O habitual Índice de Competitividade Global publicado anualmente pelo Fórum Económico Mundial sofreu, este ano, algumas alterações na sua metodologia. Porque estamos já a viver na Quarta Revolução Industrial, para o ranking de 2018 foram considerados novos factores que ajudam a enquadrar os desafios da economia digital, mas que podem influenciar as pontuações finais face ao sistema até agora vigente. Portugal subiu oito degraus na escada da competitividade, posicionando-se na 34ª posição em 140 países, os Estados Unidos assumem-se como a região mais competitiva do mundo e o presidente do FEM identifica as principais questões a ter em conta neste mundo 4.0
POR HELENA OLIVEIRA

“Antevejo uma nova divisão global entre os países que compreendem as transformações inovativas e os que não as entendem. Apenas as economias que reconhecerem a importância da Quarta Revolução Industrial serão capazes de ampliar as oportunidades para as suas pessoas”.

A mensagem é de Klaus Schwab, referindo-se ao Ranking de Competitividade Global 2018 anualmente publicado pelo Fórum Económico Mundial. Quase a completar 40 anos de existência (a primeira edição foi em 1979), o Índice deste ano (GCI – na sigla em inglês) sofreu alterações na sua metodologia, integrando o conceito da Quarta Revolução Industrial (4IR, na sigla em inglês) na definição de competitividade, o que altera, em alguns casos significativamente, a respectiva posição dos países.

Para enquadrar de forma mais adequada os desafios da sociedade digital e, consequentemente a dinâmica da economia e do crescimento global, quatro novos factores foram introduzidos na avaliação dos 140 países que constam do ranking, nomeadamente a geração de ideias, a cultura de empreendedorismo, a abertura [à inovação] e a agilidade. Esta nova ferramenta mapeia o cenário da competitividade através de 98 indicadores organizados em 12 pilares, sendo que cada um destes é pontuado de 0 a 100, indicando qual a economia que mais perto está do estado ideal da “fronteira” da competitividade.

Os Estados Unidos da América apresentam-se como o país mais competitivo do mundo (85,6), seguido pela região de Singapura, pela Alemanha e pela Suíça. No top 10, posicionam-se ainda o Japão, a Holanda, a região de Hong Kong, o Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca. Com uma média mundial na ordem dos 60,4 pontos, Portugal atinge os 70,2, ocupando a 34ª posição no ranking mundial o que, e à primeira vista (v. Caixa) representa uma subida significativa de oito lugares.

De acordo com o FEM, um factor unificador entre as economias mais competitivas do mundo reside no facto de todas elas possuírem ainda um enorme espaço para melhorar. Por exemplo, o índice considera Singapura como a economia mais “pronta para o futuro”, a Suécia a que goza de uma força laboral com as melhores competências, a Suíça a que apresenta as melhores políticas – mais do que necessárias – para retreinar e dotar de novas competências a sua força de trabalho, enquanto os Estados Unidos continuam a ser os mais “rápidos” a abraçar a mudança.

O FEM considera, contudo, preocupante o facto de 103 países – em 140 – pontuarem abaixo dos 50 (em 100) no que respeita ao domínio do processo de inovação – indicador no qual a Alemanha é líder, seguida pelos EUA e pela Suíça, ao mesmo tempo que sublinha a atitude positiva de Israel no que respeita ao risco de empreender. Por seu turno, o Canadá tem a força de trabalho mais diversificada do mundo, com a Dinamarca a apresentar a cultura empresarial menos hierárquica, dois factores substancialmente críticos para o estimular da inovação.

Como escreve Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do FEM, com a 4RI a humanidade entrou numa nova fase, constituindo esta uma realidade para milhões de pessoas em todo o mundo e criando novas oportunidades tanto para as empresas, como para os governos e os indivíduos. Todavia, adverte, esta mesma revolução origina também uma nova divergência e polarização no interior e entre as diversas economias e sociedades. Com o ano de 2018 a marcar igualmente 10 anos passados sobre o início da crise financeira global – a qual teve consequências de uma magnitude sem precedentes nas gerações mais recentes – e em combinação com o aumento das desigualdades e dos conflitos geopolíticos, apesar do crescimento económico global ter sido robusto ao longo dos dois últimos anos, o mesmo mantém-se frágil no meio deste contexto político e económico em constante mudança e envolto em imprevisibilidade.

Ainda de acordo com Klaus Schwab, estes eventos – a 4RI e as consequências da chamada Grande Recessão – estão a definir não só novos caminhos para a prosperidade, como a própria prosperidade, com profundas implicações para a tomada de decisões e com os líderes a debaterem-se com muitas perguntas, procurando com dificuldade as melhores respostas e soluções.

É devido a este contexto que o Fórum Económico Mundial introduz agora o Índice de Competitividade Global 4.0, o qual integra indicadores há muito utilizados com outros novos que estão a definir também a produtividade e o crescimento. Por exemplo, e no que respeita ao papel do capital humano, da inovação, da resiliência e da agilidade, estes funcionam não só como factores impulsionadores do sucesso económico na 4RI, mas também como características que o definem.

Em termos de “grandes revelações”, os resultados do GCI 4.0 apontam para o facto preocupante de a maioria dos países se encontrar longe da “fronteira” da competitividade, com a média global de 60 pontos a sugerir que a maioria das economias tem ainda que implementar um conjunto substancial de medidas que contribuirão para melhorar o seu crescimento de longo prazo, a sua resiliência e oportunidades mais alargadas para as suas populações.

Mas o que é imprescindível saber sobre a competitividade na Quarta Revolução Industrial? O VER resume alguns pontos considerados de importância extrema para a mesma, identificados pelo presidente do FEM e por Saadia Zahidi, responsável pelas Agendas Sociais e Económicas da mesma instituição.

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Países têm de fazer um reset do seu caminho para a competitividade

  • A competitividade não é luxo e todas as economias terão de estimular a produtividade

Independentemente do seu nível actual de rendimentos e das áreas em que são mais fortes, todos os países terão de perseguir melhores índices de produtividade caso queiram ter um crescimento mais rápido e ganhar resiliência face a possíveis choques no futuro. Apesar de existir uma forte correlação entre competitividade e nível de rendimentos, não existem “compensações” no que respeita aos 12 pilares identificados pelo FEM: Instituições, Infra-estruturas, Adopção de TIC, Estabilidade Macroeconómica, Saúde, Competências, Mercado de Produtos, Mercado Laboral, Sistema Financeiro, Dimensão do Mercado, Dinamismo nos Negócios e Capacidade para a Inovação. Ou seja, e como referem os autores, um sistema financeiro sólido não é suficiente para compensar uma deficiente infra-estrutura física, tal como a adopção das TIC não consegue compensar a inexistência de um ecossistema de inovação e empreendedorismo. Em suma, os países terão de se esforçar nos 12 pilares em causa, o que não invalida que cada um crie a sua estratégia para equilibrar e concentrar os esforços nos que lhes são mais caros, retirando vantagem de capital e tecnologia mais baratos.

  • Investir nas pessoas é benéfico não só para os resultados sociais, como para os económicos

Não existem trade-offs entre a inclusão social e o nível de competitividade de um país. Pelo contrário, a saúde, a educação e as competências de uma determinada população estão entre os principais motores da produtividade, em particular no contexto das transformações económicas e tecnológicas. Com as competências adequadas, os trabalhadores podem transformar-se nos agentes da sua própria mudança, em vez de serem “expulsos” pela mesma. O investimento nas pessoas deixou de ser um “nice-to-have”, constituindo, cada vez mais, um factor imprescindível para o crescimento e resiliência na Quarta Revolução Industrial.

  • A globalização na 4IR vai mais além do que o comércio livre

A “abertura” permanece como um forte impulsionador da competitividade: economias mais abertas são mais inovadoras e os seus mercados mais competitivos. Todavia, a sua definição deverá ir mais além do que os meros conceitos de livre comércio e incluir a liberdade de movimentos de pessoas e a troca de ideias. A colaboração entre fronteiras é particularmente crítica para um ecossistema de inovação dinâmico. Tendo como base esta definição, o FEM identifica Singapura, a Alemanha, a Holanda, a Suécia, a Finlândia e os Estados Unidos como alguns dos países mais abertos do mundo, com o Brasil e a Índia a emergirem como relativamente “fechados”.

  • As economias abertas têm de abraçar também a protecção social

Enquanto o FEM considera que a abertura entre países é uma situação “win-win”, por vezes o que acontece no interior desses mesmos países transforma-se, ao invés, num resultado “win-lose”. De acordo com os autores, isto significa que ao mesmo tempo que os governos têm de perseguir uma maior abertura para alcançarem uma prosperidade de longo prazo, têm também de apoiar aqueles que são excluídos da globalização, sendo que a inversão desta última para abordar a desigualdade é contraproducente. Assim, e em vez de protegerem empregos específicos ou os produtos resultantes desses mesmos empregos, os governos deverão concentrar-se em melhorar as condições de vida daqueles que são negativamente impactados pela globalização, através de políticas redistributivas, redes de segurança, investimentos em capital humano, regimes mais progressivos de tributação e oportunidades de transição para novas oportunidades económicas.

  • A criação de ecossistemas de inovação vai bem mais além da pesquisa e do desenvolvimento

A inovação tornou-se um imperativo para todas a economias avançadas e uma prioridade para um número crescente de países emergentes. Mas e mesmo assim, em 77 das 140 economias analisadas, a capacidade para inovar consiste no seu pilar mais fraco. E mesmo que as publicações científicas, as aplicações de patentes, os gastos em I&D e as instituições dedicadas à pesquisa se assumam como aspectos bem estabelecidos do desenvolvimento da capacidade de inovação, já não são suficientes. Para que as boas ideias cheguem à comercialização, um número de factores mais “suaves” são igualmente importantes, tal como a capacidade para as empresas abraçarem ideias disruptivas – na qual os Estados Unidos é líder -, a atitude relativa ao risco de empreender – com Israel no pódio -, a diversidade da força de trabalho – patente no Canadá – e as estruturas hierárquicas “horizontais” nas empresas, mais comuns em países como a Suécia, a Dinamarca e em outros vizinhos nórdicos.

  • A tecnologia oferece um caminho para um “salto” económico, mas só em combinação com outros factores

Apesar de a tecnologia não ser a “bala de prata” por excelência, é obviamente vital para o crescimento e para a prosperidade, sendo a sua alocação e governança imprescindíveis. Todavia, alavancar a tecnologia para tornar o salto económico uma realidade permanece ainda como uma promessa por cumprir. Existem, pelo menos, 4,5 mil milhões de telemóveis a serem utilizados no mundo inteiro, ao mesmo tempo que mais de metade da humanidade nunca esteve online. Sendo crucial que as economias proporcionem um maior acesso às TIC, os autores insistem que a tecnologia, por si só, não consegue resolver todos os problemas. Para muitas das economias menos competitivas, as causas principais que explicam o seu crescimento lento continuam a ser os velhos problemas de desenvolvimento como as instituições, as infra-estruturas e as competências. Assim, e para que o salto tecnológico ofereça um novo caminho de desenvolvimento para as economias de baixo rendimento, estas questões não podem ser ignoradas.

  • A importância das instituições

A fraqueza das instituições – definidas pelo FEM como os direitos proprietários, o capital social, a transparência, a ética, a performance do sector público e a governança corporativa – continuam a ser o calcanhar de Aquiles responsável por atrasar a competitividade, o desenvolvimento e o bem-estar em muitos países. Para 117 em 140 economias estudadas, o pilar da performance das instituições continua a ser a maior barreira que se reflecte na sua pontuação final. Os governos, alertam os autores, têm de prestar atenção aos aspectos tradicionais e emergentes do ambiente institucional enquanto factor de produtividade. Por exemplo, o capital social – um conceito alargado que inclui a qualidade das relações pessoais e sociais, a força das normas sociais e o nível de participação cívica na sociedade – é particularmente bem pontuado na Austrália e na Nova Zelândia, enquanto a Noruega lidera na liberdade de imprensa e a Finlândia na protecção da propriedade intelectual.

  • Tempos de mudança contínua exigem agilidade constante

No meio das transformações e disrupções trazidas pela 4IR, a adaptabilidade e a agilidade de todos os stakeholders – indivíduos, governos, empresas – serão cruciais para as economias bem-sucedidas. Para os governos em particular, as “orientações futuras” incluem aspectos como a adaptação das estruturas legais aos modelos de negócio digitais, fornecendo um ambiente estável para os negócios e respondendo de forma eficaz a visões de longo prazo.

  • Alcançar igualdade, sustentabilidade e crescimento em conjunto é possível se existir uma liderança pró-activa e ambiciosa

Existe um consenso generalizado no que respeita à necessidade de um modelo mais holístico de progresso económico que promova padrões de vida mais elevados para todos, que respeite os limites do planeta e que não coloque em desvantagem as gerações futuras. Contudo, não existe um trade-off inerente entre igualdade e crescimento, ao mesmo tempo que a relação entre a performance no GCI 4.0 e as medidas ambientais se mostre inconclusiva. As economias mais competitivas têm a maior pegada ecológica, mas também são as mais eficientes, ou seja, a sua pegada por unidade do PIB é a mais baixa. Assim, tudo dependerá dos líderes e da sua capacidade para estabelecer prioridades de longo prazo e colocar em marcha esforços pró-activos para criar ciclos viciosos que conjuguem a igualdade, a sustentabilidade e o crescimento.


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Portugal é a 34ª economia mais competitiva do mundo em 140 países

Como já é habitual, a apresentação dos dados do Ranking de Competitividade Global para Portugal teve lugar na AESE Business School, no passado dia 17 de Outubro, e esteve a cargo da PROFORUM e do FAE.

Como já anteriormente mencionado, a metodologia seguida pelo Fórum Económico Mundial desde 2006, e com o “aval” de Michael Porter, foi agora alterada, passando a integrar os factores da Economia 4.0 ou da Quarta Revolução Industrial, conceito igualmente “criado” por Klaus Schawab e o FEM.

Assim e de acordo com esta alteração metodológica, com a ênfase nas variáveis relacionadas com a economia digital, face à posição 42 que Portugal ocupava o ano passado, uma subida de oito lugares para o 34º lugar em 140 países significa um excelente resultado para a competitividade nacional.

Todavia, poderíamos ter feito melhor. Como explica Luís Filipe Pereira, presidente da FAE, “se a metodologia utilizada este ano pelo Fórum Económico Mundial fosse utilizada no ano anterior, nós estaríamos em 33º lugar, o que significaria na prática, a descida de um lugar”, afirma, “acrescentando que os problemas económicos do país estão bem detalhados nas 98 variáveis que constituíram a base para colocar Portugal neste ranking”.

Já Ilídio de Ayala Serôdio, presidente da Proforum e da Profrabril, tem uma opinião “mista”. Se, por um lado, “Portugal estáhojeclaramente nas 35 economias mais competitivas do mundo, das 36 que constituem os países em que a inovação constitui o maior factor de desenvolvimento”, por outro, é preciso não esquecer que “entre 2002 e 2005, o país estava entre a 22ª e a 25ª posição no ranking do Fórum Económico Mundial”, acrescenta.

O presidente da AESE Business School, José Ramalho Fontes, faz uma análise mais detalhada do posicionamento nacional. “O WEF [World Economic Forum] trouxe este ano para Portugal boas notícias – uma subida de 4,57 para 4,91 na pontuação do GCI 4.0”, afirma, acrescentando contudo que este é “um resultado que tem de ser bem analisado para dele se poder extrair o que é verdadeiramente dinamizador para as empresas e organizações”.

O presidente da AESE acrescenta ainda que, por um lado,Portugal “representou posições mais elevadas em indicadores relevantes tais como as infra-estruturas, a saúde e o dinamismo de negócios, assim como a inovação, mas, por outro, os países concorrentes mais próximos cresceram mais”.

E se concorda que os factores de crescimento foram mais sofisticados, há que ter em atenção também que muitos continuam a pesar negativamente: “as atitudes da gestão quanto ao risco empreendedor (80º lugar), a abertura para delegar (70º), o crescimento de empresas inovadoras (41º) e as empresas que abraçam ideias disruptivas (46º)”, elenca. “Contudo, é nestes campos que cada dirigente pode mais facilmente contribuir para uma nova subida, maior do que as dos outros”, remata.

Já no que respeita ao Executive Opinion Survey, a cargo da PROFURUM e do FAE, e apesar de não ter existido, para esta edição, a tradicional listagem das preocupações dos empresários, as entidades em causa destacam os piores indicadores que colocam o país acima da 100ª posição nos 140 países: os ratios de capital da Banca  (108); os NPLs (non-perfoming loans) e a complexidade de tarifas (112); a mobilidade laboral e a eficiência das disputas legais (116), os impostos laborais (117) e, por último, o pior indicador, que está relacionado com a Contratação/despedimentos, e que nos coloca na posição 121.

Ou, em suma, muito caminho ainda para percorrer nas avenidas da competitividade.


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