Trabalhadores valorizados são mais produtivos e empenhados. A premissa não é nova, mas continua a ser repetida nos diversos inquéritos realizados junto da força laboral, fazendo parte também de dois estudos em análise neste artigo. Por um lado, o estudo “Why your workforce isn’t working”, produzido pela Sage, revela que a produtividade das empresas pode aumentar se estas proporcionarem experiências positivas aos seus colaboradores. Por outro, o estudo “Vocation Frustration”, realizado pela Staples, indica que 97% dos trabalhadores sentem algum tipo de frustração na sua profissão e que isso se deve, pelo menos em parte, à inexistência de locais de trabalho atractivos e estimulantes
POR MÁRIA POMBO

A produtividade é essencial ao crescimento económico e social, sendo um dos melhores caminhos que ajudam a melhor a qualidade de vida da população de um país ou região. Quem o diz é Christine Lagarde, num artigo publicado no Fundo Monetário Internacional, em 2017. E já que este é um importante factor de crescimento, os líderes e os departamentos de recursos humanos das empresas devem ter a capacidade de motivar os seus trabalhadores e demonstrar-lhes que são peças fundamentais para o sucesso, devendo ser ouvidos e compreendidos por aqueles que ocupam os cargos de chefia.

A verdade é que todos gostaríamos de nos sentir realizados no trabalho e de acreditar que não poderíamos ter escolhido uma empresa melhor para exercer a nossa profissão. Todos procuramos acordar com um sorriso e com a convicção de que somos trabalhadores focados, felizes e realizados. Todos gostaríamos de ver reconhecido o nosso esforço e saber que os empregadores nos consideram importantes para o sucesso dos seus negócios.

Porém, não é essa a realidade para a maioria. No mesmo artigo anteriormente citado, a directora-geral do FMI explica que a produtividade tem vindo a diminuir nos últimos anos, reforçando que “se esta estivesse actualmente ao nível que estava na era pré-crise, o PIB mundial seria 5% superior ao que é” – sendo esse valor equivalente a “juntar mais do que outro Japão à economia global”. Os motivos para este decréscimo são variados: redução de incentivos à educação e ao emprego, aumento das desigualdades sociais, perda de regalias por parte dos mais desfavorecidos, descontentamento e frustração face à profissão que se exerce ou ao local onde se trabalha, entre outros.

E diversos são os estudos que afirmam que estamos perante uma crise de motivação no contexto laboral e a atravessar uma época onde muitos trabalhadores se sentem desligados e “desprendidos” do trabalho.

© DR

Gestores e colaboradores têm visões discrepantes e necessidades diferentes

De acordo com o estudo “Why your workforce isn’t working”, apresentado recentemente pela Sage People, 66% dos trabalhadores dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido revelam estar pouco ou nada comprometidos com o trabalho, e apenas um em cada três cidadãos revela sentir-se motivado e produtivo. Adicionalmente, no estudo “Vocation Frustration”, realizado pela Staples, 97% dos trabalhadores do Reino Unido afirmam ter um sentimento de frustração no trabalho e 89% pensam em mudar de empresa ou profissão.

Embora os estudos contem apenas com respostas de trabalhadores de três países, os resultados espelham bem aquilo que se passa a nível mundial, sendo visível que os cidadãos se encontram desmotivados e descontentes e que, ao contrário do que gostariam, não se sentem felizes nem preenchidos na sua actividade profissional. E, apesar de serem estudos diferentes, os mesmos complementam-se, já que o primeiro aborda os motivos que levam os trabalhadores a não serem produtivos e o segundo procura encontrar razões para a sua frustração e vontade de mudar de empresa ou profissão.

O estudo da Sage revela que os colaboradores trabalham cerca de 30 horas por semana (quando deveriam trabalhar 40), o que equivale a 3,75 dias de trabalho (em cinco), o que pode explicar os baixos valores das empresas em termos de produtividade. Porém, o documento também revela que 78% dos trabalhadores são mais produtivos quando têm experiências positivas no local de trabalho, sendo esta realidade ainda mais visível junto dos colaboradores da geração millennial (92%), o que revela que “experiências positivas no trabalho” não são comuns no contexto laboral da actualidade.

Importa explicar – tal como fazem os autores do documento – que quando se fala em boas experiências não se pretende apenas destacar a alegria, o bom ambiente no trabalho ou a flexibilidade de horários. De acordo com o documento, as experiências positivas no local de trabalho são o resultado da boa relação entre as empresas e os seus colaboradores, pelo que os departamentos de recursos humanos devem ter a capacidade de divisar as forças e as fraquezas de cada funcionário e, conhecendo-o, e procurar as melhores formas de este ser mais produtivo, aumentando o seu compromisso com a organização.

O estudo explica ainda que as startups vieram, entre outras coisas, modernizar os locais de trabalho, tornando-os mais apelativos que os “velhinhos” escritórios, nomeadamente através de uma variada oferta de comida saudável e de espaços de lazer apetrechados com mesas de ping-pong e outras distracções que, de acordo com 40% dos empregadores, são importantes para os trabalhadores. Porém, e curiosamente, essa não é a opinião partilhada pelos funcionários: 53% consideram que a existência deste tipo de lazer diminui a sua produtividade, sendo que apenas 5% consideram que e neste caso em articular, as mesas de ping-pong, são benéficas nos locais de trabalho. E estes resultados revelam uma clara discrepância entre aquilo que os gestores e os colaboradores consideram ser importante no sítio onde exercem a sua profissão.

Complementarmente, 47% dos inquiridos revelam nunca ter sido questionados pelos empregadores acerca das medidas ou estratégias que podem melhorar as suas experiências a nível laboral, sendo que apenas 12% revelam que a sua opinião é regularmente tida em conta.

Para além das boas experiências, o documento realizado pela Sage revela que 81% dos cidadãos valorizam a flexibilidade e a possibilidade de trabalharem remotamente, e 66% consideram que é importante serem reconhecidos por aquilo que fazem e pelo esforço que dedicam às empresas.

Por seu turno, 80% dos cidadãos que participaram no estudo da Staples concordam com a ideia de que locais de trabalho mais atractivos ajudam a aumentar a sua produtividade, 81% concordam que melhoram a sua saúde mental e 76% consideram que são uma boa estratégia para promover a retenção de talentos. Adicionalmente, o estudo conclui que 83% dos trabalhadores procuram acabar cada dia de trabalho com a sensação de que fizeram a diferença. Neste sentido, os autores do documento reforçam que “um bom ambiente de trabalho ajuda a população a sentir-se bem e a ter vontade de melhorar o seu desempenho”.

Já por parte da Sage são levantadas algumas questões bastante pertinentes e que estão relacionadas com o facto de os empregadores insistirem para que os clientes sejam ouvidos – o que faz todo o sentido, já que ir ao encontro dos consumidores e responder às suas necessidades é “a”  estratégia certa para aumentar os lucros – mas que raramente se dá atenção àquilo que é importante para os trabalhadores e que pode aumentar substancialmente o seu sentimento de pertença, o seu envolvimento nas organizações onde exercem funções e a sua vontade de dar a “extra mile” e contribuir verdadeiramente para o sucesso dos projectos onde colaboram.

© DR

O importante papel dos Recursos Humanos

Em jeito de conclusão, o estudo da Sage apresenta algumas ideias que, se forem tidas em conta pelos empresários e gestores, podem melhorar substancialmente as empresas e a sua relação com os funcionários.

O facto de a produtividade poder ser melhorada é a primeira ideia presente nesta “lista” e está directamente relacionada com o problema de os funcionários trabalharem menos dez horas por semana do que deveriam, desperdiçando assim mais de um dia de trabalho em que, estando presentes no local de trabalho, deveriam ser produtivos e não são. Adicionalmente, os autores do documento sublinham que as experiências positivas originam produtividade, uma realidade que é reconhecida pela maioria dos trabalhadores inquiridos, independentemente da idade, e pela quase totalidade daqueles que fazem parte da geração millennial.

A ideia de que existe uma grande diferença entre aquilo que os empregadores consideram importante e aquilo que é relevante para os empregados também está presente nas principais conclusões da análise. E esta discrepância conduz-nos a outra ideia apresentada e que diz respeito ao facto de os trabalhadores sentirem que os empregadores não lhes fazem as perguntas certas – e que estão relacionadas, em grande parte, com as medidas e estratégias que podem ser adoptadas para melhorar a relação destes com o trabalho.

Os trabalhadores valorizam a flexibilidade e procuram reconhecimento pelo que fazem. Este é outro aspecto referido no documento e ao qual os gestores nem sempre dão importância. Complementarmente, os seus autores sublinham que os departamentos de recursos humanos devem promover uma transformação cultural, interessando-se de facto pelos trabalhadores e “extraindo” deles o melhor que podem dar às organizações.

Por fim, e sendo talvez o facto e a conclusão mais importante da lista, é a necessidade de os negócios se transformarem em “empresas de pessoas”, sendo bastante claro que as organizações que fazem dos trabalhadores o seu maior activo e que lhes proporcionam experiências mais positivas são aquelas que têm os melhores índices de produtividade e onde os colaboradores se sentem mais envolvidos e menos frustrados.

Jornalista