apresentados (que são, face ao oceano de possibilidades, apenas uma gota), as apps fazem parte da vida de um número crescente de cidadãos e a tendência é para que se continuem a multiplicar e a inovar num número crescentemente diversificado de áreas.

Jornalista