BSN – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa é o mais recente ecossistema português focado no desenvolvimento sustentável. Em entrevista ao 2050.Briefing, o responsável pela iniciativa defende que as empresas têm de investir na sustentabilidade sob pena de perderem um lugar no futuro. “Move to action” é o caminho que preconiza
POR 2050 Briefing

A BSN surgiu com que propósito?

A Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa é o ecossistema entre empresas, organizações para o desenvolvimento sustentável, academia, administração pública, economia social e empreendedores sociais, tendo como propósito estabelecer linhas orientadoras para os diferentes setores da indústria, fomentando a interação e a participação ativa de forma integrada, na transformação estratégica rumo a uma Europa sustentável 2030.

Fundado por 26 entidades (1) oriundas dos diferentes setores da economia, a BSN pretende ser um polo de informação e consciencialização para toda a sociedade portuguesa, sobre a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, do European Green Deal, e das prioridades definidas pelo Estado português para a implementação das metas.

O compromisso da BSN, enquanto ecossistema para a sustentabilidade, é o de fazer congregar   os esforços de todos numa resposta coletiva, para os desafios globais da sustentabilidade.

Quais os seus principais objetivos?

A BSN tem como objetivos promover o diálogo entre o setor público e privado, a partilha do conhecimento e do saber académico, as boas práticas, a investigação e estudos académicos de impacto, o desenvolvimento de competências, e a exploração de novos modelos e abordagens para as questões do desenvolvimento sustentável, oferecendo uma orientação abrangente sobre as expectativas da sustentabilidade para os diferentes setores de atividade, dentro de Portugal e da zona Euro.

Que tipo de iniciativas se propõe implementar?

Após um mês sobre o lançamento, a BSN reuniu-se no primeiro “atelier de ideias”, do qual saíram linhas orientadoras para a atuação do ecossistema ao longo de 2023.

Das várias iniciativas programadas, destacaria a Conferência Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa 2023, organizada pela Rede do Empresário e pela BSN, que vai ter lugar a 30 de maio, em Lisboa, sobre o mote “Vamos acelerar a Sustentabilidade”.

Esta é uma conferência em que iremos debater temas prioritários para o progresso da sustentabilidade e quais os caminhos a percorrer.

Numa altura em que se constata existir desde 2019 uma estagnação no progresso da sustentabilidade, em consequência da crise pandémica e da guerra da Ucrânia, pretende-se que este seja o momento de reflexão e apelo a uma ambição renovada, à cooperação, interação, e à ação coletiva rumo a uma Europa sustentável.

Mas, também estamos a trabalhar no sentido de produzir um estudo científico, em parceria com a AUDAX-ISCTE, sobre a sustentabilidade em Portugal.

E porque comunicar sustentabilidade é absolutamente vital para o seu sucesso, vamos lançar a Revista Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa, que procurará ser um canal de comunicação especializado, em que as boas práticas, os estudos, os casos de sucesso, a reportagem e o internacional marcarão a linha editorial.   

Qual é, na sua opinião, o cenário atual das empresas no contexto da sustentabilidade?

A sustentabilidade está nas agendas das empresas e atrevo-me a dizer que não há sustentabilidade sem as empresas.

Em alguns setores de atividade a sustentabilidade passou a ser uma prioridade e não é mais vista apenas como um objetivo das grandes multinacionais.

Nos dias de hoje, a sustentabilidade passou a ser transversal ao tecido empresarial e a ser vista como uma questão de sobrevivência para as empresas, independentemente da sua dimensão ou do setor em que operam.

É interessante constatarmos existirem startups que desejam criar a sua estratégia de sustentabilidade, a par dos desafios da inovação e da tecnologia.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas vieram trazer um forte impulso à integração da sustentabilidade na estratégia das empresas, e os critérios ESG são vistos por muitos como uma “licença” para operar.

Segundo os resultados do Europe Sustainable Development Report, em 2022 Portugal ocupou a 20.ª posição no SDG Index Ranking, e o reconhecimento público dos programas e das iniciativas desenvolvidas localmente revela que as empresas portuguesas têm estado a fazer um bom trabalho. Contudo, é importante não baixar os braços e procurar estar focados no “move to action”.

Qual a importância da colaboração entre empresas e outras entidades com vista ao desenvolvimento sustentável?

A promoção de práticas e ações com o objetivo de proporcionar a sustentabilidade passou a integrar as estratégias do negócio, traduzindo-se, paralelamente, na transmissão de confiança e de segurança aos investidores, e numa cooperação ativa com outras partes interessadas.

Os negócios têm, atualmente, um propósito além do lucro, e devem desempenhar um papel essencial na melhoria das condições de vida da sociedade.

Um passo importante para atingirmos esse objetivo é promover as parcerias e, com elas, desenvolver novas formas de inovação capazes de suportar práticas de sustentabilidade, acrescentando competitividade e um melhor posicionamento das empresas no mercado.

Não é por acaso que a Agenda 2030, lançada em 2015 pelas Nações Unidas, contempla, no seu 17.º objetivo, as parcerias para a implementação dos objetivos.

Como meta, ao nível local, pretende-se incentivar e promover as parcerias públicas, público-privadas, e com a sociedade civil que sejam eficazes.

À escala global, o apelo ao reforço das parcerias multissetoriais no apoio à realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em todos os países, particularmente nos países em desenvolvimento, é o grande desafio.

As empresas que não começarem, desde já, a trabalhar a sustentabilidade e a concretizá-la através de parcerias, dificilmente terão o lugar que procuram no futuro que se anuncia.

Quais os principais desafios atuais das empresas em Portugal a nível da sustentabilidade? 

Até 2024, é desejável que os setores da indústria europeus possuam uma visão de sustentabilidade do setor, um plano de ação, e objetivos a atingir capazes de serem medidos e comunicados.

A sustentabilidade, a par das novas diretivas e normas (Critérios ESG, Taxonomia e os Relatórios de Sustentabilidade Corporativa), visando a transparência da sustentabilidade no mundo empresarial, são, em si mesmos, um desafio para todas as empresas.

Em Portugal, importa continuar a investir na criação de estruturas organizativas adequadas à dimensão de cada empresa, e no desenvolvimento de competências em sustentabilidade necessárias à transformação dos modelos de negócio e à implementação dos novos processos.

Segundo um estudo realizado pela Universidade Católica, quase 40% das empresas em Portugal ainda não tiveram formação em sustentabilidade. O mesmo estudo refere que 30% das empresas desconhecem quais são as prioridades para Portugal.

E, porque falamos de pessoas, deseja-se que as lideranças sejam capazes de desenvolver parcerias que contribuam fortemente para o cumprimento das metas 2030, e se empenhem no apoio às mudanças sistémicas para alcançar uma Europa sustentável.

A procura da eficiência energética, a gestão dos recursos naturais e financeiros, a digitalização com o objetivo de aproximar as pessoas e ligá-las à tecnologia, e o desenvolvimento da economia circular estarão na ambição e na lista dos desafios das novas lideranças.

São membros fundadores do BSN:

AMI | APECOM Associação Portuguesa das Empresas de Comunicação  

Administração Regional de Saúde / Lisboa e Vale do Tejo | Associação Nuvem Vitória 

Biosphera | CAOS | Casa Museu Oliveira Guimarães | Deloitte | Fundação do Gil

Girl Move | Go Parity | GRACE – Empresas Responsáveis | Grupo Portugália Restauração 

Hotel Vila Galé | ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa | Just a Change | PACT-Parque Tecnológico de Évora

Planetiers | Savills | SGS | SIBS | SPEAK | TESE | Unipartner | Universidade de Aveiro | 55 +

Nota: Entrevista originalmente publicada no site 2050 Briefing. Republicada com permissão.

2050.Briefing

2050.Briefing é um projeto editorial multiplataforma focado em cinco eixos de comunicação: sustentabilidade, eficiência, inovação, mobilidade e pessoas