Menos políticos, menor número de líderes empresariais, “quase” metade de mulheres, activistas, jornalistas, ambientalistas, dois astronautas, um cantor lírico. De uma forma geral, este é novo retrato dos líderes globais que mais estão a inspirar o mundo e que fazem da 3ª edição deste ranking da Fortune não uma lufada de ar fresco, mas uma brisa promissora. O que significa também que os direitos humanos, o ambiente, o racismo, a igualdade de género, a justiça, a privacidade, a violência doméstica, entre outros temas que verdadeiramente tocam as pessoas, começam a ter mais importância do que a “estirpe” dos que lideram do alto das suas torres de marfim
POR
HELENA OLIVEIRA

Reflectir sobre a 3ª edição dos líderes mais influentes do mundo, publicada pela revista Fortune, é compreender que, finalmente, são as grandes questões globais que estão a ganhar terreno nas mentes e na criatividade de ilustres desconhecidos

A revista Fortune, conhecida e reconhecida pelo número significativo de rankings que realiza há muitos anos, decidiu, em 2014, lançar uma edição de mais uma das suas listas, desta feita sobre os mais influentes líderes globais. E se, nas duas primeiras edições, a maioria dos 50 eleitos eram caras conhecidas do grande público, o mesmo não acontece, com algumas naturais excepções, com aqueles que, em 2016, foram considerados como pessoas, mesmo que menos ou pouco mediáticas – ou pertencentes a áreas que, normalmente, não figuram neste tipo de “liderança global” como a costumamos caracterizar -, mas que estão, de forma efectiva, a mudar, para melhor, a vida de muitos dos seus pares, e a atrair seguidores para as causas que defendem.

Assim, e em vez de cairmos na tentação do mais fácil – a de escrevermos sobre aqueles que estamos habituados a ver circular pela Internet, nas capas de revistas, ou no prime time televisivo – optámos por dar a conhecer, mais profundamente, alguns dos 50 escolhidos – e, obviamente, os motivos subjacentes a tal escolha, e a assinalar algumas “tendências” dignas de reflexão também no ranking deste ano, como o facto, por exemplo, de e pela primeira vez, as mulheres – sim, as eternas questões de género – constituírem “quase” metade – 23 em 50 – dos líderes globais eleitos.

Mas e porque, na verdade, os mais conhecidos são também os que figuram, na generalidade, nos lugares mais elevados do pódio, há que, forçosamente, dedicar-lhes também algumas linhas, bem como a algumas “tendências” ou particularidades que resultam também desta lista.

De sublinhar ainda que e segundo a própria Fortune, para integrar o ranking, “não basta ser brilhante ou admirável, mas inspirar outros a agir, ou a segui-los numa cruzada digna, ou ainda ter demonstrado uma resistência [ou perseverança] fora do comum”. A ideia fundamental desta eleição é procurar, em vários sectores da sociedade, pessoas que se distingam das demais, seja na política, nos negócios, no activismo social, nas artes, na justiça, no jornalismo ou no desporto – e cujo trabalho sirva como exemplo de “bem” e como modelo inspirador para outros. E se, como em todos os rankings, o factor “subjectividade” está sempre presente, tal como veremos mais à frente, a The World’s Greatest Leaders List não foge à regra.

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Papa é o único “membro permanente da lista” e políticos perdem terreno

Interessante, por exemplo, na edição deste ano, é o facto de existir apenas uma pessoa que consegue manter a sua presença contínua desde que, em 2014, a Fortune deu início a este “concurso” de liderança global. E mais interessante é, segundo sublinha a própria revista, o facto de, para se ser “repetente” na lista, há que existir uma “requalificação” para tal. E o único que parece ter conseguido essa necessária requalificação foi o Papa Francisco, que igualou a sua posição do ano passado, tendo sido considerado como o 4º líder global “melhor do mundo”, este anos pelos seus inegáveis dotes diplomáticos. Em 2014, ano em que a Fortune estreou este ranking em particular e exactamente um ano depois de Francisco ter sido eleito como Papa, Francisco seria também escolhido como o líder global mais influente do mundo.

Um outro facto digno de nota – e que poderá conduzir a motivo de reflexão e interpretação – é a quebra de representação de dois sectores que, habitualmente, mais facilmente “pontuam” neste tipo de “campeonatos”: os políticos e os líderes empresariais. Comecemos pelos primeiros.

Em primeiro lugar, a revista viu-se na “obrigação” de dedicar um artigo ao facto de não ter integrado nenhum dos candidatos à eleição presidencial americana de 2016 na lista, afirmando que tal não se deveu a nenhum acaso, mas ao facto de “o sistema político norte-americano estar danificado” e de não terem motivos suficientes para pensarem que serão os actuais candidatos que o possam consertar. De qualquer das formas, os relativamente poucos políticos que entram na lista – e apesar de alguns bem conhecidos e por bons motivos – incluem a repetente Auung San Suu Kyy, líder da Liga Nacional para a Democracia em Mianmar, Sheikh Hasina, a primeira-ministra do Bangladeche e Amina Mohammed, ministra do Ambiente da Nigéria, para além de Angela Merkel – “requalificada” pela sua corajosa posição de continuar a defender o acolhimento dos refugiados por parte da Europa, mesmo que isso possa significar o seu fim político (e apesar de ter vergado ao acordo com a Turquia), e Christine Lagarde (que tiveram lugar na edição de 2014, mas não na de 2015).

Uma palavra ainda, apesar de num plano diferente, para a boa classificação de Christiana Figueres, a diplomata costa-riquenha e directora executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas relativa às Alterações Climáticas, uma espécie de guardiã da natureza e que desde 2010 luta não só para alertar para os efeitos catastróficos do aquecimento global, como para convencer os governos a estabelecerem um acordo vinculativo para a limitação das emissões de carbono e para o abrandamento da utilização dos combustíveis fósseis. Depois do aparente sucesso da Cimeira do Clima em Paris, Figueres, que deixará o seu cargo em Julho próximo, é apontada como uma das fortes candidatas a suceder a Ban Ki-moon nos destinos da ONU.

Duas últimas notas, tornadas mais “quentes”face a acontecimentos recentes. A primeira relacionada com a notícia que tem dominado todos os meios de comunicação, sem excepção, nos últimos dias: o caso “Panama Papers”. É que Mauricio Macri, o novo presidente argentino, antigo governador de Buenos Aires e que ganhou o optimismo e a esperança do povo e da comunidade internacional devido à sua luta contra décadas de má gestão e corrupção que levou o país das pampas às ruas da amargura, é um dos eleitos neste ranking como líder e político inspirador. E é um dos (inúmeros) nomes associados ao escândalo decorrente do que já se sabe das divulgações levadas a cabo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.

A segunda, ligada com a verdadeira “bagunça brasileira”, é o caso do juiz federal Sérgio Moro, o qual, como se pode comprovar pela integração na lista da revista norte-americana, ganhou (também)notoriedade internacional por liderar as “operações de julgamento” dos crimes relacionados com a Operação Lava Jato. Depois da decisão de divulgar publicamente as escutas telefónicas feitas pela Polícia Federal ao ex-presidente Lula, Moro viu-lhe retirada a tutela do caso. Todavia, e se já antes era, pelo menos para muitos milhões de brasileiros, um verdadeiro herói, transformou-se, ainda mais, no símbolo “pró-impeachment” e está em vias de receber o título de Cidadão Honorário pelo estado Curitiba. A nota a sublinhar directamente relacionada com o perfil de Moro assinado pela Fortune é a forma quase humorista com que termina: que a “coexistência passiva com a corrupção, que há muito é endémica na América Latina” (e que bom seria que apenas lá o fosse), “está a transformar-se num hábito do passado”.

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Há CEOs, mas são poucos

Pior ainda representado está o meio empresarial, apesar de o primeiro lugar do ranking ser ocupado pelo CEO da Amazon, Jeff Bezos e o quinto por Tim Cook, CEO da Apple, ambos repetentes também da edição de 2015 (Bezos foi 27º e Tim Cook o 1º). E, no caso de Bezos, parece que se aplica bem a categoria de “resistência e/ou perseverança” como uma das definidas pela revista no que respeita aos critérios de eleição. É que, e como é sabido, Bezos é tudo menos um líder “generoso e perseguidor de boas causas”, antes sim um grande lutador pelas suas próprias causas e infindáveis ambições. O artigo publicado o ano passado pelo The New York Times – e que muito deu que falar e partilhar – o qual mostrava os bastidores da cultura empresarial – dura, sem lugar a qualquer tipo de condescendência e com escasso (ou inexistente) respeito pelos empregados – não foi suficiente, contudo, para que os editores da Fortune tenham pensado duas vezes em considerar o patrão da Amazon – e dos demais negócios que colecciona, dos media às aventuras espaciais – como um “grande líder”. A Fortune concorda que será difícil algum dia a Amazon constar no seu ranking das 100 melhores empresas para se trabalhar, mas também afirma que “a liderança vem em sabores variados” e que a “estirpe” de Bezos está a produzir “resultados que estão a mudar o mundo”. Para perceber melhor os motivos deste 1º lugar, leia o extenso trabalho publicado pela revista a propósito do vendedor da liderança global de 2016.

Já Tim Cook, que este ano deixou o pódio para cair para o 5º lugar, foi “requalificado”, essencialmente, devido à posição inabalável que manteve na guerra com o FBI. Como é sabido, quando um tribunal ordenou à Apple para contornar o software de segurança que permitisse aos investigadores acederem aos dados do iPhone do americano de ascendência paquistanesa que, em Dezembro de 2015, matou a tiro 14 pessoas em San Bernardino, na Califórnia, o CEO da empresa da maçã manteve-se firme. Opôs-se à ordem, afirmando, em comunicado de imprensa, que o Governo estaria a pedir à Apple que invadisse a privacidade dos seus clientes, colocando em causa décadas de avanços na segurança e protecção dos dados dos utilizadores dos produtos da empresa que lidera. Apesar de serem muitas as empresas de tecnologia que apoiam a decisão de Cook (o FBI acabaria, entretanto, por conseguir ter o acesso ao que pretendia), a atitude e a coragem do CEO em desafiar uma ordem directa do Departamento de Justiça norte-americano, ao mesmo tempo que lutou para proteger a privacidade dos seus clientes, granjearam-lhe um enorme respeito.

Fora os dois titãs empresariais que ocupam o top 5 dos líderes globais, pouco há a assinalar. A não ser que, apesar de as mulheres, no geral, estarem bem representadas, não existir nenhuma representante das empresas que compõem o ranking da Fortune 500 (que também já não integra tantas quanto seria desejável) e que, para além do CEO da maior firma de investimentos do mundo, Larry Fink, da Black Rock, apenas mais três líderes empresariais se destacam na lista: Mark Benioff, CEO da Salesforce e um enorme defensor – e pioneiro – da igualdade salarial entre homens e mulheres; Marvin Ellison, CEO, desde Agosto do ano passado, das cadeias de lojas, J.C.Penney, as quais estavam em decadência total e que, graças ao seu estilo de liderança “no terreno”, estão a voltar à vida e a dar a volta a uma dívida astronómica. E, por último, o presidente da área de Vacinas da GlaxoSmithKline, o qual passou toda a sua carreira dedicado à investigação de doenças pouco conhecidas mas que constituem pragas enormes nos países em desenvolvimento. No seu portefólio, conta já com uma vacina para o cancro cervical e para a doença pneumocócica e, em 2015, ganhou a aprovação europeia para a primeira vacina anti-malária do mundo. Todavia, o seu grande sonho continua a ser descobrir a vacina contra o Ébola.

Resta falar de Larry Fink, que merece destaque nesta lista: com 4, 6 triliões de activos sob a sua gestão, escreve a revista Fortune que o CEO tomou a seu cargo a quase impossível tarefa de redefinir a relação existente entre as grandes empresas, pertencentes à Fortune 500, e Wall Street. Fink escreveu uma carta aos presidentes executivos de quase todas estas gigantescas empresas lamentando a cultura corporativa de pensamento de curto prazo e ameaçando votar contra os membros dos conselhos de administração que não fossem favoráveis à transparência na prestação de contas. Outras firmas de investimento seguiram as suas pegadas e esta forma de pressão tem aberto caminho, finalmente, para algumas há muito necessárias mudanças.

© DR - As duas primeiras mulheres Rangers da história
© DR – As duas primeiras mulheres Rangers da história

Mulheres que inspiram outras mulheres

O facto de “quase” metade dos líderes globais eleitos este ano para o The World’s Greatest Leaders ser do sexo feminino é de assinalar, nomeadamente devido ao substancial aumento face a 2015, em que apenas 15 mulheres mereceram a honra de assim serem consideradas. E é também de sublinhar que as mesmas conseguem cobrir a esmagadora maioria dos sectores perfilados – político, empresarial, activismo, sector sem fins lucrativos e até o militar, como é o caso de Kristen Griest e Shaye Haver. A primeira, líder de pelotão, e a segunda, piloto de helicópteros Apaches, eram simplesmente soldados do exército norte-americano quando decidiram inscrever-se na dura e “100% masculina” Escola de Rangers . As primeiras mulheres a terminarem o curso – e, na altura, transformadas em ícones devido a tal feito – declaram, na Fortune, que uma das razões que as levou a aguentar um regime tão brutal, tanto a nível físico quanto psicológico, foi exactamente para abrir caminho a futuras gerações de mulheres que quisessem ter esta mesma oportunidade. E parece que o conseguiram, visto que o seu feito não só transformou o debate sobre o papel das mulheres no campo de batalha, como decerto contribuiu para o Pentágono ter tomado a decisão, em Dezembro último, de abrir todas as posições de combate, sem excepção, ao ainda e sempre considerado sexo fraco.

Abrir caminhos às mulheres, desta feita em esferas menos bélicas, mas ainda mais urgentes, é o que tem feito também a primeira-ministra do Bangladeche. Sheikh Hasina não é só a única mulher a fazer parte do Organização para a Cooperação Islâmica, como uma imparável defensora dos direitos no feminino – ainda por cima no interior dos exigentes e incompreensíveis domínios da tradição islâmica – tendo conseguido um compromisso por parte do seu país no sentido de assegurar protecção legal para as suas pares, ajudando-as a prosseguir os estudos, a ter direito a liberdade financeira e a ambicionar poder político. Cerca de 30% das mulheres adultas no Bangladeche têm agora o ensino secundário e o país é o mais bem posicionado, entre todos os países asiáticos, no Gender Gap Index do Fórum Económico Mundial.

© DR - As fundadoras do movimento Black Lives Matter
© DR – As fundadoras do movimento Black Lives Matter

Acabar com a ideia de que os “números e as matemáticas” são coisa para homens tem sido a batalha de Reshma Saudani, a fundadora da já famosa e bem-sucedida Girls Who Code, e cujo objectivo principal é o de levar mais mulheres para o mundo das ciências da computação. Até ao final deste ano, estima-se que mais de 40 mil raparigas tenham terminado a sua formação e programas de estágio na área e, para o Verão, a Girls Who Code tem já preparado um donativo de um milhão de dólares para oferta de bolsas. Nada mau para a mulher que só à 3ª tentativa conseguiu entrar na prestigiada Escola de Direito de Yale. Também Anna Maria Chávez, a primeira pessoa “não branca” a presidir à tradicional e centenária organização de escuteiras norte-americana – a Girl Scouts of the USA – tem vindo a dar cartas na educação para raparigas, nomeadamente na literacia financeira e na área das STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas), tem realizado valiosas parcerias com mulheres (re)conhecidas, como Sheryl Sandberg, do Facebook (numa campanha para encorajar a liderança no feminino) ou com Michele Obama, que gravou um vídeo de recrutamento para novas escuteiras.

Em 2014, Luke Batty, um miúdo de 11 anos foi morto pelo seu pai com um taco de criquete, o qual foi seguidamente baleado e morto pela polícia. No dia seguinte, e em frente às câmaras televisivas, a mãe do rapaz afirmava calmamente que “a violência na família acontece a toda a gente”, mas o desgosto haveria de lhe dar o ânimo necessário para colocar a violência doméstica na agenda dos australianos. Em memória do seu filho, Rosie fundou a Luke Batty Foundation, que se dedica a falar sobre o tema em comunidades por todo o país, a promover campanhas e a prestar apoio diverso essencialmente a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica.

Contra um outro tipo de violência, que tem vindo a crescer e, por isso mesmo, a ser amplamente mediatizado, nasceu o movimento Black Lives Matter, co-fundado por Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi. Apesar de ter sido criado como resposta a um “momento” em particular – após o assassinato do jovem negro Trayvon Martin, de 17 anos, desarmado e que seguia calmamente para a casa do pai em Sanford, no estado da Florida, pelo “vigilante” George Zimmerman – como se pode ler no próprio website “não somos um momento, mas um movimento”. O Black Lives Matter tem uma rede que cobre já todos os Estados Unidos, a qual luta pelo “valor da vida dos negros”, não só no que respeita aos permanentes abusos perpetrados pela polícia e pelos vigilantes, mas pelos mais básicos direitos humanos, ainda negados num ambiente em que o racismo continua a permear toda uma sociedade. E o trabalho das três fundadoras tem sido absolutamente extraordinário, não só aproveitando o bom empurrão do que se torna viral nas redes sociais, mas com a organização de inúmeros eventos, campanhas e palestras e pelo estabelecimento de parcerias várias que ajudaram a que o debate sobre o racismo existente nos Estados Unidos fizesse parte da agenda das campanhas presidenciais, tema que não estava, de todo, contemplado nas mesmas.

A lista de mulheres corajosas, inspiradoras e que estão mais do que decididas a quebrar barreiras e estereótipos poderia continuar, mas e caso tenha interesse, é possível ter uma ideia mais abrangente sobre as restantes se ler o artigo da própria Fortune sobre as 23 incluídas na lista dos – e das – líderes globais.

John Oliver, humorista, produtor executivo e apresentador do programa “Last Week Tonight”
John Oliver, humorista, produtor executivo e apresentador do programa “Last Week Tonight”

Porque do inesperado poderá provir a mais global das lideranças

Comecemos pela arte de informar – sim, a qual, nos dias que correm e em que é cada vez mais difícil distinguir entre informação e desinformação, pode ser considerada no interior desta categoria – e surgem-nos três nomes por excelência.

O primeiro é o do inigualável humorista, produtor executivo e apresentador do programa “Last Week Tonight” e que tem feito muito mais para denunciar e obrigar ao debate de inúmeras situações inacreditáveis que existem nos Estados Unidos do que muitos directores e jornalistas afamados dos grandes órgãos de comunicação americanos. O britânico John Oliver ganhou um lugar gigantesco não só no coração dos americanos – o seu programa semanal na HBO é um dos mais vistos do canal – como criou um novo tipo de “jornalismo comédia” – com algumas influências do “mestre Jon Stewart” com quem trabalhou – sendo que os temas que trata são de seriedade crescente. O próprio afirma começar a questionar o seu próprio papel enquanto humorista, mas não existem dúvidas de que, no que toca a fazer a diferença, o seu trabalho é de impar qualidade.

Para ser um nome conhecido nos lares da América “branca” foi preciso ser expulso, em Agosto passado, de uma conferência de imprensa de Donald Trump. Mas e mesmo assim, Jorge Ramos, parte jornalista, parte porta-voz da comunidade hispânica, é um dos pivots mais conhecidos dos Estados Unidos e também um dos mais influentes, pelo menos para os que falam espanhol (apesar de ter também programas em inglês). Tendo como um dos seus temas preferidos as políticas de imigração – e não poupando nenhum candidato às presidenciais de 2016 no que respeita a esta questão em particular – os analistas políticos afirmam que “descobriram” que os eleitores latinos são duas vezes mais propensos a votar se ouvirem, frequentemente, as notícias em espanhol. E a isso chamam o “efeito Jorge Ramos”.

Por último, mas de todo menos importante, é o trabalho de Chai Jing. Considerada, em 2015, pela revista Time, como uma das 100 mais influentes pessoas do mundo, a jornalista de investigação e ambientalista chinesa é a autora de Under the Dome, um dos mais importantes documentários, com 104 minutos, sobre consciencialização ambiental jamais feito na China (e até no mundo) e que retrata a sua história – e a de milhões e milhões de chineses – quotidianamente “embrulhados” numa enorme nuvem de poluição. Misturando complexas temáticas científicas, com políticas governamentais falhadas, corrupção, autoridades reguladoras displicentes, em conjunto com os efeitos da própria poluição – aumento explosivo do cancro e doenças respiratórias no geral, menor esperança de vida e um sem número de doenças que atacam os mais vulneráveis, crianças e velhos – o impacto do seu trabalho foi de tal ordem que, numa semana, teve mais de 200 milhões de visualizações online, tendo sido retirado, logo de seguida, pela censura governamental chinesa. Todavia, a ira que despoletou dura até hoje e perdurará, decerto, por muito mais tempo.

Lin-Manuel Miranda, compositor, cantor lírico e autor
Lin-Manuel Miranda, compositor, cantor lírico e autor

Porque a lista já vai longa, umas últimas linhas dedicadas a outros influenciadores de peso.

O músico Bono, já repetente neste ranking, graças à actuação e alcance da sua organização sem fins lucrativos ONE, que continua a ser um exemplo na angariação de muitos milhões de dólares para ajudar as pessoas que vivem em situações de pobreza – a revista Fortune afirma que a sua melhor qualidade é, exactamente, a capacidade que tem em convencer os outros que são eles os verdadeiros líderes da mudança, e não ele próprio.

Lin-Manuel Miranda – e o que faz um compositor, cantor lírico e autor na lista dos líderes globais mais influentes do mundo? – é o autor e intérprete de uma biografia musical de um imigrante bastardo que se tornou o primeiro secretário do Tesouro nos Estados Unidos, peça teatral considerada pela Fortune como uma das mais “inventivas e emocionalmente cativantes jamais escritas” e que, com um conjunto de actores negros e hispânicos tem a “ousadia” de interpretar também todos os Pais Fundadores da América, numa forma singular de fazer valer a ideia de que os ideais americanos pertencem a todos. Palmas.

E, porque decerto não existe melhor simbolismo para fechar este artigo sobre quem influencia o mundo em que vivemos do que alguém que já dele saiu, o astronauta americano Scott Kelly e o cosmonauta russo Mikhail Kornienko parece-nos representar a escolha mais óbvia. Depois de baterem o recorde de permanência no espaço, partilhando lado a lado 340 dias na Estação Espacial Internacional, e já com os pés bem assentes na terra – e na Terra – o caminho para uma possível missão a Marte parece estar aberto. Pelo menos é o que acredita a NASA. Todavia, um ano fora do nosso planeta serviu para um sem número de experiências cientificas, – mais de 400 – ainda sem valor calculado, sendo que é certo que, pelo menos, expandiram significativamente a sua (nossa) compreensão sobre os efeitos do espaço nos humanos. E, como se sabe, pelo menos Kelly cresceu uns bons centímetros.

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