Se a Comissão Europeia e os Estados-membros estão empenhados (e bem) na implementação de diretivas e normas visando a transparência da sustentabilidade no mundo empresarial, esta é também a oportunidade para as empresas desenvolverem acordos de colaboração e aumentarem o impacto dos esforços individuais na construção de uma Europa sustentável
POR LUÍS ROBERTO

Há muito que a Comissão Europeia tem como ambição tornar transparente a atividade financeira relativamente às iniciativas sustentáveis das empresas em toda a União Europeia.

O grande objetivo passa por dar aos relatórios de sustentabilidade o mesmo peso e rigor que é atribuído aos relatórios financeiros, indo além da atual Diretiva dos Relatórios Não Financeiros que, em Portugal, se aplica às empresas de utilidade pública, com mais de 500 colaboradores.

Neste sentido, a Comissão Europeia acaba de publicar um pacote de medidas que permitirá ao investidor reorientar os investimentos para empresas mais sustentáveis, tornando mais claro quais as atividades económicas que melhor contribuem para cumprir os objetivos ambientais da União Europeia. Com este pacote de medidas, os relatórios de sustentabilidade serão estendidos a todas as empresas de grande dimensão e também às cotadas.

Significa isto que 40.000 novas empresas na União Europeia vão ter de seguir as regras dos relatórios de sustentabilidade, propondo a Comissão o desenvolvimento de normas proporcionais para as PME, as quais, numa primeira fase irão poder utilizá-las de forma voluntária.

A proposta da Diretiva de Relatório de Sustentabilidade Corporativa visa melhorar o fluxo de informações sobre a sustentabilidade no mundo empresarial, tornando os relatórios de sustentabilidade das empresas mais percetíveis, para que os investidores e o público em geral sejam capazes de usar informações de sustentabilidade fiáveis, compará-las e tomar as suas decisões.

No geral, esta proposta visa garantir que as empresas partilham informações confiáveis ​​sobre sustentabilidade e que relatem como é que estas questões, tais como as alterações climáticas, afetam os seus negócios e qual o impacto das suas atividades sobre as pessoas e o meio ambiente, garantindo um fluxo consistente de informação através do sistema financeiro.

A proposta tem também como objetivo simplificar o processo de elaboração dos relatórios nas empresas, eliminando o leque alargado de padrões e estruturas distintos no que respeita a este tipo de relatório. Ou seja, a definição de novas normas para a elaboração dos relatórios de sustentabilidade proposta pela EU permitirá fornecer às pequenas, médias e grandes empresas uma solução única capaz de responder às necessidades de informação dos potenciais investidores e outras partes interessadas.

Paralelamente o Conselho da União Europeia está a tomar medidas para aumentar a transparência tributária – EU Taxonomy – das grandes empresas multinacionais, prevendo-se chegar a um acordo antes do final da Presidência Portuguesa, em junho próximo.

A EU Taxonomy consiste numa ferramenta de transparência robusta e com base científica que cria uma linguagem comum que empresas e investidores podem utilizar em projetos

que tenham impacto sobre o clima e o meio ambiente.

Através desta regulação, será possível aumentar o potencial de financiamento verde em particular para setores de atividade intensiva de carbono, onde a mudança é urgente, bem como avaliar o desempenho ambiental das atividades financiadas.

A atual pandemia veio trazer também a necessidade de redirecionar os investimentos para projetos sustentáveis com o objetivo de tornar a economia, as empresas e a sociedade, e em particular os sistemas de saúde, mais resistentes a choques e riscos climáticos e ambientais futuros.

O European Green Deal é a estratégia de crescimento que visa tornar a Europa climate neutral até 2050, pelo que a construção de um sistema financeiro sustentável, que contribua para a transição climática, é fundamental. Como parte desse esforço, as empresas precisam de criar estruturas de sustentabilidade adequadas à sua dimensão, as quais serão responsáveis por mudar os seus modelos de negócio e garantir o desenvolvimento dos processos de gestão financeira.

Este é o momento das empresas passarem a estar envolvidas na resposta aos desafios ambientais alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, bem como com as seis prioridades estratégicas definidas para a implementação da Agenda 2030 em Portugal.

Se a Comissão Europeia e os Estados-membros estão empenhados (e bem) na implementação de diretivas e normas visando a transparência da sustentabilidade no mundo empresarial, esta é também a oportunidade para as empresas desenvolverem acordos de colaboração e aumentarem o impacto dos esforços individuais na construção de uma Europa sustentável.

O desafio da mudança climática é global e precisa de soluções alinhadas e harmonizadas.

A colaboração setorial e intersetorial através da partilha do conhecimento e do saber são cruciais para o desenvolvimento de soluções sustentáveis, em resposta aos grandes desafios de curto e longo prazo.

A COVID-19 ensinou-nos que, a menos que cooperemos, não poderemos avançar em direção a qualquer que seja o objetivo traçado. E, no caso em particular da transição climática, para a qual é necessária a redução das emissões de gases com efeito de estufa e o aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis, o esforço e a coesão das indústrias serão vitais.

Head of Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa
Rede do Empresário