Em tempos de um mundo novo, doido e sem regras, vivemos tempos de paz, com meio mundo em guerra e nuvens negras para o lado do sector do petróleo. Por cá, as guerras que vivemos e que iremos viver por muitos anos, sejam positivas ou negativas, chamam-se globalização e guerra dos partidos políticos (ou da não verdade). Um mundo doido e sem regras onde muito se fala de regulação do sistema financeiro, mas pouco do dinheiro ser cobarde, pois este esconde-se onde se sente melhor, como um “vulcão”, um “desastre natural” que nos flagela a todos
POR DAVID ZAMITH*

Guerra da globalização: numa Europa prisioneira dos seus lobbies, lenta a legislar, é fundamental criar novas regras para o sistema financeiro, dando garantias à banca comercial e sem protecção para a banca de investimentos? Num mundo global, super volátil, é fundamental termos regras e acções céleres de regulação do sistema financeiro mas também para a fiscalização sobre as temáticas da responsabilidade ambiental, dos direitos humanos e da legislação laboral global – nomeadamente sobre os que exportam para a UE. Urge ter um sistema super pró-activo, e não reactivo, lento e interessado, como o nosso.

Felizmente, e como se viu muito recentemente, o BCE parece estar a liderar a regulação, obrigando as nossas instituições a serem actuantes. Se nós não somos capazes, ou não interessa ao “sistema” partidário instalado, haja de fora quem ponha ordem na nossa casa.

A globalização é um facto para o qual devemos principalmente apostar nas oportunidades que se nos oferecem. Mas, como obrigar os europeus a medidas de responsabilidade ambiental, exigentes, burocráticas e muito onerosas, quando pela teia dos interesses dos lobbies importadores, produtos concorrentes sem controlo/fiscalização, entram quase ajudados na comunidade, prejudicando a indústria e os serviços europeus, limitando o investimento e com isso o objectivo do emprego?

Lobbies? Por que razão o Parlamento Europeu deu uma vitória estrondosa à “imposição de etiquetas de origem nos produtos têxteis”, mantendo-a “esquecida” numa qualquer gaveta do Conselho de Ministros da União Europeia? É na indústria têxtil que reside o maior emprego em Portugal!

Guerra dos Partidos: em vez de nos unirmos e pormos Portugal em primeiro lugar, numa visão de reforma do Estado, apostando no crescimento e no emprego, como fez o grande estadista alemão Helmut Schmidt, aliando os partidos “inimigos” (SPD e CDU) e aliando-se com a França “inimiga” e Valery Giscard D´Estaing, numa visão estratégica de modernidade e desenvolvimento para a Alemanha, França e para toda a Europa – Dois grandes estadistas -, por cá vivemos o regabofe da política parola e completamente viciada na retórica, numa vivência de clientelismos de interesses, afastados da realidade e da população.

Com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, onde a pobreza nacional atinge quase os 3 milhões de portugueses (30% da população), as PME, como “o suporte” da nossa economia, vivem com falta de apoio bancário para a sua recapitalização e normal funcionamento das suas estruturas, com um Estado pesado e burocrático a necessitar de reformas estruturais urgentes (não esquecendo que o enorme problema do Estado Português está no facto de essas reformas atingirem pessoas).

Um Estado que usa mal os dinheiros dos contribuintes, não sabe gerir, gasta demasiado e onde a carga fiscal assume laivos de “terrorismo fiscal”. Isto só pode acabar mal! E, segundo a campanha presidencial em curso, com um tráfico de influências e uma corrupção instaladas, que urge ser combatida logo pelos sinais exteriores de riqueza.

Renovação: é o tema que se exige, com novos políticos, verdadeiros Estadistas, experientes e competentes para rnovar o tecido vicioso da nossa política, que se ancorou num carreirismo desajustado das realidades económicas e sociais. Em vez de uma permanente retórica ameaçadora dos perigos da esquerda e direita, quiçá vivendo os nossos políticos ainda no tempo da Revolução Francesa, vamos em conjunto encontrar consensos para solucionar os perigos da nossa economia, mas a sério. Como? Seguindo o exemplo da linha de pensamento de Helmut Schmidt, criando um pacto de regímen em Portugal e apostando numa visão estratégica de verdade e de renovação pela credibilidade! Os actores políticos portugueses têm de alterar os seus padrões comportamentais, ancorando as suas actividades políticas, económicas e financeiras na credibilidade ou, sem credibilidade, continuarão a seguir o rumo da irresponsabilidade!

Só assim, reformando o sector público, cada vez mais gastador, apostando na iniciativa privada e nos empresários portugueses, para uma visão exportadora do tecido das PME e empresas familiares, Portugal pode finalmente preparar-se para o ciclo difícil que temos pela frente (2016-2030), beneficiando das vantagens de ser pequeno.

Guerra da Não Verdade: Por cá o primeiro-ministro deu uma entrevista ao JN afirmando que a “Troika andou mais preocupada com juntas de freguesia do que com a banca “, abordando a queda do Banif, a Troika e o futuro da TAP. O primeiro-ministro quer as responsabilidades do Banif apuradas, a supervisão da banca revista e o negócio da TAP investigado porque, afirmou, “não são questões ideológicas” e “são questões de interesse nacional”. Então a Troika não trouxe 12,6 mil milhões de Euros para a recapitalização da nossa Banca? Sem comentários! Este “Não é mentira” – não é verdade – só serve para afastar, cada vez mais, os portugueses da política e pôr em perigo a própria democracia.

E para o anunciado “fim da austeridade” aguardamos a tomada de posição do novo governo para o cumprimento, por parte do Estado e das suas entidades públicas, do Decreto-Lei n.º 62/2013, que estabelece medidas contra os atrasos no pagamento de transacções comerciais, transmitindo o exemplo de credibilidade que se exige a um governo Europeu. “Pagar tarde não é apenas um desastre económico, mas também um desastre humanitário ”.

Vamos parar para pensar, apostando no futuro de Portugal.

ACEGE - Núcleo do Porto

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