Portugal encontra-se numa “onda” claramente negativa, de quase todos os pontos de vista do funcionamento colectivo, e, se alguma surpresa pode haver nos resultados do Barómetro de Inovação da COTEC, é o facto de a queda ser tão moderada. Para se ter uma ideia da adversidade das condições em que hoje se processa a inovação no nosso País, na componente “financiamento” Portugal caiu, num ano, 21 posições, do 10.º para o 31.º lugar
POR DANIEL BESSA*

A COTEC Portugal mantém, desde há alguns anos, um Barómetro de Inovação, disponível ao público em geral, através do seu site. Para além de uma área de boas práticas de inovação, o Barómetro trata a informação estatística que vai sendo produzida, tendo criado um ranking de inovação (barómetro propriamente dito), e mantém em funcionamento um Painel de Opinião, em que 24 personalidades conhecidas avaliam as políticas de inovação no nosso País.

Os últimos resultados do Barómetro foram publicados em Fevereiro. Entre 52 países analisados (OCDE, mais um reduzido número de países), Portugal é agora o 31.º classificado, tendo caído um lugar em relação aos resultados divulgados em 2012. Já em Março, o Painel de Opinião avaliou as políticas de inovação no nosso País em 3,65, numa escala de 1 (mínimo) a 7 (máximo): um resultado claramente negativo, abaixo dos 4,16 apurados em 2012 e dos 4,3 apurados em 2011.

Em comentário público sobre estes resultados, tive já oportunidade de emitir a opinião de que não constituem surpresa. Portugal encontra-se numa “onda” claramente negativa, de quase todos os pontos de vista do nosso funcionamento colectivo, e, se alguma surpresa pode haver nos resultados acima, sobretudo ao nível das estatísticas, é o facto de a queda ser tão moderada – para se ter uma ideia da adversidade das condições em que hoje se processa a inovação no nosso País, poderíamos referir que na componente “financiamento”, uma das mais importantes, Portugal caiu, num ano, 21 posições, do 10.º lugar, apurado em 2012, para o 31.º lugar, observado em 2013.

Num ambiente adverso, as empresas têm necessidade de se focar em novos produtos e mercados, e em novas formas de fazerem negócio .
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Numa conjuntura tão negativa e num ambiente tão deprimido como o que atravessamos, estes resultados são naturais. O problema não reside na queda que se observa mas em encontrar o momento de inversão desta tendência negativa, com regresso ao crescimento. Se bem avaliamos, os indicadores de inovação serão dos primeiros a recuperar, muito antes de variáveis mais “pesadas”, como o PIB, o consumo interno ou o emprego, cuja recuperação levará mais tempo.

Num contexto de grande incerteza, o programa de ajustamento em curso na economia portuguesa haverá de correr bem, ou mal. Se, por desgraça, correr mal, correrá mal por muito tempo, reflectindo-se de forma bastante negativa em todos os indicadores da nossa vida colectiva, durante muitos anos. Se correr bem, alguns destes indicadores – aquilo que os economistas consideram leading indicators, ou indicadores avançados, isto é, variáveis cuja recuperação se inicia mais cedo – começarão a recuperar muito rapidamente, prenunciando a recuperação de todas as outras.

Nas condições concretas da economia portuguesa, hoje em dia, o mais avançado de todos os indicadores é a taxa de juro da dívida pública. Seguem-se as condições de financiamento da banca e as taxas de juro praticadas na relação entre a banca e os seus clientes. Ainda em matéria de financiamento, é de esperar que programas de incentivo financeiro e fiscal ao investimento e, neste, ao investimento mais inovador, sejam dos primeiros a arrancar, logo que tal comece a ser permitido pela melhoria da situação das finanças públicas.

Numa frente mais interna, é de esperar que as empresas, sobretudo as mais ágeis, melhorem consideravelmente a eficiência dos seus processos de inovação. Num ambiente adverso, será maior a necessidade de se focarem na produção de novos produtos, na conquista de novos clientes e de novos mercados, em novas formas de fazerem negócio (em particular, numa integração mais eficiente nas cadeias de abastecimento globais).

Com melhores condições de financiamento, e com processos de inovação mais eficientes, espero que Portugal possa vir a recuperar rapidamente em todas as frentes trabalhadas pelo Barómetro de Inovação da COTEC. Seria um óptimo sinal.

Director-Geral da COTEC Portugal