Mais brevemente do que pensamos, os factores ambientais farão parte da contabilidade das empresas, sendo necessário que estas tomem consciência desta mudança e comecem a encarar os temas ambientais como factores verdadeiramente diferenciadores e competitivos. E dado que tudo isto será fundamental para a competitividade, onde podem as empresas, as autarquias e os centros de investigação obter algum apoio financeiro para darem os primeiros passos? Podem, por exemplo, recorrer ao Portugal 2020
POR SOFIA SANTOS

A Economia Verde parece estar a ganhar terreno no espaço político, fiscal e económico, com o actual Governo a realizar um esforço significativo na sua colocação na agenda política e empresarial. Se uma das medidas mais emblemáticas foi a relacionada com a compra obrigatória de sacos de plástico nos supermercados e lojas, o enquadramento internacional diz-nos que estes passos são apenas os primeiros. Os factores ambientais farão parte da contabilidade das empresas dentro de 10 anos, sendo necessário que estas tomem consciência desta mudança e comecem a encarar os temas ambientais como factores verdadeiramente diferenciadores e competitivos.

Analisando algumas tendências, é possível afirmar que existe uma grande probabilidade da Economia Verde passar a ser o novo modelo económico a médio prazo, leia-se a 10 ou 15 anos, mas com impactos já no curto prazo, ou seja, dentro de 3 a 5 anos.

Veja-se porquê:

Ao nível legal:

Existe um conjunto de compromissos assumidos pela Comissão Europeia e pelos Estados-membros que indiciam que, dentro de cinco a dez anos, muita obrigatoriedade será criada para que as empresas e autarquias consigam incorporar o ambiente nas suas decisões económicas. Na realidade, a contabilidade nacional vai ser obrigada, em 2020, a incluir o valor monetário dos activos e passivos ambientais, o que acarreta mudanças fundamentais para todos os agentes económicos. E para os mais cépticos que não acreditam que em 2020 tal será exigido, não restam dúvidas de que será para muito perto dessa data, até porque vários documentos estratégico europeus o confirmam:

  • O Plano Estratégico da Convenção para a Biodiversidade exige que os valores da biodiversidade sejam integrados nas estratégias nacionais de desenvolvimento e nas contas nacionais em 2020;
  • A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020 exige aos Estados-membros a avaliação do valor económico dos serviços dos ecossistemas e a sua integração nos sistemas de contabilidade em nível nacional;
  • Portugal assinou um compromisso com as Nações Unidas no sentido de, pelo menos em 2020, as empresas e as autarquias deverem conseguir quantificar monetariamente os seus activos e passivos ambientais.

O mundo da biologia terá assim de aproximar do mundo da economia.

Ao nível da economia de mercado:

  • Existe um interesse crescente por parte do consumidor em consumir bens “amigos do ambiente” e com menor impacto social;
  • Alguns países europeus servem já de exemplo de como a política fiscal pode induzir a produção e consumo de bens “mais amigos do ambiente”;
  • Existe uma pressão crescente sobre algumas empresas para o cumprimento de boas práticas ao nível da construção e reabilitação sustentável;
  • O conceito da Economia Circular está a registar uma importância crescente nos grupos de inovação e desenvolvimento das empresas;
  • Existem exemplos de grandes empresas, como a Siemens, a General Electric, Toyota, entre muitas outras, que viram no ambiente factores competitivos e diferenciadores;
  • E cresce o número de micro e pequenas empresas, criadas por empreendedores sustentáveis, que conseguem exportar e criar empregos.

Na realidade, a Comissão Europeia estima que entre 2014 e 2020 se poderão criar cerca de 20 milhões de novos postos de trabalho “verdes” na Europa. Algo que, urgentemente, todos os países europeus necessitam: emprego.

Onde está o dinheiro para promover esta investigação?

E como conseguirão as autarquias e as empresas avançar neste processo tão inovador? Em primeiro lugar, terão de realizar a valorização dos serviços dos ecossistemas, isto é, atribuir um valor económico aos activos e passivos ambientais sobre os quais têm impacto. As empresas terão de começar a introduzir estes temas no processo de inovação, na abordagem de mercado, no marketing, nos argumentos de venda, etc. .

Na medida em que tudo isto será novo e fundamental para a competitividade das empresas, daqui a 5 ou 10 anos, onde podem as empresas, as autarquias, os centros de investigação, entre outros, obter algum apoio financeiro para darem os primeiros passos? Podem, por exemplo, recorrer ao Portugal 2020.

Apesar de neste programa de financiamento não existir uma referência específica à “Economia Verde”, ela é possível de ser integrada. Na realidade, as autarquias e centros de investigação têm financiamento disponível para darem início aos trabalhos para o cálculo da valorização dos serviços dos ecossistemas, recorrendo ao POSEUR. As PME podem recorrer aos avisos de “Qualificação”, “Inovação” e “Investigação em I&D”. Existem, assim, fundos públicos capazes de dividir com as organizações os custos e riscos associados à inovação na área da economia verde. É apenas necessário que, quer as autarquias quer as PME, consigam compreender que esta oportunidade não deve ser perdida.


Economia Verde

É a dinâmica inerente a um ecossistema que promove o bem-estar, a equidade e a iniciativa empresarial, conseguindo em simultâneo reduzir os riscos ambientais e escassez ecológica. Nesta economia, o investimento, a inovação e a educação deverão ser incentivados, de forma a promover um novo crescimento económico que assenta numa utilização eficiente dos recursos e numa exploração equilibrada dos activos ambientais, sociais e culturais, capazes de gerar negócios e de criar emprego”(Fonte: Consórcio para a Economia Verde).

Crescimento Verde

Resulta de um ecossistema que assenta no conceito da economia circular. Este crescimento é “verde”, uma vez que em toda a cadeia de valor do produto e serviço, pretende-se minimizar o impacto ambiental, maximizar a reutilização dos bens e diminuir os riscos ambientais e os seus impactos nas pessoas e nas empresas” (Fonte: Consórcio para a Economia Verde).


CEO da Systemic