De acordo com o estudo “Europa Jovem 2018”, apresentado recentemente pela Fundação TUI, a União Europeia deverá ter como principais objectivos, nos próximos cinco anos, a promoção da segurança através do combate ao terrorismo, a protecção do ambiente e o controlo do fluxo de imigrantes. O inquérito realizado aos jovens europeus demonstra ainda uma maior identificação destes com os valores preconizados pela UE, mas um maior apelo a que sejam os seus respectivos países a tratar das questões sociais e económicas. A preocupar está o aumento do populismo, também entre os cidadãos mais novos
POR MÁRIA POMBO

Combater o terrorismo, proteger o ambiente e controlar a imigração. Estas devem ser as principais “tarefas” de que a União Europeia se deve ocupar nos próximos cinco anos, de acordo com os jovens que residem no Velho Continente. As conclusões foram retiradas do estudo “Europa Jovem 2018”, da Fundação TUI, para o qual foram inquiridos cerca de 6 mil jovens com idades entre os 16 e os 26 anos, residentes em França, Alemanha, Grécia, Itália, Polónia, Espanha e Inglaterra. Os resultados foram apresentados recentemente em Berlim.

O apoio às instituições europeias tem vindo a crescer desde 2017: se existisse um referendo nacional sobre a permanência na UE do país em que vivem, 71% dos inquiridos teriam votado para ficar (mais 10% que há um ano). A percepção dos jovens acerca da relação entre a UE e o seu país também sofreu alterações, sendo maior a percentagem de inquiridos (35%, contra 29% apurados em 2017) que consideram que se trata de uma relação recíproca, em que ambos precisam um do outro do mesmo modo. Adicionalmente, os jovens consideram que a UE é uma aliança que partilha valores culturais, tendo aumentado (especialmente em Itália e Espanha) a percentagem de jovens que dão importância a esta questão cultural.

Existem mais jovens (52% neste ano, contra 45% apurados em 2017) que se consideram também cidadãos europeus, tendo decaído, por seu turno, o número de inquiridos que afirmam ser exclusivamente cidadãos do seu país (34%, conta 42% apurados há um ano). França, Itália, Espanha e o Inglaterra são as nações onde estas percentagens mais se alteraram, existindo mais jovens a afirmar terem ambas as cidadanias (europeia e do seu país). Estes dados revelam que, por um lado, a UE está a fazer um bom trabalho no que respeita ao combate ao isolamento, dando aos jovens mais motivos para se sentirem integrados no continente, mas que, por outro lado, os governos nacionais devem tomar medidas (ou melhorar aquelas que já implementaram) no sentido de cativarem os seus cidadãos (especialmente os mais novos), para que estes se identifiquem mais com o país onde nasceram.


Jovens apoiam a democracia mas defendem uma mudança política

Em termos políticos, a maioria dos jovens apoia a democracia (especialmente na Alemanha, Itália, Polónia e Espanha), tendo aumentado de 52% para 58% os inquiridos que consideram que esta é a melhor forma de governo. Todavia, muitos partilham a ideia de que deve existir uma mudança política, sendo apenas 17% aqueles para quem o sistema político funciona como deveria funcionar. E se 45% afirmam que o sistema político necessita “apenas” de algumas alterações, 28% defendem que só uma mudança drástica terá a capacidade de melhorar o que está errado neste campo.

Tal como já foi referido no início deste artigo, o combate ao terrorismo, a protecção do ambiente e do clima, e o controlo da imigração devem ser as principais preocupações da União Europeia – sendo que os jovens alemães consideram que a promoção das novas tecnologias, da internet e da digitalização também devem fazer parte das prioridades da UE. Por seu turno, a promoção do crescimento económico, a redução das desigualdades sociais e, mais uma vez, o combate ao terrorismo são consideradas as tarefas mais importantes de que os governos nacionais se devem ocupar nos próximos anos. E, embora a UE tenha vindo a desempenhar um papel bastante relevante em termos de educação, os jovens em geral consideram que esta deve ser uma matéria tratada pelos seus próprios países.

Neste sentido, conclui-se que, para os jovens, as áreas relacionadas com a segurança e o ambiente são de responsabilidade supranacional, e que as questões de foro económico e social devem ser tratadas e trabalhadas a um nível nacional.

As atitudes populistas também foram um tema tratado no documento. Tratando-se o populismo de um termo que tanto pode ter uma conotação positiva como um sentido negativo, os autores do estudo tiveram em consideração três dimensões: o anti-elitismo, a crença na soberania popular sem restrições, e o facto de se olhar para o povo como um grupo homogéneo e virtuoso. Tal como o conceito em si, as atitudes populistas também são bastante dispersas, variando entre 7% na Alemanha e 23% na Polónia.

De acordo com o estudo, os jovens europeus com atitudes populistas defendem (mais do que aqueles que têm atitudes não-populistas) que a democracia é a melhor forma de governo, mas são mais críticos em relação ao modo como esta deve estar organizada e à forma como o sistema político deve funcionar. Para 39% dos populistas e 26% dos não-populistas, o sistema político necessita de mudanças drásticas para que possa funcionar correctamente. Complementarmente, 43% dos populistas consideram que a imigração é uma ameaça (contra 26% dos não-populistas), sendo que 36% defendem que a mesma deve ser tratada a nível nacional e 38% acreditam que este é um problema que deve ser resolvido pela UE.

A este respeito, Marcus Spittler, membro do WZB –  Berlin Science Research Centre for Social Research e da equipa que elaborou o estudo “Europa Jovem 2018”, explica que “para os jovens com inclinação populista, a democracia é considerada vazia”, uma vez que é associada a uma “forma de governo não-liberal que demonstra pouca, ou nenhuma, consideração pelos princípios do estado de direito”.


O Facebook é popular mas não é de confiança

Em termos de utilização de tecnologia, 82% dos jovens procuram informação acerca de política na internet e 63% escolhem a televisão. A rádio (41%), os jornais em papel (34%) e as revistas (30%) são – já sem quaisquer surpresas – os meios menos utilizados pelos jovens. Complementarmente, as redes sociais assumem-se como meios através dos quais os jovens têm acesso a informação sobre política. Com 44%, o Facebook é a rede social de eleição – mesmo após o aumento de popularidade, junto dos jovens, de outras redes sociais como o Twitter e o Youtube (o qual atinge apenas 28% das preferências dos jovens europeus) -, sendo os jornais e as revistas online (com 34%) os segundos meios através dos quais os jovens ficam a par do que se passa no mundo.

É elevada a confiança em organizações públicas de emissão de notícias, especialmente na Alemanha e no Reino Unido, sendo que os jovens polacos tendem a confiar mais em emissoras privadas, e os franceses, espanhóis, gregos e italianos a confiarem tanto nas emissoras públicas como nas privadas. Em termos de tipos específicos de meios de comunicação, os jornais e as revistas continuam a ser aqueles em que os jovens depositam mais confiança, mesmo na era digital: as suas versões em papel são aquelas em que mais jovens confiam (37%), sendo que, ainda assim, as versões digitais têm vindo a ganhar adeptos (com 35%). E apesar de o Facebook ser a rede social de eleição no que ao acesso a informação diz respeito, apenas 17% revelam que este é um meio de confiança, sendo a fonte na qual os jovens franceses, alemães, espanhóis e ingleses menos confiam.

Olhando para o futuro, menos jovens (30%, contra 34% apurados em 2017) consideram que a imigração é uma oportunidade, sendo que tanto num ano como no outro, 29% consideram, ao invés, que esta é uma ameaça. As mudanças de opinião observam-se principalmente na Alemanha, Espanha, Itália, Grécia ePolónia. Pertencer à Zona Euro é considerado uma oportunidade na Alemanha, na Grécia, em Itália e em Espanha, sendo menor a percentagem de jovens que concordam que o Brexit é uma vantagem e maior a percentagem que o vêem como uma ameaça.

A percepção acerca da globalização também tem sofrido alterações desde 2017, sendo que, no geral, mais jovens olham para este fenómeno como algo positivo: 44% consideram que é uma oportunidade e apenas 16% entendem que se trata de uma ameaça. Os jovens alemães e franceses são os que mais defendem as suas vantagens, contra os polacos que são os que revelam ser os mais inseguros no que respeita a este tema. Adicionalmente, a presidência de Trump é considerada uma ameaça para 57% dos jovens europeus e uma oportunidade para apenas 11%, sendo a Polónia o único país onde se regista uma maior percentagem de jovens a favor do actual presidente dos Estados Unidos (29% consideram-no uma oportunidade e 25% afirmam que se trata de uma ameaça).

Os resultados acima apresentados revelam, por um lado, que a Europa tem feito um trabalho positivo no que respeita à implementação de medidas que cativem os jovens e os façam querer viver no Velho Continente. Todavia, de acordo com Elke Hlawatschek, “o conceito de democracia ‘vazia’, observado entre jovens com tendências populistas, é problemático”. Para a directora geral da Fundação TUI, “a educação política continua a ser uma tarefa fundamental para todos os actores sociais, e não apenas para os políticos”, sendo que um dos papéis da Fundação TUI consiste em “explicar os benefícios de uma Europa democrática para os jovens”.

Jornalista