Quando, no já longínquo ano 2000, o GRACE foi constituído por um pequeno grupo de organizações – a maior parte das quais, multinacionais –, os temas relacionados com a responsabilidade social corporativa, com a sustentabilidade social e ambiental das empresas e com os tantos outros temas hoje conexos com estas realidades, não eram, de todo, centrais às preocupações das empresas e as entidades que, como o GRACE, procuravam “pôr estes temas na agenda do mundo empresarial”, davam ainda os primeiros passos, um pouco por todo o lado
POR MARGARIDA COUTO

Em Fevereiro de 2020, o GRACE faz 20 anos!

Mesmo a nível internacional, foi “só” também em 2000 que foi criado o Pacto Global das Nações Unidas, iniciativa que tem por objetivo encorajar as empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e de sustentabilidade, promovendo um diálogo entre empresas e demais parceiros, com vista ao desenvolvimento de um mercado global mais inclusivo e sustentável.

Pode assim dizer-se (com orgulho!) que o nascimento do GRACE foi em si mesmo uma manifestação de pioneirismo, no contexto da realidade empresarial portuguesa de há 20 anos atrás.

Hoje o Pacto Global das Nações Unidas é a maior iniciativa de sustentabilidade empresarial do mundo, trabalhando sob o lema “business as a force for good”, contando com mais de 12 mil organizações (das quais quase 11 mil são empresas), de 173 países e trabalhando atualmente, de forma ativa e empenhada, para sensibilizar as empresas para a importância do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas, exortando-as a passar das palavras à ação.

À escala nacional, o GRACE é atualmente a maior organização que associa “empresas responsáveis”, contando com cerca de 170 entidades de cariz empresarial, também elas empenhadas em contribuir para que os ODS sejam atingidos até 2030, naquela que é considerada a nível internacional “a década da ação”.

É por isso com um imenso orgulho e sentimento de missão cumprida que o GRACE celebra os seus 20 anos! E é com redobrado sentido de responsabilidade que o faz no dealbar da “década da ação”!

O início da “década da ação” é um tipping point, um momento em que se espera uma mudança de paradigma no que se refere ao papel das empresas na sociedade, com (re)centramento num propósito mais vasto do que a (sempre essencial) obtenção de lucro, na criação de valor para todos os stakeholders (e não apenas para os shareholders) e na consciencialização dos limites do planeta.

São vários os momentos, os episódios, as circunstâncias que nos conduziram à expetativa de que esta mudança de paradigma (que cada mais se assemelha a um tema de sobrevivência) possa de facto ocorrer.

Num certo sentido, e por irónico que possa parecer, quase pode dizer-se que “tudo realmente começou” para muitas empresas com a carta que Larry Fink (CEO da BlackRock, o maior fundo de investimento do mundo), enviou em 2018 a todos os CEOs das empresas nas quais a BlackRock investe, intitulada “A Sense of Purpose”, na qual alertava para que “a Sociedade está a exigir que as empresas, tanto públicas como privadas, sirvam um propósito social. Para prosperar ao longo do tempo, cada empresa necessita não apenas de evidenciar performance financeira, mas também de demonstrar que dá um contributo positivo para a Sociedade. As empresas têm de beneficiar todos os seus stakeholders, incluindo acionistas, trabalhadores, fornecedores, clientes e as comunidades em que operam”.

Depois da “pedrada no charco”, que esta missiva constituiu, a carta do CEO da BlackRock de 2019, desta vez denominada “Purpose and Profit”, foi ainda mais longe, dissipando quaisquer dúvidas sobre a importância que o tema está a assumir (pelo menos) para os grandes investidores. Nela, pode ler-se que “o propósito não é um mero slogan ou campanha de marketing; é a razão fundamental de uma empresa. O lucro não é de forma alguma inconsistente com propósito; de facto, lucro e propósito estão intimamente associados. As empresas que cumprirem o seu propósito e as suas responsabilidades para com os seus stakeholders colhem frutos no longo prazo. Aquelas que não o fizerem, ficarão pelo caminho”.

Ainda em 2109, já no Verão, e movidos ou não pela pressão que estas duas cartas puseram sobre o mundo empresarial, quase 200 CEOs subscreveram uma declaração pública através da Business Roundtable, uma organização que congrega a maior parte das “gigantes americanas”, declaração essa na qual se comprometem com uma redefinição do papel das suas empresas na Sociedade, desenvolvendo os seus negócios no interesse de todos os stakeholders, nomeadamente colaboradores, fornecedores e as comunidades em que se inserem (incluindo o planeta) e não apenas em benefício do interesse dos acionistas.

No final de 2019, foi a vez de a União Europeia adotar o “European Green Deal”, um plano de ação que se espera possa ser verdadeiramente game changing para a Europa tanto em termos ambientais como sociais e que tem um lema comum ao dos ODS: “No one will be left behind”.

E, já no início de 2020, em feliz celebração dos 50 anos do World Economic Forum, o Manifesto de Davos, emitido no final de um encontro que todos os anos se anuncia como destinado a endereçar “the most pressing issues of our times” abandonou os “temas mais clássicos”, dedicando-se integralmente à questão “The Universal Purpose of a Company in the Fourth Industrial Revolution” (Manifesto este já conhecido como “Davos reset”).

Como seria de esperar, também a carta de Larry Fink de 2020, ainda que desta vez mais focada nas questões relacionadas com as alterações climáticas, mantém a pressão na necessária mudança de paradigma e deixa um aviso – a BlackRock passará a votar crescentemente contra a manutenção dos líderes das empresas nas quais aquele fundo de investimento participa, que não sejam capazes de fazer “progressos suficientes” relativamente à implementação de práticas de negócio mais sustentáveis.

Vive-se pois, a nível planetário, um momento crucial! Um momento no qual os grandes líderes são chamados a demonstrar que verdadeiramente merecem a liderança, através da afirmação da capacidade de conduzir as suas organizações à adoção clara de um novo paradigma, que tem menos de novo do que de incontornável, pelo menos para as empresas que pretenderem manter-se prósperas no longo prazo.

É por tudo isto que o GRACE, não apenas celebra os seus 20 anos com muito orgulho, como encara os 20 anos que se seguem com tanta confiança no futuro!

No caminho até agora percorrido, contámos sempre, como esperado, com o forte empenho e comprometido exercício de cidadania empresarial dos nossos associados e podemos afirmar que o nosso compromisso com a sustentabilidade social e ambiental do ecossistema empresarial nacional se reforçou de ano para ano, à medida que foi aumentando, todos os anos, não apenas o número de empresas que se foi juntando “à grande família GRACE”, como o número de parcerias multi stakeholder promovidas pelo GRACE, na convicção de que, nos dias de hoje, nada de relevante conseguimos fazer sozinhos, como tão bem nos diz o ODS 17 (Parcerias para o cumprimento dos ODS).

À laia de celebração deste importante marco na vida do GRACE, e de reconhecimento de que o caminho até agora percorrido nos tornou um stakeholder incontornável para os temas da sustentabilidade social e ambiental das empresas, lançámos uma nova identidade visual que corporiza a evolução da Associação ao longo de duas décadas e se faz acompanhar da “assinatura” Empresas Responsáveis. Esta mudança reflete também a determinação do GRACE em dar continuidade à sua estratégia de crescimento em Portugal e em fortalecer a ligação com uma mancha, tão diversa, de empresas Associadas, visível nas cores do novo logotipo, inspiradas no universo cromático dos ODS.

Esta nova identidade visual vem, acreditamos, reforçar o desafio estratégico do GRACE de ser a Associação de Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade de referência em Portugal com relevo internacional, fortemente empenhada em conduzir o universo empresarial nacional à adoção dos novos paradigmas de sustentabilidade.

Com enorme confiança na solidez do seu projeto e no contributo que o mesmo pode e deve dar para que as empresas portuguesas adiram o mais rapidamente possível a estes novos paradigmas, o GRACE reafirma o seu compromisso de agir de forma integrada para a promoção da agenda das Nações Unidas para 2030 e contribuir para a concretização dos ODS.

Reconhecemos e agradecemos o apoio e empenho constantes de todos aqueles que nos acompanharam ao longo destes (já longos!) 20 anos e contamos não apenas com todos os que já estão connosco, como com todos os muitos que a nós se juntarão, para percorrer o caminho gigante que temos pela frente, rumo a um ecossistema empresarial mais sustentável e a um País mais justo e inclusivo, de um ponto de vista social e ambiental!

Que venham os próximos 20 anos, agora que a “década da ação” está em marcha!

Margarida Couto, Presidente do GRACE em representação da Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados