Para Rui Diniz, “temos de pensar não só a nível do País mas também a nível individual, trazendo para o primeiro plano do sucesso outras profissões que não apenas a do médico ou a do advogado”. Até porque existem em Portugal pessoas muito capazes, com cargos técnicos, “mas que numa primeira escolha não são valorizadas”, admite. Neste aspecto, a Efacec é um exemplo, na medida em que, face à sua grande capacidade fabril, “recruta mais pessoas de cursos técnico-profissionais do que engenheiros. E com boa experiência”, garante.

Sendo que a realidade nacional demonstra que um jovem recém-licenciado em Engenharia continua, na maioria dos casos, “sem emprego aos 25, 26 anos”, enquanto um estudante que seguiu a formação técnica encontra geralmente uma colocação ao cabo de alguns meses (seis, em média). Perante esta evidência, “há que evoluir para uma nova lógica”, que acabe com o grande estigma que existe em relação à formação profissionalizante, a qual “não tem o devido reconhecimento na sociedade”, nem por parte das instituições, nem por parte das famílias.

Rui Diniz defende assim que se possa “associar figuras relevantes a estes cursos”, demonstrando que “há caminho a fazer” na área da formação vocacional e gerando, no momento da escolha do percurso profissional, um “leque mais amplo de oportunidades”. A divulgação do sucesso das profissões técnicas é uma das vias para que mais jovens façam carreira a partir deste tipo de formação. “Há que dar bons exemplos” e a Efacec já o faz, atribuindo distinções de mérito aos operários da sua fábrica, adianta.

De qualquer modo, hoje existem cerca de 140 mil estudantes no ensino profissional e dual, graças “ao trabalho extraordinário que tem vindo a ser feito nos últimos dez anos”, nestas áreas, e “em breve cerca de 50% dos alunos frequentarão este ensino”, prevê Alexandre Relvas, o que demonstra “um matching maior” entre o perfil da formação e as necessidades do mundo laboral.

Soft skills devem ser valorizadas
Outra questão relevante, no que a novas perspectivas para as gerações jovens diz respeito, é a da introdução de mais soft skills na formação dos estudantes. As competências actualmente mais valorizadas são ainda demasiado técnicas e, na visão de Rui Diniz, é “muito importante” dar formação ao nível de formas de relacionamento, incluindo em cursos com saídas para empregos mais práticos, como operador de caixa num supermercado, por exemplo. Às soft skills soma-se o valor da experiência profissional, em que as escolas apostam pouco. Em suma, “é crucial perceber o mercado que temos e direccionar” a formação para esse mercado.

Por outro lado, que papel cabe às empresas no que respeita a atrair jovens talentos? Considerando as diferentes capacidades que PME e grandes empresas têm para investir no futuro, não deverão todas elas integrar as questões do desemprego nas suas políticas de Responsabilidade Social, como questiona o director-executivo do “Expresso”?

“O desemprego tem repercussões negativas profundas no modo como as pessoas crescem e se realizam” – Rui Diniz .
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Na opinião de Alexandre Relvas, o problema do desemprego – complexo tanto nas causas como nas consequências – “ultrapassa o âmbito das iniciativas” desta natureza. As empresas podem (e devem) integrar a realização de estágios na sua política de RS, afirma, mas “a resposta (ao desemprego) em termos de gestão é muitíssimo mais profunda: qualquer acção de RS terá um impacto limitado e não estrutural”, acredita.

O que é estrutural, defende Relvas, é sensibilizar as empresas para olharem para os seus recursos humanos de uma outra forma, para além do factor base da competitividade – o conhecimento -, isto é, com uma “dinâmica de substituição geracional” que reconheça o talento, abrindo novas oportunidades aos jovens.

Outro factor determinante será o de business sofistication, sobre o qual Portugal enfrenta “carências fortes”, seja no marketing ou ao nível da capacidade de inovação, de internacionalização ou de gestão da cadeia de valor, entre outros aspectos. Em conclusão, só a conjugação da atenção aos valores dos jovens com a atenção a estas “áreas de carência” permitirá atacar o problema na base, defende o CEO da Logoplaste.
De preferência, em estreita “interligação com a comunidade, promovendo o debate”, e aproveitando o trabalho das associações empresariais, que podem avaliar “quais serão as áreas de maior carência nos próximos 10 ou 15 anos e fornecer informação precoce aos jovens”, em conjunto com as universidades, recorda Alexandre Relvas.

Estrutura remuneratória por competências
Se existe algo que caracteriza o emprego jovem é a sua associação a remunerações baixas. Lançando o debate, Pedro Guerreiro questiona o que pode ser feito ao nível da valorização salarial dos jovens.
Para o responsável da Efacec, na maioria das empresas “a estrutura no topo da pirâmide é muito pesada”, tentando-se compensar esse esforço com os ordenados (mal pagos) de quem entra e fica sujeito a uma evolução salarial dura. Quando, na verdade, deveria existir uma diferenciação, criando-se uma estrutura remuneratória por competências. Desde logo, porque para ser competitivo, “no presente e no futuro”, Portugal precisa de conseguir “reter estes quadros, dando-lhes perspectivas de evolução”. Caso contrário, “vamos perdê-los para outros países”, conclui.

Com algum optimismo, Alexandre Relvas acredita que “o próprio mercado vai resolver parte dos problemas (da crise)”, e recorda que “as próprias famílias e organizações sociais já absorveram uma parte importante do desemprego”. Outro dado positivo são os números animadores das exportações: “crescer 3 mil milhões (de Euros) é extraordinário, e equivale ao dobro do total de vendas na Auto-Europa, compara, sendo que este aumento do valor das exportações está a verificar-se em sectores como o dos serviços, mas também em alguns “ não esperados”, como o das máquinas e equipamentos ou o dos produtos de valor acrescentado”.

Por outro lado, “muito do esforço face ao desemprego está a ser feito a nível regional”, envolvendo empresas e sociedade civil na criação de projectos empreendedores em nichos de mercado, com novas empresas a nascerem em parceria com pólos universitários e associações empresariais, sublinha. Quanto ao Estado, e não obstante os programas de incentivo ao emprego jovem que já tem em acção, exige-se “uma reflexão que o faça propor um “contrato intergeracional em Portugal”, a exemplo do que sucede já na União Europeia onde, graças ao Programa Garantia Jovem, qualquer pessoa tem de estar ocupada quatro meses depois de finalizar a sua formação escolar ou de ter caído no desemprego, seja através de um estágio ou de um posto de trabalho.

Com ou sem apoios estatais, “vale a pena arriscar e correr o risco de falhar”, remata o CEO da Logoplaste, desde logo porque, como refere o moderador, (citando o Patriarca de Lisboa, quando afirmou que “o melhor de Portugal não passa nas televisões”), “há jovens que estão a fazer nascer o futuro”. E esses não passam na TV.

Principais desafios para os jovens e para as empresas

Como sumarizou o moderador do Painel “O trabalho: Que perspectivas para as novas gerações?”, os desafios que Portugal enfrenta ao nível do desemprego jovem são enormes,  mas as empresas têm respostas concretas e positivas que, em conjunto com o extraordinário esforço que a sociedade civil vem fazendo para dar a volta à crise , permitem enfrentar os problemas actuais com algum optimismo:

• O crescimento económico não é suficiente para recuperar o mercado de trabalho;

• Há uma dimensão humana do desemprego jovem que tem origem na falta de correspondência entre a oferta e a procura no mercado laboral, isto é, entre a formação dada nas escolas e as necessidades das empresas.

• É necessário integrar políticas de estímulo nas empresas, incluindo melhores condições salariais para os jovens talentos.

• O estigma das “profissões técnicas” permanece e deve ser combatido através dos exemplos de sucesso nestas carreiras profissionais, mas regista-se uma evolução positiva deste tipo de ensino.

• A sociedade civil, através das instituições sociais e das famílias, vem desenvolvendo um trabalho extraordinário no combate à crise, o qual já absorveu uma parte do desemprego.

Valores, Ética e Responsabilidade