Foi com o intuito de promover uma Europa onde os jovens se sentem felizes e realizados que o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia desenvolveram, nos últimos cinco anos, a iniciativa Nova Narrativa para a Europa. Na sua última etapa, estes organismos quiseram dar voz aos mais novos, procurando saber quais são as suas verdadeiras expectativas para o futuro e que temas devem ser prioritariamente tratados. Os resultados, apresentados recentemente, revelam que maior liberdade de circulação, mais participação, mais emprego e um planeta mais verde são as principais ambições dos jovens europeus
POR
MÁRIA POMBO

É vulgarmente apelidado de Velho Continente mas nem por isso pretende tratar mal os novos. Nele, entre outras tradições, canta-se o fado e fala-se de saudade mas também se olha para o futuro com optimismo. E como o futuro são os jovens, é também para lhes dar qualidade de vida que organismos como a Comissão Europeia (CE) e o Parlamento Europeu (PE) têm vindo a unir esforços e a promover variadas iniciativas. Dar-lhes voz e saber qual é a sua percepção acerca do projecto europeu, tendo uma ideia mais clara acerca dos aspectos que podem ser melhorados, é o primeiro passo para posteriormente se poder passar à acção e criar uma estratégia que realmente vá ao encontro das ambições e necessidades da juventude.

Foi com o intuito de promover, num primeiro momento, a integração das comunidades artísticas, culturais, científicas e intelectuais, estimulando, numa segunda fase, a participação dos jovens na sociedade, que surgiu, em 2013, o projecto Nova Narrativa para a Europa. Ao fim de cinco anos e após diversas iniciativas realizadas com o objectivo de incentivar os jovens a terem um papel mais activo na sociedade, foram apresentados os resultados da última etapa deste projecto, que consistiu em ouvi-los e saber quais são as suas expectativas para o futuro da Europa.

Esta última etapa foi dividida em dois momentos distintos: por um lado, foi realizado um Eurobarómetro, no qual milhares de jovens foram questionados acerca da sua percepção sobre variados temas; por outro lado, alguns jovens pertencentes aos diversos Estados-membros da UE foram convidados a apresentarem à Comissão Europeia um conjunto de propostas e ideias para aquilo que, de acordo com as suas convicções, deverá ser o futuro da Europa, numa declaração denominada YOUrope for Youth (que, em tradução livre, significa Europa para a Juventude).


Prosperidade e melhores oportunidades de emprego

No âmbito da iniciativa Nova Narrativa para a Europa, cerca de cem jovens reuniram-se, em Outubro de 2017, na cidade de Leuven, na Bélgica. O resultado deste encontro – que se traduz num conjunto de propostas para melhorar a sua vida na União Europeia – foi apresentado recentemente e está organizado em quatro grandes temas: liberdade de circulação e segurança, participação cívica, emprego e Europa, e um planeta verde.

Em termos de liberdade de circulação e segurança, os jovens pretendem que se promova a paz e a prosperidade, acreditando que “perante conflitos regionais e internacionais, a União Europeia deveria desempenhar o papel de mediador, fomentando activamente a comunicação entre as partes envolvidas”. Com foco na integração (através, por exemplo, de cursos de línguas) e na promoção de um diálogo tolerante, os mais novos consideram que a UE deve incentivar a inclusão, tanto de cidadãos dos seus Estados-membros como de qualquer parte do mundo, defendendo que deve ser dada uma especial atenção e protecção aos refugiados.

[quote_center]A maioria dos jovens europeus considera a educação e o desenvolvimento de competências como um tema prioritário da UE[/quote_center]

Relativamente ao segundo tema, os jovens não deixam margens para dúvidas: querem participar mais no processo de decisão e pretendem que sejam criadas formas de envolver e cativar os mais novos a participarem na vida política, através, por exemplo, da aposta na disciplina de educação cívica nas escolas. Complementarmente, defendem que a idade média dos deputados no Parlamento Europeu deve ser inferior a 40 anos e que os 16 anos devem ser a idade de voto em todos os Estados-membros, reforçando ainda a importância da votação electrónica, a qual poderá “encorajar os jovens a votar e contribuir para a redução da abstenção”. Ainda a respeito deste ponto, os mais novos consideram que deve ser assegurado o fácil acesso à informação necessária para que possam tomar uma decisão esclarecida.

Mais e melhores oportunidades de emprego. Esta ideia não poderia ficar de fora da proposta apresentada pelos jovens europeus, os quais pretendem que a UE se transforme num centro de inovação e tecnologia, dando aos jovens as competências e ferramentas essenciais para o desenvolvimento das suas capacidades, de modo a melhorar a empregabilidade. Adicionalmente, esta é uma geração que procura experiências e oportunidades no estrangeiro, nomeadamente através de estágios remunerados e do reconhecimento formal das competências adquiridas através de temporadas passadas fora do seu país de origem.

Por fim, e estando conscientes dos desafios que o planeta enfrenta, os jovens pretendem que sejam criadas normas de sustentabilidade e protecção ambiental, defendendo que a UE deve adoptar “medidas mais exigentes em matéria de emissões de carbono e de gases com efeito de estufa”, educando também os cidadãos acerca da sustentabilidade ambiental. Por outro lado, os mais novos consideram que a Europa deve proporcionar uma alimentação saudável a preços acessíveis aos seus cidadãos, incentivando também a produção biológica junto dos agricultores.

O documento redigido pelos cerca de cem jovens termina com a ideia de que “o acesso de todos a oportunidades iguais, à segurança e a direitos garantidos” irá contribuir para a prosperidade da Europa.


Jovens europeus estão mais participativos e interessados

Para além das propostas feitas pelos jovens, também foi apresentado, em Janeiro do presente ano, o mais recente Eurobarómetro, no qual foram auscultados cerca de 11 mil cidadãos europeus com idades entre os 15 e os 30 anos. Muitas das opiniões referidas pelos inquiridos vão ao encontro das propostas feitas no documento anteriormente apresentado.

Em termos gerais, e comparando com um inquérito semelhante realizado em 2014, os autores do documento revelam que a participação dos jovens na sociedade é maior em diversos aspectos. Em organizações (culturais, desportivas e etc.) esta aumentou em cerca de 4%, sendo que 52% dos inquiridos revelam ter participado em actividades realizadas por pelo menos uma organização, nos últimos 12 meses. Paralelamente, também em termos políticos se nota uma enorme evolução: a participação nas eleições aumentou em 18%, sendo que 64% dos jovens referem que votaram em eleições nos últimos três anos, sendo maior a percentagem de inquiridos que votaram a nível local do que a nível nacional ou regional. O voluntariado é outra área que tem vindo a obter uma maior participação dos jovens (mais 6% face a 2014), sendo que a maioria (69%) prefere apoiar organizações nas comunidades locais, contra 29% que preferem participar em acções a nível nacional, e 10% que optam por actividades a nível europeu.

No que respeita aos temas que os jovens consideram prioritários, a maioria (53%) escolheu a educação e o desenvolvimento de competências, e metade considera que se deve promover a protecção ambiental e lutar contra o aquecimento global. Complementarmente, para 42% dos respondentes o emprego é o tema prioritário, e para 40% a Europa deve estimular a integração dos refugiados e gerir os fluxos migratórios.

Ao nível da educação, 89% dos inquiridos consideram que os governos nacionais devem dar mais importância à promoção, nas escolas, da educação sobre os direitos e responsabilidades dos cidadãos europeus, e 83% concordam que temas como o funcionamento das instituições europeias, e a história e cultura da Europa devem fazer parte dos conteúdos programáticos da escolaridade obrigatória.

Por fim, entre uma lista de possíveis ideias, a promoção de um pensamento crítico e a capacidade de procurar informação (combatendo notícias falsas e o extremismo), o fácil acesso a informação para os jovens que pretendem trabalhar fora do seu país (de modo a promover o emprego desta nova geração) e a promoção de um pensamento mais amigo do ambiente (através de projectos como transportes mais sustentáveis e sistemas de reciclagem) foram as mais escolhidas e eleitas como prioritárias para o futuro da Europa.

Em linha com a média europeia, os jovens portugueses também consideram que a educação e o desenvolvimento de competências, a protecção ambiental e também o emprego devem ser os temas prioritários da União Europeia, dando, no entanto, mais importância aos dois últimos aspectos. No que respeita à participação nas eleições, os portugueses revelam participar francamente mais a nível nacional (44%) do que a nível local (27%), contrariando assim a média europeia, que vota mais em eleições locais.

No que respeita às ideias para o futuro da Europa, os portugueses consideram (com uma percentagem ainda mais significativa do que a média europeia) que deve ser promovido o fácil acesso a informação para aqueles que pretendem trabalhar fora, e que deve ser estimulado o pensamento crítico e a capacidade selectiva. Contrariando também a tendência europeia, mais do que promover a sustentabilidade ambiental, os jovens portugueses procuram que se promova a educação criativa e imersiva, nomeadamente por via de iniciativas no âmbito da realidade virtual, experiências reais e eventos artísticos e culturais.

Com base nas propostas dos jovens e no resultado do Eurobarómetro, a Comissão Europeia irá apresentar um conjunto de propostas para que seja criada, futuramente, uma Estratégia da UE para a Juventude, fazendo do Velho Continente um local onde também os novos se sentem felizes e realizados.

Jornalista