Dedicado ao futuro do trabalho, o último painel do XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC reuniu empresários e representantes de organizações sociais, numa reflexão centrada nos muitos e preocupantes desafios que as rápidas transformações do mundo globalizado e digitalizado endereçam ao mercado empresarial, o qual enfrenta actualmente uma enorme mudança de paradigma. As empresas têm de reinventar-se, em conjunto e “com base nos valores da dignidade e da solidariedade”
POR GABRIELA COSTA

O terceiro e último dia do XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC foi dedicado ao futuro do trabalho. Num painel que reuniu empresas e organizações da sociedade civil, a reflexão centrou-se nos muitos e preocupantes desafios que as rápidas transformações do mundo globalizado e digitalizado endereçam ao mercado empresarial, o qual enfrenta actualmente uma enorme mudança de paradigma, que obrigará “a (re)aprender para trabalhar”.

Msgr. Robert Vitillo – © Arlindo Homem

Defendendo que “os novos contextos de trabalho devem ser um factor determinante para a justiça social”, no âmbito da qual “um trabalho decente” tem de ter “salários decentes”, o moderador deste quinto painel, monsenhor Robert Vitillo, ressalvou o exemplo dado pelos muitos oradores presentes no Congresso, que testemunham como é possível colaborar, através de “experiências muito interessantes”, em iniciativas de apoio social, através de organizações de defesa do trabalho digno.

No actual contexto político e social, o secretário geral  da Comissão Internacional Católica para a Migração, que actua há quase 70 anos em prol dos direitos dos migrantes e refugiados, recusa a palavra crise – democrática, ecológica ou de êxodos -, afirmando que “estamos, sim, perante uma oportunidade migratória de juntar talentos”, em benefício de todos. Neste sentido, este organismo norte-americano tem vindo, sob a coordenação do monsenhor Vitillo, a estudar o percurso dos trabalhadores migrantes, procurando dar resposta “aos seus receios e ao que anseiam”.

[quote_center]O desenvolvimento social deve andar de mãos dadas com o crescimento económico e, para tanto, há que voltar à antropologia e construir uma visão holística – Msgr. Robert Vitillo[/quote_center]

Fazer a transição com optimismo

Citando a encíclica “Laudato Si”, na qual o Papa Francisco critica o consumismo e faz um apelo à unificação global das acções para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas”, o Conselheiro para os Assuntos Sociais e Religiosos da Organização Internacional do Trabalho (ILO) em França, Pierre Martinot-Lagarde, considera que, face às actuais crises que o mundo atravessa, “é premente questionar, desde logo reconhecendo que não existe uma única crise”.

Pierre Martinot-Lagarde – © Arlindo Homem

Em primeiro lugar, “é necessário um regresso aos tempos em que as pessoas viviam nas zonas rurais” para enfrentar a actual crise ecológica: “não se trata de um regresso ao passado” mas, e perante as muitas transformações que emergem na Europa, “de fazer uma transição que não tem de ser negativa”, antes, deve ser encarada com optimismo.

Em segundo, há que questionar se temos de equacionar o crescimento tecnológico unicamente em função do crescimento económico. Como indaga Pierre Martinot-Lagarde, “não haverá outras formas de olhar o desenvolvimento social?” Seguramente que sim, por exemplo alterando o ambiente das ONG e criando mais ligações ao tecido empresarial, afirma. “O desenvolvimento social deve andar de mãos dadas com o crescimento económico” e, para tanto, há que “voltar à antropologia e construir uma visão holística”.Para esta visão muito contribuem as organizações que trabalham para a paz social e para a justiça, caso da ILO em França.

Paralelamente, “temos que olhar para as novas formas de inovação social e de empreendedorismo”, na perspectiva da teoria de Ford, bem como para os avanços na saúde e na educação que ocorrem desde a revolução industrial do século XIX, “melhorando as expectativas” do progresso, e ainda para o novo ambiente urbano das famílias. Todos estes factores devem estar interligados, mas sem reduzir tudo a uma só realidade (tecnológica), acredita o demógrafo.

[quote_center]Não temos de equacionar o crescimento tecnológico unicamente em função do crescimento económico – Pierre Martinot-Lagarde[/quote_center]

Neste contexto, a mudança em curso “tem a magnitude de outras, no passado”, e “não nos deve assustar”, alerta o Conselheiro para os Assuntos Sociais e Religiosos da ILO em França. Mas antes ser endereçada em conjunto, e retomando a ideologia da Doutrina Social da Igreja tal como a defendia o Papa Paulo VI: algo que “tem que ver com o discernimento de todos”. É necessário “partir do nível local para o todo” e, essencialmente, “não devemos ter medo”, sublinha.

Este sentido do discernimento prende-se com “os processos que nos fazem ou não felizes”, com os “sentimentos” e com a articulação de visões que permitam “a construção de um futuro, sem esquecer o passado”. O futuro é incerto, mas há muitas opções para “encontrar novas formas de solidariedade” (em articulação com as ONG) e de “capacitação individual” que alterem, por exemplo, a realidade “da ausência de emprego”. Pois, tal como os migrantes e os trabalhadores rurais reinventam a cada dia a sua vida, as empresas devem impor “critérios que sejam aplicados em conjunto”, reinventando-se “com base nos valores da dignidade e da solidariedade”, como defende o Vaticano no seu documento “Il Lavoro et Dignitate”, tal como recordou o moderador, Robert Vitillo.

Aprender para trabalhar vai alterar o paradigma

O futuro do trabalho “é fascinante e provoca reacções controversas”. É com esta convicção que Silvia Taurozzi, directora da Fundação IRRADIA, uma ONG argentina que apoia oportunidades de desenvolvimento a nível regional, perspectiva a reflexão sobre a temática em debate no último dia do Congresso Mundial da UNIAPAC, realizado em Lisboa.

Silvia Taurozzi – © Arlindo Homem

A nível global, os resultados deste debate são muito distintos, e de difícil compreensão, mas inegável é que “o impacto da tecnologia e da automação melhorou as nossas vidas”, diz. E se “a nossa aprendizagem cresce linearmente”, já “a inovação tecnológica cresce exponencialmente”. Actualmente, encontramo-nos “num ponto vulnerável, complexo e ambíguo”, o que acarreta “a necessidade de [termos] mais líderes mundiais para conduzir esta transição” conclui.

Referindo-se a um estudo recente da McKinsey, Silvia Taurozzi recorda que em apenas 15 anos 30% dos trabalhadores serão substituídos por processos automatizados (especialmente no que toca tarefas repetitivas). Este dado significa que cerca de 400 milhões de pessoas “terão de repensar a sua forma de vida no futuro”. Mas “não é preciso preocuparmo-nos, pois vamos encontrar novas formas de trabalho e as pessoas vão poder escolher trabalhar menos e ter mais tempo”, acredita. Segundo o mesmo estudo, “existirão empregos suficientes, criados pelo sector tecnológico”.

Estamos pois, perante “uma grande oportunidade de reinvenção dos negócios” e existem muitos tópicos que, ainda que “complexos”, se revelam “inovadores para as novas lideranças”. Desde logo, os gestores terão de ter “uma visão mais abrangente do seu negócio, que vá para além da comunidade”. Depois, há “a necessidade de avaliar novas estratégias e talentos e capacidades” – neste aspecto, “as empresas, publicas ou privadas, terão de recapacitar as suas forças laborais, dentro do seu sector de actividade”, alerta a directora da Fundação IRRADIA. Neste contexto, “aprender para trabalhar é o conceito que vai alterar o paradigma”, sublinha, exemplificando: “podemos integrar as jovens mulheres que estão fora do mundo do trabalho”, em muitos países, como se concluiu recentemente numa reunião do G20.

No que concerne rendimentos, é sabido que “os salários [em geral] se mantiveram estáveis”, ao mesmo tempo que os dos gestores “de topo cresceram imenso”. Para Silvia Taurozzi, “só com ética e novas formas de estratégia” de gestão será possível reduzir as desigualdades salariais. O mesmo é válido para as desigualdades no feminino, defende, sabendo-se que 57% do trabalho temporário ainda é realizado por mulheres, que continuam a ser as principais “cuidadoras de crianças e dos mais velhos”. Face a esta realidade, há que ultrapassar as “dificuldades de adaptação, por parte das empresas, ao trabalho flexível”.

[quote_center]Estamos perante uma grande oportunidade de reinvenção dos negócios e das novas lideranças – Silvia Taurozzi[/quote_center]

Hoje, “as estruturas estão a alterar-se, com cada vez mais pessoas [a trabalhar] fora das empresas”. Relacionamo-nos mais com terceiros, desenvolvemos novas formas de interagir com outras empresas. É a gig economy no seu expoente, com resultados previsivelmente “muito positivos”.

Finalmente, e na perspectiva da responsável da organização argentina, os países têm a responsabilidade de criar políticas que permitam o envolvimento dos governos (quer a nível nacional quer a nível local) com as empresas e as ONG. Devem estabelecer-se parcerias e valorizar-se a “terciarização”, fundamental, por exemplo, para criar códigos de conduta para os jovens.

Acima de tudo, e antes de mais, “temos de sair da nossa zona de conforto para aprender muito, mas sendo humildes”, defende a directora da Fundação IRRADIA, concluindo: “a liderança não envolve uma pessoa, mas a todos”.

Terão de ser accionados programas de formação alinhados com as tendências

Para o presidente do Conselho de Administração do Grupo AXA, Denis Duverne, o futuro do trabalho pode analisar-se a partir de quatro grandes dimensões: empregabilidade; bem-estar dos colaboradores; finalidade nobre da empresa; e integração da empresa na sociedade.

Denis Duverne – © Arlindo Homem

Na primeira dimensão, e considerando que “40% a 50% dos empregos vão mudar nos próximos cinco a dez anos”, porque se tornam obsoletos ou redundantes, é previsível uma transformação do emprego (tal como o conhecemos) a nível global, e particularmente na Europa, onde há menos flexibilidade laboral. Será necessário um novo “plano estratégico para a mão-de-obra que não torne também as pessoas redundantes”, partilhado entre vários organismos a nível europeu e a nível nacional, e terão de ser accionados programas avançados de formação alinhados com as tendências do futuro do trabalho, como a AXA faz já com os seus colaboradores. Mas “isso não é suficiente”, adianta Denis Duverne.

Os modelos emergentes de trabalho ditam que os colaboradores “trabalharão cada vez mais a partir de casa (em média, dois dias por semana), sem terem um posto de trabalho fixo na empresa”, o que implica “melhores empresários, que sejam capazes de gerir com base em objectivos e resultados, ao invés de uma supervisão apertada”. Em suma, os líderes têm de “apreender os conceitos da subsidiariedade”. E esta realidade prende-se com a dimensão do bem-estar dos colaboradores, porque o aumento da subcontratação e a redução do número de contratos de trabalho gera menor protecção no trabalho.

Cumulativamente, e atendendo à perda da tradição de os trabalhadores permanecerem nas empresas durante várias gerações, o que criava ligações sociais entre os mesmos e as suas entidades patronais, verifica-se “um decréscimo da lealdade entre colaboradores e gestores”, nos dois sentidos (e particularmente por parte dos trabalhadores jovens, que encaram o mercado de trabalho a partir de uma perspectiva totalmente distinta).

Por outro lado, a proliferação de equipamentos tecnológicos, como smartphones, computadores portáteis e tablets, leva a que “os colaboradores estejam permanentemente conectados à empresa”. A AXA implementa um programa denominado “Working better together”, lançado por iniciativa de Denis Duverne, e no âmbito do qual os colaboradores são incitados a não responder a e-mails de trabalho depois do horário laboral ou aos fins-de-semana, e não se realizam reuniões antes das 9h00 ou depois das 18h00, entre outras medidas de conciliação família-trabalho, de igualdade de género (considerando que são as mulheres quem continua a despender mais horas com as tarefas inerentes aos filhos) e de prevenção dos riscos de burnout (contrariando o “incremento massivo de problemas psiquiátricos originados pelas condições de trabalho”), explica o presidente da AXA.

[quote_center]Será necessário um novo plano estratégico para as forças de trabalho que não torne as pessoas redundantes – Denis Duverne[/quote_center]

Defendendo que a responsabilidade corporativa não é algo exterior à estratégia da empresa e tem de estar alinhada com a mesma, contribuindo para a retenção dos recursos humanos, Denis Duverne, sublinha que, e no âmbito da terceira dimensão do futuro do trabalho – a finalidade ou propósito nobre da empresa -, uma das vocações da AXA “é proteger as suas pessoas, os colaboradores”. Outra é “proteger os seus clientes, ajudando-os a viver melhor”.

E, atendendo à actividade que o grupo desenvolve – o ramo dos seguros, incluindo coberturas contra fenómenos naturais, como cheias e furações – a empresa tem actuado de uma forma muito expressiva relativamente às alterações climáticas. Na COP 21, a AXA “foi uma das primeiras empresas a afirmar que iria abandonar o carvão”, assegura Denis Duverne. No que respeita a seguros de saúde, “afastámo-nos do sector do tabaco” e “desenvolvemos campanhas antitabagismo”. E a empresa tem estado na linha da frente no que respeita à promoção das energias limpas e na investigação em áreas como a previsão de inundações e outros desastres naturais.

Finalmente, quanto à dimensão da integração da empresa na sociedade, e através da sua associação, a AXA defende a integração de todos os seus stakeholders, desenvolvendo programas que incentivam os seus colaboradores a trabalharem como voluntários, nas áreas da educação, habitação ou necessidades especiais. De igual modo, a empresa encoraja os seus líderes a fazerem team buildings solidários. E 10% dos resultados anuais do grupo são destinados a organizações de solidariedade. Porque, “enquanto líderes, temos de reconhecer que geralmente ganhamos bem” e esse é um factor acrescido para o compromisso com os projectos sociais, remata Denis Duverne.

Entre a gestão zero e a gestão de topo

O último orador dos muitos que participaram, ao longo de três dias, no Congresso Mundial da UNIAPAC, organizado em parceria com a Associação Cristã de Empresários e Gestores, iniciou a sua intervenção com uma questão relevante. Perante uma plateia de cerca de 450 pessoas, o professor Paul Dembinski, director da Fundação L’Observatoire de la Finance, sugeriu que “quanto ao futuro do trabalho, há que indagar primeiro: será que conhecemos o seu presente?” É que muitas vezes estamos demasiado preocupados com o que aí virá, e “esquecemo-nos de olhar para o presente”.

Paul Dembinski – © Arlindo Homem

Para o economista, “tem de ficar claro que o conceito económico é extremamente assimétrico quanto às relações laborais”. E para que se perceba a dimensão do significado desta afirmação, Paul Dembinski exemplifica: “desconhecemos o que se passa nas zonas rurais”, em muitos países. “30% a 40% do conhecimento estatístico sobre as forças laborais não inclui esta gente”. E a realidade é que “grande parte do trabalho nos países em desenvolvimento é de subsistência”, especialmente nestas zonas agrícolas. Por outro lado, o trabalho doméstico, e a passagem de cada vez mais pessoas do trabalho formal para mercados informais paralelos, devido aos crescentes desafios globais, como as migrações, “também não entram nas estatísticas”, denuncia. Acresce que o denominado “trabalho-sombra”, isto é, o tempo que despendemos em transportes diários, por exemplo, de casa para o trabalho e do trabalho para casa (especialmente elevado nos grandes centros urbanos), não é, igualmente, contabilizado, embora e cada vez mais, graças às tecnologias, permita a ocupação com outras tarefas. É, portanto, necessário, conhecer melhor o presente do trabalho, incluindo dados sobre todos estes factores nas reflexões e estudos sobre esta matéria, explica o professor.

Por outro lado, “pensar o futuro do trabalho implica pensar no futuro das empresas”, perspectiva Paul Dembinski. Afinal, as estruturas são muito variáveis e há microempresas com apenas um a dez trabalhadores. Faltam conceitos rigorosos para entender as diferenças entre estas e as grandes corporações, diz. Nas multinacionais “os limites vão muito para além dos activos”. Importam “as cadeias de valor e as relações de poder, que não são [de todo] simétricas nem estáveis”. Na opinião do economista, pela sua dimensão “gigante”, “estas empresas são novos agentes políticos que limitam e influenciam o mundo em que vivemos, a longo prazo”, e que através dos “avanços tecnológicos moldam cada vez mais o nosso futuro”.

[quote_center]É necessário, conhecer melhor o presente do trabalho para perspectivar o futuro – Paul Dembinski[/quote_center]

Devemos, assim, “desejar que a determinado momento [tão depressa quanto possível] surja um novo modelo empresarial”, um modelo efectivamente assente nos negócios enquanto uma vocação nobre.

Perante os efeitos, muitas vezes nefastos, da globalização e da concentração de poder, por um lado – que afectam as grandes empresas -, e dos constrangimentos próprios das microempresas (“é preciso não confundir empreendedorismo com necessidade de sobrevivência”), por outro, “é fundamental criar novas empresas que respondam aos desafios sociais”. Como reflecte o director da Fundação L’Observatoire de la Finance, “devemos ser prudentes quanto ao espírito de iniciativa”, pois este de pouco serve se não resultar em lideranças responsáveis, tal como devemos ser prudentes quando usamos a palavra “empresário”, considerando “as tentações que se colocam à gestão”.

“Fragmentação e vulnerabilidade” são, infelizmente, dois vocábulos demasiado presentes no dicionário da Gestão, recorda Paul Dembinski, e é premente pensar e falar mais em “integração”, independentemente “da ética ou da moralidade de cada líder”. Só com ela poderemos verdadeiramente enfrentar a complexidade do mundo empresarial.

Em conclusão, “a vocação tem que ver com a liderança certa”, e a verdade é que está “espartilhada entre a gestão zero e a gestão de topo”. Integrar para desfragmentar é, assim, uma vocação nobre, que cada líder deve abraçar com dignidade. E partilhando, perante todos os seus stakeholders, aquela que foi a palavra mais retida pelas centenas de empresários e gestores católicos de todo o mundo que participaram neste XXVI Congresso Mundial da UNIAPAC, em Lisboa: Inspiração.


Ramon del Rosario Jr. recebendo o Prémio “Business as a Noble Vocation” – © Arlindo Homem

A educação é a mais nobre vocação

A UNIAPAC instituiu, nesta 26ª edição do seu Congresso Mundial, o Prémio “Business as a Noble Vocation”. Distinguir líderes empresariais que desenvolvem os seus negócios não apenas em benefício próprio mas contribuindo para o Bem Comum – isto é, como uma vocação nobre, é o objectivo deste galardão, que foi atribuído pela primeira vez em Lisboa, em três categorias distintas: Transformação pessoal do líder empresarial; Construção de culturas organizacionais mais humanas; e Criação de negócios orientados para o Bem Comum – as quais, de resto, foram as três pedras basilares para o debate realizado entre líderes empresariais, de organizações sociais e académicos, a propósito da relevância de desenvolver novos modelos empresariais que lutem contra a globalização da indiferença, através de princípios de reciprocidade, solidariedade e subsidiariedade.

Entre dezenas de candidaturas (assentes em business cases) submetidas nos quatro continentes, o Prémio distinguiu quatro finalistas regionais – Aimé Sène, do Senegal (África), Nathan Shabot Marcos, do México (América Latina), Ramon del Rosario Jr., das Filipinas (Ásia) e Augustin Mujyarugamba, da Itália (Europa).

O grande vencedor do Prémio “Business as a Noble Vocation” foi Ramon del Rosario Jr., pelo seu contributo para a gestão, a educação e a cultura no seu país. O filipino é presidente executivo do Grupo PHINMA – Philippine Investment Management, que tem investimentos nos sectores da energia, indústria siderúrgica, hotelaria e consultoria, mas também nas áreas da educação e habitação. Num país onde “a pobreza desumanizada continua a ser a realidade de milhões de pessoas”, Ramon del Rosario Jr. tornou as suas empresas num exemplo de responsabilidade social, alargando a sua missão de criação de empregos e pagamento de salários justos ao desenvolvimento de inúmeras iniciativas “que impactam directamente na vida dos mais pobres”, fornecendo-lhes bens e serviços que dão resposta às suas necessidades mais prementes a custos reduzidos, e implementando programas de educação dirigidos às famílias mais vulneráveis, como os filhos de agricultores e de vendedores de rua, para além de colaborar, através de diversas redes institucionais, em programas de formação para professores, em parceria com os organismos estatais do sector educativo.

Distinguido com vários prémios pelos seus esforços enquanto gestor (nomeadamente nas áreas da Banca e Finanças), agente educativo e cidadão de excelência, Ramon del Rosario Jr. é ainda presidente do Museu Nacional das Filipinas, presidente do PBEd – Philippine Business for Education e membro da Associação de Gestores das Filipinas. Nas suas palavras, proferidas aquando da recepção do Prémio atribuído pela UNIAPAC, “acredito que o verdadeiro papel dos líderes, e mesmo o de todos os membros da raça humana, é tornar o mundo melhor”. Contudo, “não faço nada de heróico, mas apenas aquilo que está correcto, e que, de resto, adoro fazer”.

Como sublinhou, na apresentação deste Prémio, o presidente da UNIAPAC, Rolando Medeiros, “se no próximo Congresso Mundial da UNIAPAC, [a realizar nas Filipinas, em 2021], tivermos três candidaturas por cada 40 associações, em média, conseguiremos produzir um livro com 120 business cases, que irão contribuir para espalhar a mensagem sobre a visão essencial da UNIAPAC sobre o que significa liderar os negócios como uma vocação nobre”.

Este prémio permitirá, assim, ilustrar as boas práticas  de líderes empresariais e de organizações sem fins lucrativos que partilham os seus ideais de uma liderança que coloca o ser humano no centro de qualquer estratégia de negócio. E que lutam todos os dias para que tal aconteça.