O Zmar é um eco-camping resort que alia um destino em tudo sustentável (o empreendimento é construído em madeira, e não tem um único tijolo assente no chão) ao conforto de um hotel de luxo. Neste espaço ideal para umas férias em sintonia com a paisagem natural, as estratégias ambientais mais sofisticadas – incluindo uma floresta certificada e uma ETA e uma ETAR próprias – convivem diariamente com a sensibilização dos clientes, que “quase instintivamente criam hábitos ecológicos”
POR GABRIELA COSTA

© ZMar

O eco-camping resort ZMar é um empreendimento com capacidade para três mil pessoas que recebe, desde 2009, turistas com consciência ambiental, que procuram destinos sustentáveis mas com o conforto e os serviços de um hotel de 5 estrelas. A ideia para este projecto de ecoturismo localizado em Odemira nasceu de uma premissa – “o exemplo é a única forma de influenciar alguém”, e de uma visão para o futuro – o turismo no século XXI deve ser sustentável.

Sem ter um tijolo sequer assente no chão, uma das principais preocupações neste espaço foi integrar o produto na paisagem natural: toda a construção é em madeira e sem impermeabilização dos solos. O empreendimento aposta ainda em estratégias ambientais como florestas certificadas, plástico reciclado no mobiliário exterior e na sinalética, aproveitamento da luz natural, painéis foto voltaicos, sensores de movimento, energia térmica, temporizadores para poupança de água e luz, compostagem e tratamento do lixo e até uma ETA e uma ETAR próprias.

No ZMar a sensibilização dos clientes para o respeito pelo meio ambiente é permanente: existem cerca de cem ecopontos espalhados pelo resort, todas as unidades de alojamento estão equipadas com painéis solares, a iluminação exterior é fotovoltaica, e são promovidas várias práticas ecológicas. As soluções ecológicas implementadas permitiram já enviar para reciclagem muitas toneladas de resíduos e reduzir os consumos de água, electricidade e gás, por hóspede.

O projecto, classificado de interesse nacional e certificado como eco-hotel, assenta numa ampla política ambiental, como explica, em entrevista ao VER, Francesca Mello Breyner, responsável do Departamento de Marketing e Comunicação do Zmar: “todas as medidas adoptadas são importantes”, já que “cada uma contribui, à sua maneira, para criarmos uma forma de turismo mais sustentável”. Segundo esta responsável, a divulgação regular de mensagens ‘eco’ “faz com que os clientes quase instintivamente criem hábitos ecológicos, o que torna um sucesso a nossa tentativa de divulgar a importância do desenvolvimento sustentável”.

Como nasceu a ideia de lançar, em Maio de 2009, um projecto de ecoturismo em pleno Alentejo?
Acreditando que o exemplo não é a melhor forma de influenciar alguém, é a única, criámos o Zmar de acordo com a nossa visão do futuro, e de como o turismo no século XXI deveria ser: sustentável.

Situado em Odemira, concelho que antes de contar com o Zmar tinha apenas cerca de setecentas camas, criámos um produto turístico e hoteleiro totalmente inovador, que alberga cerca de três mil pessoas, sem ter posto um tijolo no chão. Uma das principais preocupações foi integrar o produto na paisagem natural alentejana: toda a construção é em madeira, acima do solo (para não o impermeabilizar, que é um dos problemas ambientais mais contestados).

O empreendimento aposta em inúmeras estratégias sustentáveis. Que potencial encontraram no mercado nacional para este tipo de oferta turística, que alia o contacto com a natureza à promoção de práticas ambientais responsáveis?
A crescente consciência ambiental faz com que cada vez mais os clientes procurem destinos turísticos ‘amigos da natureza’, mas com todo o conforto e serviços de qualquer outra unidade hoteleira. O Zmar é a resposta para essa procura: um sítio que promove o turismo sustentável, mas que é acessível a todos, tem todos os serviços de um hotel de 5 estrelas (restaurante, Spa, supermercado, três piscinas, área para crianças, parque de divertimentos, área de desporto & aventura, entre outros).

Acredita que os portugueses têm hoje uma consciência para a cidadania (a nível ecológico, na defesa dos produtos locais, na promoção da diversidade intercultural, etc.) semelhante à dos turistas oriundos de outros destinos, como os ingleses e os alemães?
Ao contrário do que as pessoas pensam, os portugueses começam a ter uma crescente consciência ambiental. Li num artigo que Portugal é dos países da Europa que mais recicla. No entanto, continuamos atrás de países como a Suécia. No Zmar os clientes estão sempre a ser sensibilizados para o respeito para com o meio ambiente: disponibilizamos cerca de cem ecopontos (espalhados pelo resort), todas as unidades de alojamento estão equipadas com painéis solares, a iluminação exterior é fotovoltaica, e promovemos práticas ecológicas através de televisões instaladas nos espaços comuns.

Os portugueses adaptam-se facilmente a qualquer situação e num lugar como o Zmar, onde há respeito pelo meio ambiente, e onde disponibilizamos todos os meios para os clientes reciclarem, reparamos que efectivamente o cliente respeita, pois o Zmar respeita também. Mais uma vez, o exemplo não é a melhor forma de influenciar alguém, é a única!

Quando é que o projecto foi classificado de interesse nacional e quais foram os critérios que originaram essa distinção? Que medidas destaca na ampla política ambiental do Zmar?
Foi considerado projecto PIN (Projectos de Potencial Interesse Nacional) quando o Zmar estava ‘em papel’ ainda. Todas as medidas adoptadas pelo Zmar são importantes. Cada uma contribui à sua maneira para criarmos uma forma de turismo mais sustentável e que não prejudique o meio ambiente.

Que significado tem para o crescimento do negócio deste resort ter sido certificado como eco-hotel graças às soluções ecológicas implementadas?
Ainda na fase da construção começámos a trabalhar nesse processo com a TUV Rheinland, que foi a entidade que nos atribuiu a certificação. Foi muito importante para nós sermos distinguidos como ‘eco-hotel’.

De que importância se reveste, para a promoção do desenvolvimento sustentável, o envolvimento dos clientes do Zmar em inúmeras acções ambientais, como a separação de resíduos e a poupança de recursos naturais?
Sem a cooperação dos clientes o resultado não fica totalmente atingido. A permanente divulgação de mensagens eco faz com que os nossos clientes quase instintivamente criem hábitos “ecológicos”, o que torna um sucesso a nossa tentativa de implementar a importância do desenvolvimento sustentável na mente das pessoas.

Concretamente em relação às iniciativas de educação ambiental com as escolas, que balanço faz dos programas educativos que têm implementado ao longo dos anos lectivos?
A educação ambiental é o lema da Casa da Criança. Ao longo do ano tentamos em todas as nossas acções sensibilizar as crianças para a importância da reciclagem (política 3 R´s) para ajudar à redução de resíduos, dos cuidados a ter com a poupança de água e de energia, e a motivar para a necessidade de mudança de atitudes e adopção de comportamentos sustentáveis no quotidiano, quer ao nível pessoal, familiar ou comunitário.

Através da participação nos nossos ateliers (gratuitos) as crianças conseguem descobrir novas formas de brincar, pois são elas mesmas que constroem os seus brinquedos e fazem presentes para os pais e amigos, descobrindo como fazer novo e bonito algo que era velho e feio. Tudo isto com o “lixo” que produzimos diariamente.
A Casa da Criança está inscrita no programa eco-escolas e aguarda em Setembro a atribuição do galardão bandeira verde que visa encorajar acções, reconhecer e premiar o trabalho desenvolvido pela escola na melhoria do seu desempenho ambiental, gestão do espaço escolar e sensibilização da comunidade.

Resta dizer que o empreendimento dispõe de brinquedos especialmente concebidos para crianças com mobilidade reduzida, bem como espaços dedicados a pessoas nessa condição.

Qual é a importância de acções como a primeira campanha de inventariação de micromamíferos no bosque de sobreiro, na área da biodiversidade, ou o centro de interpretação ambiental dedicado à flora, fauna, clima e vestígios ancestrais da região?
Os micromamíferos alvo desta primeira campanha de inventariação são os roedores (ordem rodentia) e os insectívoros (ordem insectívora). Trata-se de mamíferos de pequeno porte, tais como pequenos roedores (rato, ratazana, rato-do-campo, etc.) e musaranhos, entre outros.

O objectivo desta acção, cuja metodologia assenta na colocação de duas linhas de armadilhas paralelas à ribeira, junto da densa vegetação ribeirinha, é dar a conhecer que espécies de micromamíferos vivem numa das zonas naturais do empreendimento Zmar.

As armadilhas, que permaneceram instaladas durante dois dias e duas noites no local, foram iscadas com alimento apropriado, e os animais foram identificados e soltos de imediato no mesmo local.

No total, foram capturados dezassete animais pertencentes a três espécies de micromamíferos, que são fonte de alimento de mamíferos, répteis e aves, e elementos essenciais no equilíbrio do ecossistema.

O bosque de sobreiro do Zmar é muito interessante como habitat para mamíferos, tendo já sido observados animais ou evidências da presença de ouriços-cacheiros, coelhos, lebres, saca-rabos, javalis, e raposas nesta área, ou nas vizinhanças.

Como comenta os inúmeros prémios que o Zmar já arrecadou em três anos, enquanto empreendimento de turismo sustentável?
Encaramos esses prémios como um reconhecimento, por parte de todas essas entidades, de que estamos a fazer as coisas certas no caminho certo.