Desde 2011 que o projecto Happiness Works se tem dedicado a avaliar o nível de felicidade organizacional dos profissionais em Portugal. Os resultados de 2018, recentemente apresentados e aqui enunciados, confirmam que existem, pelo menos, três factores que condicionam este “sentimento”: a organização em si, a função desempenhada e o estilo de liderança. E, para uma melhor contextualização da forma como tem evoluído esta análise, que desperta um interesse crescente na comunidade empresarial, uma breve história do projecto
POR GEORG DUTSCHKE

O projecto Happiness Works pretende verificar o nível de felicidade organizacional dos profissionais em Portugal. Este tema, muito actual, é de particular importância para as organizações. Trabalhos de investigação realizados em diferentes países demonstram a existência de correlações positivas entre colaboradores mais felizes e mais produtividade. Por esta razão, a relação entre felicidade organizacional e produtividade é um tema cada vez mais estudado por investigadores e organizações.  O projecto Happiness Works, único em Portugal, decorreu,até hoje, em três fases.

Georg Dutschke, Partner fundador da Happiness Works – © DR

Na primeira fase (2011) foram entrevistados 1.000 profissionais portugueses. Após análise de conteúdo às respostas obtidas, foram identificadas as variáveis pelas quais estes profissionais são felizes na organização e na função. As variáveis foram agregadas em categorias e identificados factores. Os factores que condicionam a felicidade na Organização são o Ambiente interno, Reconhecimento e Confiança, Desenvolvimento Pessoal, Remuneração, Envolvimento Pessoal, Sustentabilidade e Inovação, Envolvimento com as Chefias e Organização, Definição de Objectivos, Equilíbrio entre a Profissão e Vida Pessoal. Já os factores que condicionam a felicidade na Função são o Envolvimento com a Função, Desenvolvimento Pessoal, Reconhecimento e Respeito, Ambiente de Trabalho, Remuneração, Objectivos, Sustentabilidade e Segurança, Apoio das Chefias, Equilíbrio entre a Profissão e Vida Pessoal, Poder ser Empreendedor.

Na segunda fase (Janeiro a Abril de 2012) o questionário HW foi respondido por 1.200 profissionais portugueses. Nesta fase, além da análise da felicidade por sector de actividade, foi, também, verificada a fiabilidade do questionário HW através do cálculo do Alfa de Cronbach. O valor obtido foi de 0,98 (Organização) e 0,97 (Função) o que revela uma elevada fiabilidade (o valor varia entre 0 e 1. É fiável quando superior a 0,7).

A terceira fase decorre desde 2013. O questionário HW é enviado para organizações e profissionais entre Janeiro e Abril de cada ano. Tem-se verificado um aumento continuado no número de respostas recebidas, resultante de um interesse crescente por parte das organizações e profissionais sobre este tema. Em 2018 foram recebidas 3.933 respostas de profissionais de 100 organizações (Gráfico 1).

Gráfico 1. Evolução do número de respostas ao estudo Happiness Works


Em 2018 a felicidade organizacional é de 3,8 (numa escala de 5 pontos).  Ou seja, os profissionais portugueses são “quase felizes”.  É interessante observar que este nível de felicidade organizacional se mantém estável nos ultimos 3 anos. Temos expectativa em conhecer os resultados de 2019. Para verificar se este é o nível “normal” de felicidade organizacional em Portugal, ou se existirá alguma variação.

Gráfico 2. Evolução da Felicidade Organizacional em Portugal


A Felicidade Organizacional é a “soma” da Felicidade na Organização e Felicidade na Função. Em todos os estudos que até agora realizámos a Felicidade na Função é sempre superior à Felicidade na Organização (Gráfico 3). Os profissionais referem que passam, pelo menos, 8 horas no desempenho da sua função. É importante que se sintam minimamente felizes!

Gráfico 3. Evolução da Felicidade na Organização e na Função


Analisando as dimensões que contribuem para a Felicidade na Organização (Gráfico 4) verifica-se uma evolução positiva de todas elas quando comparadas com os resultados de 2012. No entanto, é muito relevante verificar que todas as dimensões têm um valor inferior a 4. Tal reflecte a grande oportunidade que as organizações têm para incrementar o nível de felicidade dos seus colaboradores, em muitos casos, sem necessidade de aumentos na remuneração.

Gráfico 4. Análise de Dimensões. Felicidade na Organização.


Analisando as dimensões que contribuem para a Felicidade na Função (Gráfico 5) verifica-se uma evolução positiva de todas quando comparadas com os resultados de 2012. É interessante destacar o aumento do nível de felicidade referente ao “poder ser empreendedor”. Tal pode significar uma maior abertura das organizações na promoção do intra-empreendedorismo, fundamental para a criação de riqueza e sustentabilidade organizacional. Adicionalmente, os colaboradores quando têm a possibilidade de contribuir e serem ouvidos, sentem-se mais felizes e envolvidos com o sucesso da organização.

Gráfico 5. Análise de Dimensões. Felicidade na Função.


Analisando o nível de felicidade organizacional por sector de actividade, verifica-se que o sector mais feliz em Portugal é a Comunicação e Informação e o mais infeliz, o Sector Estado (Gráfico 6).

As organizações que trabalham nos sectores da Comunicação e Informação estão em grande crescimento devido à maior presença da tecnologia em todas as empresas. Esta realidade origina uma grande procura de profissionais nesta área e um cuidado com o seu bem-estar, que minimize a rotação. Uma parte importante destes profissionais são jovens, que privilegiam empresas onde existe o cuidado de promover o bem-estar dos seus colaboradores.

Gráfico 6. Felicidade Organizacional em Portugal 2018. Sectores de Atividade.


Desde 2014 que verificamos o impacto da Felicidade Organizacional na produtividade. As respostas obtidas permitem validar que os profissionais mais felizes são mais produtivos. Faltam menos, têm menos vontade de mudar de organização e sentem-se mais produtivos (Tabela 1).

Tabela 1. Produtividade. Profissionais mais e menos felizes


De entre as várias aprendizagens com este projecto, é possível afirmar que existem, pelo menos, três factores que condicionam a felicidade organizacional. A organização em si, a função desempenhada e o estilo de liderança. Esta realidade é bem visível quando segmentamos os profissionais entre felizes e não felizes (Gráfico 7)

Gráfico 7. Felicidade Organizacional em Portugal 2018. Profissionais Felizes / Não Felizes.


O Projecto Happiness Works tem permitido conhecer o estado da felicidade organizacional em Portugal, criar um benchmark por sectores de actividade, verificar o impacto da felicidade organizacional na produtividade e identificar casos de empresas e líderes felizes. Todos os anos identificamos 10 exemplos de empresas felizes, através da realização de um ranking.

Em 2018, o Top 10 é composto pela Bresimar Automação, Samsys, Hilti Portugal, Solfut Lda, McDonald’s Portugal, Altronix, Smart Consulting, Prime IT Consulting S.A., PHC Software, Mind Source.

O Happy Boss, apurado através dos nomes propostos pelos profissionais respondentes, foi Marcelo Rebelo de Sousa. Na qualidade de Presidente, mas também, de académico e profissional, como referido por quem respondeu.

Estas empresas e respectivos líderes diferenciam-se por acreditarem que ter colaboradores felizes contribui para uma maior produtividade e sustentabilidade da organização.

Conseguir que uma organização seja feliz obriga a uma visão estratégica que permita implementar uma verdadeira cultura organizacional. Não é o somatório de ações de curto prazo, como oferecer fruta ou aulas num ginásio. É algo muito mais profundo. Apenas possível com líderes que acreditem e a promovam.

Georg Dutscke - Partner e fundador Happiness Works