Agregar no mesmo espaço vários equipamentos de resposta social – uma horta comunitária, um Centro de Actividades Ocupacionais, uma Unidade de Cuidados Geriátricos e uma creche -, com vista a rentabilizar recursos e proporcionar a interacção dos utilizadores, familiares e comunidade. É esta proposta da Aldeia Social que a Santa Casa da Misericórdia de Santo António está a criar em Lagoa, nos Açores, para colmatar as carências do concelho, explica ao VER o seu Provedor
POR GABRIELA COSTA

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© Santa Casa da Misericórdia de Santo António
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A Santa Casa da Misericórdia de Santo António, no concelho açoriano de Lagoa, em São Miguel, assinou a 14 de Outubro a escritura de compra de um terreno para a implementação do projecto Aldeia Social. O terreno adquirido à Diocese de Hangra, em Santa Cruz da Lagoa, tem cerca de vinte mil metros quadrados e vai agregar diversas infra-estruturas que darão respostas ao nível social, com o objectivo de colmatar serviços que o concelho de Lagoa não dispõe até à data.

No espaço da Aldeia Social funciona já, desde Setembro, o Banco Alimentar Contra a Fome e “a horta comunitária está prevista para breve”, adianta, em entrevista ao VER, João Manuel Moniz de Sousa, Provedor da Misericórdia.

Considerado “de grande importância” para o concelho de Lagoa e para a ilha de São Miguel, este projecto é principalmente guardado pelo Centro de Actividades Ocupacionais, o qual constitui “uma resposta de grande necessidade” para o concelho de Lagoa, pois “é o único que não possui uma valência dessa natureza”. De sublinhar que existem já cerca de uma centena de famílias a aguardar por vaga nestes serviços.
Para João Ponte, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, presente na assinatura da escritura de compra do terreno por parte da Santa Casa da Misericórdia de Santo António da Lagoa, “os projectos sociais em parceria são indispensáveis para o futuro do Concelho de Lagoa”. Segundo o autarca lagoense, trata-se de um terreno com um grande potencial e que servirá para colmatar algumas necessidades existentes no concelho, com a implementação do projecto da Aldeia Social.

“Este é um passo arriscado, mas que mostra uma grande capacidade de visão para o futuro”, concluiu, defendendo “a necessidade de todas as instituições sociais estarem preparadas” para os tempos difíceis que se adivinham: “os próximos anos serão de grandes dificuldades e é nesta altura que precisamos de mais protecção social. Existe aqui um grande desafio que se coloca às Misericórdias e que é o de estar à altura de dar respostas às necessidades dos agregados familiares mais frágeis”.

E se, por um lado, estas respostas “devem assentar em projectos de parceria com o município, Juntas de Freguesia e Governo Regional”, por outro, deve haver mais voluntariado nestas respostas sociais”, sugeriu o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa.

Como nasceu a ideia de criação de uma Aldeia Social e quais são os objectivos da iniciativa?
Esta ideia nasceu por minha própria iniciativa, tendo como objectivo agregar no mesmo espaço vários equipamentos de resposta social, com vista a rentabilizar recursos e proporcionar a interacção dos utilizadores, familiares e comunidade entre as várias valências.

Que importância assume para o concelho este projecto que vai reunir diversos equipamentos sociais? Quais são as necessidades mais prementes, face ao grave contexto de crise socioeconómica, que o projecto visa colmatar?
Este projecto é de vital importância para o concelho de Lagoa, uma vez que o mesmo carece dos equipamentos que ali serão instalados. A necessidade mais premente é a criação do Centro de Actividades Ocupacionais, uma vez que irá permitir ajudar as famílias no apoio, acompanhamento e melhoria da qualidade de vida do utente.

“O facto de existirem cerca de uma centena de famílias a aguardarem por vagas no Centro de Actividades Ocupacionais é penoso para os familiares” .
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Está prevista a criação de uma horta comunitária, no imediato. Como irá funcionar e quantas famílias deverá beneficiar?
A horta comunitária nasce pelo agravamento do contexto socioeconómico das famílias, nomeadamente as beneficiárias do Rendimento Social de Inserção e as que estão debilitadas financeiramente, mas destina-se também a toda a comunidade que estiver interessada em envolver-se neste projecto.

Vamos encetar parcerias com a Direcção Regional da Agricultura e Pescas e com o Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores, o primeiro para colaborar no apoio técnico e o segundo para nos sinalizar as famílias. Neste momento, é difícil quantificar o número de beneficiários; o que podemos adiantar é que existe cerca de vinte mil metros quadrados disponíveis para o efeito.

Quando espera que fiquem em funcionamento o Centro de Actividades Ocupacionais, a Unidade de Cuidados Geriátricos e a creche?
Já se encontra a funcionar na Aldeia Social o Banco Alimentar e a horta comunitária está prevista para breve. Quantos aos restantes equipamentos, com os constrangimentos financeiros com que o nosso país se depara, incluindo os Açores e naturalmente o Concelho de Lagoa, é difícil prever uma data para a sua concretização. Cremos, contudo, que a construção do CAO terá o seu início muito em breve, uma vez que o Governo Regional dos Açores está muito receptível na concretização deste equipamento.

Que benefícios trará à população cada uma destas infra-estruturas (e que concelhos limítrofes a Lagoa poderão também beneficiar)?

O concelho de Lagoa terá, naturalmente, benefícios de ordem financeira e social para os seus concidadãos, e em alguns equipamentos, nomeadamente o CAO, a creche e o lar para cuidados geriátricos, poderá abranger os três concelhos mais próximos, uma vez que Lagoa fica geograficamente bem situada e servida de uma boa rede viária.

Como avalia o facto de existirem já cerca de uma centena de famílias no concelho que aguardam por vagas para o CAO? Que serviço irá este equipamento disponibilizar para jovens, idosos e pessoas com necessidades especiais?
O facto de existirem cerca de uma centena de famílias a aguardarem por vagas no CAO é penoso para os familiares, uma vez que têm de manter potenciais utentes deste serviço na sua habitação, com os constrangimentos que este facto acarreta: não poderem trabalhar, não terem as condições mínimas, quer habitacionais, quer técnicas, para lidarem com as situações… aqueles que têm mais sorte encontram resposta em equipamentos adequados, mas têm de se deslocar para fora do concelho, com todos os inconvenientes daí resultantes.

Relativamente aos escalões etários que vamos abranger, é assunto que vai ser estudado por uma equipa multidisciplinar, com vista à elaboração dos projectos de arquitectura e especialidades.

Idosos mais seguros
A Santa Casa da Misericórdia de Santo António adquiriu recentemente um sistema de monitorização informático para o seu Lar de Idosos que permitirá conhecer, em tempo real, toda a informação referente aos cuidados prestados aos residentes, bem como as tarefas realizadas pelos funcionários da valência e demais rotinas desenvolvidas.Este equipamento permitirá uma maior celeridade nos procedimentos adoptados, representando uma poupança efectiva em termos de tempo e de papel e possibilitando que a qualquer momento se possa ter conhecimento de um determinado dado.Foi também desenvolvido um programa de segurança que permitirá alertar com antecipação para possíveis incidentes com os idosos, por via de um dispositivo que detecta se o utente ultrapassa um determinado perímetro de segurança no Lar de Idosos, em Lagoa, nos Açores.

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