«Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». Todos nós estamos de acordo com a situação de crise actual, situação de “Bancarrota” para Portugal, mas poucos parecem dispostos a participar no retorno à disciplina e equilibro das contas, nomeadamente os activos participantes públicos, aqueles que numa ostentação desesperante de um “novo-riquismo parolo”, vêm beneficiando de forma interessada!
POR DAVID ZAMITH*

O diagnóstico está feito e felizmente temos a Troika a controlar e a fornecer ajuda financeira, gota-a-gota, para um estado de pré-insolvência. Só com muitos sacrifícios e a participação de todos se poderá levar a cabo a gigantesca tarefa de pôr as contas de novo em ordem. Só com a participação de todos será possível levar a cabo esta tarefa que, infelizmente, será dramática para os mais pobres e para os que caem na malha do desemprego. Mas em tempo de balanço do diagnóstico, e de lembrar que a “Ganância levou à Crise”, tendo como certo que o “Clube de Interesses” entre o sector financeiro e o Estado, nas suas variantes, contribuiu para o descalabro de pré-insolvência nacional actual.

Aqui terá que entrar o trabalho do Estado, através de um Banco de Portugal independente da política e verdadeiramente “Regulador” e, neste período de transição, a exigir a orientação de crédito e seus plafonds, rumo às empresas produtoras de bens de exportação e intervenientes na substituição de importação. Ou, quiçá ainda melhor, nomeadamente para países de cultura dita “muito inovadora e mediterrânica”, simplesmente com o controlo e regulação do Banco Central Europeu.

E se todos temos que participar, e sofrer, é tempo de julgar os culpados. Não basta deitar as culpas para a economia importada, nem para a democracia dos castigos em julgamento eleitoral. A incompetência, ou competência interessada, é das malhas políticas decisórias de medidas que hoje a Troika vem apontar como desastrosas, eleitoralistas e de criação gigantesca de gorduras públicas, para gáudio de clientelas políticas, com criação de estruturas público-privadas com contornos maquiavélicos ou de péssimo sentido à boa gestão (com o exemplo de um autismo irresponsável para um regulador, como o Banco de Portugal, igualmente a ter dado sinais de um proteccionismo às causas de interesses políticos). Ou seja, não basta, e por mais uma vez, “lavar” esta crise profunda, de falência do nosso Portugal, sem deixar de apontar os responsáveis e com isso tomar medidas para que de futuro haja acções preventivas evitando novos dramas.

Para nós temos que a economia não é a principal culpada da nossa situação actual, já que a mesma nos mostra que, com altos e baixos, com períodos de deficit mais ou menos gravosos ou em períodos de superavit, esta se reajusta com tomada de medidas.

Os principais actores das crises portuguesas dos últimos anos, nomeadamente post revolução, com o terceiro pedido de intervenção do FMI em cerca de trinta anos, e de forma clara na crise actual, são os políticos. O “sistema” criado pelos partidos do arco da governação, a capacidade legisladora do nosso Parlamento, onde só os melhores e mais competentes deveriam ter assento e onde todos nós vemos a fragilidade de competências de muitos dos seus membros que só têm esse assento pelos “méritos” e “carreirismo” partidário, têm levado a uma repartição escandalosa, e de um gigantismo atroz do nosso sector público, a culminar por um “rega-bofe” de lugares, ordenados desfasados da realidade dos níveis europeus de países ricos, mordomias e regalias escandalosas à custa dos “Dinheiros dos Contribuintes”.

Como é possível, nos tempos actuais de uma globalização sem face, exigente e volátil, ter à frente de destinos, uns “quaisquer”, que nunca geriram coisa alguma!

É tempo de julgar os responsáveis, a fim de se criarem novas estruturas pensadas para a disciplina da coisa pública, para a prevenção e fiscalização, evitando-se o “clubismo” partidário, o envolvimento de teias interessadas ou em sociedades secretas, e apostando na competência e em metas de responsabilização, numa nova postura estadista para os intervenientes na causa pública.

É fundamental aproveitar a “estadia” da Troika em Portugal para higienizar as contas e as atitudes. Com o memorando de entendimento a falta de espaço aos políticos para se exibirem é clara, e os que deixaram o caos no País (veja-se o gigantismo opulento da administração central criada, ineficiente e de despesismo assustador, ou os responsáveis pelo descalabro das finanças públicas, a criação de PPP´s com encargos, no mínimo suspeitos) deviam ter recato e um pouco de vergonha.

Mas não, as mesmas caras que levaram Portugal à bancarrota começam de novo a sair da toca e ainda têm coragem de falar, com a mesma retórica bafiosa de tão velha e desactualizada: aqueles políticos (a elite dos partidos) que nos “agridem” diariamente, do Parlamento aos media, com retóricas ideológicas sem senso para os dias difíceis que vivemos, a par de uma crescente desigualdade, os quais são “só” os verdadeiros responsáveis, e se mostram de forma arrogante absolutamente insensíveis, pois para eles só contam as suas mordomias, que a todo o custo não desejam perder. Basta de tanta loucura pois são e foram os políticos que levaram à dramática situação de falência nacional em que “realmente” nos encontramos!

Finalmente uma palavra, e uma mão de ajuda solidária e humana, para os que caíram na malha da pobreza, através de uma atenção especial e bem organizada no apoio, durante este período de dois a três anos, período apontado como necessário até sentirmos os efeitos da mudança de paradigma. É fundamental que todos dêem a mão a quem está bem pior que nós, ajudando as instituições de solidariedade social, nomeadamente as estruturas da Igreja Católica que tão bem conhece o terreno. Sim, porque embora os políticos portugueses insistam que somos uma sociedade laica, a verdade é que o povo que dizem representar é maioritariamente cristão!

O Ocidente está doente porque os políticos “se esqueceram”, de forma programada e ideológica, que o mundo certo é aquele onde os valores, a ética, o trabalho, o rigor, os direitos e as obrigações, o bem comum, ancorados na família, são efectivamente os pilares de uma sociedade sempre viva, que não a sociedade da corrupção, do tráfego de influências, do consumismo e da ganância financeira, sempre a favor de alguns e criadora de maiores desigualdades.

A governação tem que entender que se deseja mudar o rumo. Tem que ser a primeira a dar o exemplo; deve ser sempre o Estado o primeiro a dar o exemplo, começando por falar verdade e sabendo comunicar as soluções da crise aos portugueses com realismo e esperança.

 

ACEGE - Núcleo do Porto