Nenhuma nação, empresa ou família estava preparada para o cenário que o vírus Sars-CoV-2 veio trazer. Hábitos profissionais e pessoais alterados, empresas a funcionar de forma deslocalizada, as nossas casas a juntarem num só teto, e de forma simultânea escolas, empresas ou instituições. Uma nova forma de viver que fomos obrigados a aceitar e a implementar em tempo recorde para sobreviver à COVID-19
POR SALIM GIVA

Pela primeira vez todos somos chamados a participar ativamente na não-propagação do vírus, todos somos responsáveis por fazer algo. Subitamente planos com mais de uma semana tornam-se muito longos e a ordem é para viver um dia de cada vez.

Muitos de nós já ouvimos os vários cenários macroeconómicos que os analistas todos os dias apresentam, mas quantos de nós já pensámos nos microeconómicos?

Segundo os dados da PORDATA, Portugal tem mais de 1,295 milhões de empresas. Dessas mais de 1,294 são PME. Quantos de nós não conhecemos as microempresas familiares que sustentam uma casa e os estudos dos filhos? Quantos de nós não conhecemos o pequeno restaurante de bairro que tem o marido a servir às mesas e a mulher na cozinha? Ou a frutaria que tem o marido a arrumar as caixas enquanto a mulher atende os clientes? Ou a papelaria, o café ou o barbeiro? Estes são aqueles que mais sofrem no contexto atual. Aqueles cuja sobrevivência depende diretamente dos seus negócios, aqueles que não querem saber se esta é uma crise económica em V ou como reagiram as bolsas às medidas anunciadas pelos bancos centrais. Aqueles cujos negócios não se adaptam ao teletrabalho. Aqueles que não dormem, desesperados sem saber o que fazer. Aqueles que, regra geral, não têm a formação nem a informação necessária para saber o que fazer, num contexto como o que hoje vivemos.

Todos podemos fazer algo por estes empresários, por estes lutadores incansáveis que trabalharam uma vida para montar os seus negócios. Todos podemos, com pequenos gestos, seja um telefonema a dar uma informação preciosa ou dicas de como reinventar os seus negócios, fazer a diferença na sobrevivência destas empresas. Porque não começar já hoje?

Eis alguns conselhos que podemos dar ou ajudar a implementar:

  • Cash flow: os próximos 2 ou 3 meses podem ser muito difíceis a nível de entrada de receita. Fazer um mapa simples, com os saldos que existem em caixa e as despesas fixas mensais pode alertar para algum gasto que pode ser evitado ou reduzido. Dará uma perspetiva realista sobre quanto tempo poderá aguentar a empresa;
  • Parceiros: falar com os clientes, fornecedores, senhorios e outros parceiros de negócio. Apresentar as dificuldades e saber ouvir as dificuldades dos terceiros pode ajudar a encontrar soluções equilibradas. Neste momento todos estão disponíveis para ajudar e negociar prazos de recebimento e pagamento, avenças mensais, rendas. É nos momentos de dificuldade que se estreitam as parcerias e aqueles que se entreajudarem neste momento serão os parceiros preferenciais no futuro;
  • Colaboradores: trazer os colaboradores para o centro de decisão. Partilhar com eles as dificuldades e as medidas planeadas. Torná-los parceiros neste momento é fundamental. Na verdade, esta crise não tem culpados e não-culpados. Todos estão do mesmo lado;
  • Aconselhamento: são várias as linhas de crédito disponíveis para os empresários, com condições mais favoráveis para os micro e pequenos. É fundamental o aconselhamento certo sobre qual a melhor linha de apoio que ajude o empresário nesta situação. É muito importante fazer a certificação da empresa junto do IAPMEI para apurar a sua dimensão;
  • União: é importante falar com os outros pequenos empresários do mesmo sector ou da mesma zona. Juntar-se a alguma associação do sector. Partilhar informações ou discutir soluções com os que outrora eram concorrentes. Implementar medidas conjuntas e com partilha de custos pode ser uma saída. Ninguém vai sair a ganhar desta crise, mas trabalhando juntos talvez todos possam perder menos;
  • Reinventar o negócio: estudar quais as formas alternativas que existem para estar próximo dos clientes. Mudar para take-away, implementar formas de delivery ou entrar nos marketplaces online, pode abrir oportunidades que perdurarão no pós-crise. Tempos de crise são também tempos de oportunidade;
  • Formação: Aproveitar para entender melhor o negócio, implementar as boas práticas de gestão que são eternamente adiadas. Inúmeras escolas de negócio nacionais e internacionais abriram os seus cursos online nesta fase.

Vamos fazer mais do que ficar em casa. Vamos, a partir de casa, dar o nosso contributo para a sobrevivência de milhares de empresas e famílias. Vamos contribuir ativamente para relançar a nossa economia que é suportada por estas PME. Vamos fazer com que, após esta pandemia, o restaurante, a frutaria, a papelaria ou o barbeiro continuem a existir e a servir o seu bairro.

Depende de todos nós!

Administrador Co-fundador da VILT