Foi publicada a 23ª edição do Edelman Trust Barometer. Avalia, uma vez mais, os níveis de confiança global nas instituições que compõem a sociedade. Nesta edição foram entrevistadas mais de 32 000 pessoas em 28 países. Como sempre, há várias conclusões. Nota-se desconfiança nos governos e nos órgãos de comunicação social, ambos percepcionados como fontes de informação pouco credível. A polarização, bem visível em muitos países, parece alimentada por este sentimento. Vivem-se, mais uma vez, tempos difíceis que originam opiniões difíceis. Os números aqui estão
POR PEDRO COTRIM

E os números mostram que o optimismo económico não está famoso, verificando-se, em 24 dos 28 países, que as expectativas dos cidadãos regista mínimos históricos, acreditando-se que daqui a cinco anos, as pessoas e as suas famílias estarão em piores condições. As empresas em que se trabalha merecem confiança; os governos dos países, não. Contas feitas, com exclusão da China e da Tailândia, os governos lideram em termos de desinformação com 46% dos respondentes a afirmarem-no. Do outro lado surgem as ONG, com 51% dos inquiridos a acreditarem na informação que veiculam.

Em termos mais específicos, e numa escala crescente, observa-se uma taxa de confiança de 41% no governo, de 47% nos jornalistas, de 48 nos CEO de forma genérica, de 59 nos concidadãos, de 61 e 63 % nas comunidades locais e nos vizinhos e, de 64% no seu próprio CEO, de 73 nos colegas e de 76% nos cientistas. São valores com variações anuais pequenas, revelando o critério destes questionários.

No que respeita à percepção da divisão de classes devido à desigualdade, é máxima na Coreia do Sul e mínima na China. Nas famílias com menos rendimentos a percepção aumenta, como será evidente. As pessoas no quartil superior de rendimento vivem numa realidade de confiança diferente das pessoas no quartil inferior, com mais de 20 pontos de diferença na Tailândia, nos Estados Unidos e na Arábia Saudita.

Em relação às empresas sediadas em cada país, a percepção de desconfiança é máxima na Índia e na China, ocorrendo a mais favorável no Canadá, na Alemanha e no Japão. As empresas são agora a única instituição vista como competente e ética; o governo é visto como pouco ético e incompetente. As empresas estão sob pressão para entrarem no vazio deixado pelo governo em termos de confiança.

O mundo está polarizado, como se verifica diariamente nas notícias. No mundo ocidental, talvez os casos mais notórios sejam os do Brasil e dos EUA, mas no barómetro Edelman a realidade que os cidadãos pressentem é outra. Na globalidade dos países auscultados, acredita-se que o mundo está mais polarizado, com 80% dos holandeses a afirmarem-no. Verificam-se números elevados no Brasil, na Suécia e em França, sempre com números superiores a 70%. No lado oposto assoma a Arábia Saudita, seguida pelos EAU, por Singapura e pelo Japão.

No caso específico dos EUA, 50% dos que afirmam votar no Partido Republicano afirmam que as divisões são intransponíveis; 33% dos que confessam votar no Partido Democrata acreditam no mesmo. Apenas 23% dos republicanos acreditam que estarão com melhores condições de vida em cinco anos. Do lado democrata, o número sobe para 48. Apenas 26% dos republicanos afirmam confiar no governo, contra 61% dos democratas.

Nos países auscultados, acredita-se que a polarização é um catalisador da desconfiança. 53% dos respondentes acreditam que o seu país está agora mais polarizado do que nunca. Temos novamente Holanda, Brasil, Suécia e franca na liderança deste indicador, e os quatro enunciados anteriormente, Arábia Saudita, EAU, por Singapura e pelo Japão do lado em que se tem menos esta crença.

Em termos globais, verifica-se pelo terceiro ano consecutivo que os cidadãos tomam as empresas como éticas e competentes. De acordo com o barómetro, os governos estão em maus lençóis igualmente há três anos. A maioria dos inquiridos (77%) afirma confiar na sua empresa. 63% afirmam consumir produtos e serviços com base nas próprias crenças e valores e 69% assumem que o impacto social da empresa a que recorrem é importante. Exige-se um maior compromisso social, sobretudo no tocante ao combate às alterações climáticas e às iniquidades económicas.

Igualmente num quadro global, espera-se que os CEO tenham actuações positivas nos seus colaboradores, na acção climática e contra a discriminação, e acredita-se que os melhores resultados ocorrem quando governos e empresas se alinham na procura do bem comum – o número é 4 vezes superior quando se equaciona apenas o trabalho das empresas quando não actuam em conjunto com o governo.

Os cidadãos pedem que as empresas onde trabalham sejam politicamente isentas, que tenham uma actuação consentânea com os avanços científicos e, sobretudo, que sejam uma fonte de informação credível. Em relação ao que esperam dos seus CEO, no topo aparecem as expectativas de remuneração, o trabalho um prol da segurança e prosperidade da sua comunidade e que paguem as suas contribuições fiscais. Esperam ainda que tenham capacidade de reter talentos. 68% dos inquiridos enfatizam o trabalho das empesas no tecido social e no que faz com que todos trabalhem para o bem comum.

Sendo a instituição de maior confiança, as empresas têm o ónus da expectativa e da responsabilidade. Deverão aproveitar a sua vantagem comparativa para clarificar debates e apresentar soluções em matéria de acção climática, diversidade e inclusão, e também na formação de competências. Os melhores resultados surgem quando as empresas e o governo trabalham em conjunto, e não independentemente.

Espera-se a construção de consensos e a colaboração em políticas e normas que produzam resultados que conduzam a uma sociedade mais justa, segura e próspera. Uma visão económica menos optimista é simultaneamente um motor e um resultado da polarização. Deve investir-se na compensação justa, na formação e nas comunidades locais para abordar a divisão e a polarização.

As empresas têm um papel essencial a desempenhar no ecossistema da informação. Têm de ser uma fonte de informação de confiança, deverão promover o discurso civil e responsabilizar as fontes de informação falsas através de mensagens correctivas. Segundo o que se apurou no barómetro Edelman, a sociedade está bem se as empresas estiverem bem.