Em Portugal, os atrasos nos pagamentos não são um problema de agora, mas as suas consequências podem revelar-se especialmente graves perante uma situação em que um número muito significativo de empresas está a sofrer um impacto que põe em causa a sua operação e, no limite, a sua sobrevivência
POR TERESA CARDOSO DE MENEZES

É nos momentos de incerteza como o que vivemos que se torna mais clara a necessidade de instrumentos de análise que ofereçam às empresas meios fiáveis para dirigir os seus negócios com confiança, diminuindo os riscos quando escolhem os seus parceiros comerciais.

Para dar uma resposta a esta necessidade, a Informa D&B dispõe de um conjunto de indicadores que permitem uma leitura mais informada e exata da realidade das empresas, como o Risco de Delinquency, no caso dos atrasos dos pagamentos, ou o Indicador de Resiliência Financeira, que mede a capacidade de uma empresa enfrentar um choque excecional e não previsto, com impacto significativo no seu processo produtivo ou comercial.

Em Portugal, os atrasos nos pagamentos não são um problema de agora, mas as suas consequências podem revelar-se especialmente graves perante uma situação em que um número muito significativo de empresas está a sofrer um impacto que põe em causa a sua operação e, no limite, a sua sobrevivência.

O atraso num pagamento representa uma penalização imediata para o credor, que se vê privado de um montante a que tem direito, com consequências que afetam potencialmente a sua tesouraria. Mas, além disso, para uma empresa com dificuldades de tesouraria, um atraso no pagamento por parte de um cliente pode significar um atraso no pagamento a um dos seus fornecedores, dando origem a uma multiplicação de atrasos que contamina o tecido empresarial.

Nos cerca de 40 países em que monitorizamos este indicador, Portugal é aquele em que menos empresas cumprem os prazos de pagamento aos seus fornecedores, um valor que ronda apenas os 15%. Os negócios com mercados externos, onde estes prazos têm um índice de cumprimento bastante superior, não parecem estar a funcionar como um alento para as empresas portuguesas, já que no nosso país este indicador se afastou progressivamente da média europeia nos últimos anos.

De modo a que as empresas possam monitorizar esta realidade e incorporar esta variável nos seus planos e estratégias, a Informa D&B desenvolveu um indicador preditivo de risco de Delinquency, indicador estatístico que reflete a probabilidade de, nos próximos 12 meses, uma entidade registar um atraso nos pagamentos superior a 90 dias a pelo menos um dos seus credores.

Outro indicador relevante, sobretudo em tempos de maior incerteza, é o da resiliência financeira das empresas. O nosso estudo mais recente sobre a resiliência do nosso tecido empresarial diz-nos que 40% das empresas são resilientes, estando mais bem preparadas para enfrentar a crise provocada pela pandemia independentemente do nível de impacto no setor em que operam.

Ao contrário, mais de 1/4 das empresas têm um nível de resiliência baixo (mínimo e reduzido) e operam em setores que estão a ser impactados de forma significativa (impacto médio e alto) pela pandemia.

Sabemos também que a resiliência aumenta à medida que as empresas vão ganhando dimensão e, em todos os setores, as grandes empresas são as mais resilientes.

Observamos ainda que existe uma relação entre a resiliência e o crescimento e que o nível de resiliência é constante ao longo do tempo – em três anos a quase totalidade das empresas permanece no mesmo nível de resiliência ou transita para um nível contíguo.

Perante os desafios colocados por esta pandemia, as empresas resilientes terão um papel fundamental na recuperação da economia e saberão redesenhar as suas estratégias de crescimento e de diversificação de risco através de novas abordagens, produtos, serviços e novos mercados. O tecido empresarial português tem quase metade das empresas com uma boa resiliência, o que será um forte contributo para ultrapassar a conjuntura atual e para que as empresas financeiramente mais resilientes consigam emergir mais robustas deste contexto

Teresa Cardoso de Menezes, Directora geral da Informa D&B