A história de Steve Jobs é um exemplo a muitos níveis. Como empresário, como pessoa, como líder. Alguém a quem dificilmente se fica indiferente. Um gestor com traços marcantes e que definiram não apenas uma empresa, mas indústrias díspares. Um líder visionário e um exemplo para o qual devemos olhar no momento que atravessamos actualmente
POR RODOLFO OLIVEIRA*

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* Consultor
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Cabe ao líder inspirar, motivar e dar o exemplo. Ser capaz de levar as pessoas a trabalhar de forma concertada para um objectivo comum.  Criar um ambiente onde as pessoas podem inovar e crescer. Ter a tenacidade para, definindo uma estratégia ou ideia, (per)segui-la até a concretizar, apesar das naturais adversidades que possam surgir pelo caminho. Ter a intuição para perceber o mercado e agir com rapidez para o conquistar. E ainda levar a sua audiência e clientes a acreditar na visão e estratégia desenhada.

Steve Jobs tinha todas estas características e algo mais, a centelha de génio que o fazia destacar-se. Como poucos marcou gerações e inspirou admiração e animosidade, mas não deixou ninguém indiferente, dos mais tecnólogos aos menos interessados nos meandros das tecnologias de informação. E, no caminho, criou duas empresas bem sucedidas, a Apple e a Pixar, líderes nos mercados onde operam e, no caso da Apple, com impactos bem para além do simples mercado de tecnologias de informação.

A história de Jobs é conhecida e por demais repetida, pelo que serei sucinto na descrição. Pouco depois da apresentação pública do Macintosh, em 1984, Steve Jobs é afastado da empresa, em 1985. Segue-se a compra, em 1986, de uma divisão da LucasFim (que renomeou de Pixar), a qual veio a criar um novo e claro sucesso, reconhecido por todos em filmes como Toy Story, Finding Nemo, The Incredibles ou o recente Up!, entre outros. Em simultâneo, lançou o NeXT Computer, um equipamento muito avançado para a sua época (display postscript, nova metáfora do interface gráfico, disco óptico), mas que teve pouco sucesso. A Pixar acabou vendida à Disney e Jobs regressou à Apple, que acabou por adquirir a NeXT Computer e incorporou a sua tecnologia na base das futuras versões do sistema operativo.

Desde o seu regresso à Apple, Jobs delineou e executou a impressionante recuperação de uma empresa em dificuldades (e na qual a Microsoft investe em 1997, contribuindo para a sua continuidade), que culminou nos recentes lançamentos do iPad 2 e iPhone 4S, ícones e referências para milhões de utilizadores. Pelo meio, é ainda responsável por um impressionante número de patentes já atribuídas – mais de trezentas (com outras possivelmente ainda em avaliação).

Mais do que a história, muitas vezes repetida, sobre os seus inúmeros sucessos e o seu impacto, creio ser relevante olhar para a dimensão humana do líder. A sua capacidade de perseguir um sonho e continuá-lo (a criação da Apple e o retorno à empresa para a recuperar recebendo apenas 1 dólar por ano) é admirável. O irresistível apelo com que conseguiu atrair mentes brilhantes para trabalharem consigo e a coesão interna (são raros os casos de fugas de informação) é um exemplo para qualquer organização, bem como a capacidade de manter equipas pequenas focadas em cada projecto. A criação de equipas de executivos capazes de executar a visão e objectivos definidos pelo seu fundador são um testemunho à sua vontade de manter a identidade da empresa, assegurada através da recentemente lançada Apple University.

A resiliência para continuar depois da sua saída da Apple, e para lançar projectos marcantes em áreas distintas (como animação gráfica e filmes), mostram uma rara capacidade de desenvolver negócios para além do que é a sua área natural de trabalho, encontrando novas oportunidades. O seu reconhecido perfeccionismo e clara percepção da relevância do design permitiu criar produtos que têm uma marca única e perfeitamente distintiva. E a sua capacidade de lutar até ao fim é um exemplo de coragem.

Estas são características que tornam um gestor num líder. Numa altura em que somos diariamente confrontados em Portugal com a crise e os seus impactos nos negócios e a nível pessoal, estes exemplos mostram-nos como é possível vencer a adversidade, identificar oportunidades onde outros vêem problemas e acreditarmos que, se fizermos tudo bem e não desistirmos, o resultado pode demorar mas apenas pode ser um – o sucesso.

Managing Partner da BloomCast Consulting