Por que motivo continua o crescimento do emprego, não só nos Estados unidos como em outros países desenvolvidos, tão débil? Dois livros e três economistas oferecem as suas análises, opostas, sobre este fenómeno. A causa está no declínio dramático no ritmo da inovação ou na sua aceleração prodigiosa?
Para analisar este mistério, dois economistas, de forma previsível, chegaram a explicações opostas. O livro de Tyler Cowen, The Great Stagnation, argumenta que estamos a viver as consequências de um dramático declínio no ritmo da inovação. Para ilustrar a sua opinião, Cowen compara a sua vida à da sua avó. Entre os anos 1910 e 1950, a senhora em causa passou de não ter canalização ou electricidade à compra de um fogão, de um frigorífico e de outros electrodomésticos, pese embora o facto de que a única máquina que Cohen tem na sua cozinha ser um micro-ondas. Uma boa inovação, sem dúvida, mas não propriamente com o mesmo peso das mudanças radicais vividas pela sua avó. A consequência de se desacelerar a inovação, argumenta Cowen, resulta na diminuição de indústrias inovadoras e numa menor quantidade de destruição criativa. Ou seja, não há novos postos de trabalho. Por seu turno, Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, no livro Race Against The Machine: How the Digital Revolution is Accelerating Innovation, Driving Productivity, and Irreversibly Transforming Employment and the Economy analisam os mesmos relatórios sombrios sobre emprego, e concluem que a causa de raiz não está no declínio na inovação, mas exactamente na sua aceleração. Os progressos tecnológicos estão a desenvolver-se a um ritmo tão alucinante que muitas pessoas estão a perder a “corrida contra as máquinas”. Os computadores estão a executar, de forma cada mais rápida e eficaz, tarefas que habitualmente exigiam a presença humana, mas os colaboradores não estão a ganhar novas competências, o quão rápido seria desejável, para encontrar novos empregos. Os autores denominam a inovação que está a ocorrer como uma “mudança técnica de competências tendenciosas”, a qual prejudica os trabalhadores com competências que podem ser automatizadas e aumenta, de forma dramática, a produtividade dos poucos trabalhadores com elevadas competências que podem ter acesso e manipular mais informação de uma forma mais rápida. Ou seja, não há novos postos de trabalho.
Estas duas crenças opostas podem, contudo, ser mais facilmente reconciliadas do que parece. Brynjolfsson e McAfee concentram as suas atenções no sector tecnológico, no qual e aparentemente essa inovação está a ter lugar mais rapidamente do que nunca. Cowen, por seu turno, olha para a economia no seu todo e vê estagnação, ou regressão, nos grandes sectores, como o dos cuidados de saúde, a educação e o público – ou e na verdade, em qualquer sector que lide de forma mais significativa com a gestão de pessoas do que com a gestão de coisas, sendo que o primeiro apresenta maiores complexidades e conduz a uma menor inovação e criação de emprego. Como, no geral, as oportunidades de inovação têm vindo a abrandar, as empresas concentram-se na “próxima actividade” que lhes possa dar o maior retorno: cortar custos através da utilização de progressos tecnológicos que automatizem processos e eliminem a necessidade de contratar mais trabalhadores para produzir melhores resultados. Ambos os argumentos são convincentes, mas o problema é que ambos os livros prevêem que a crise do emprego não irá terminar proximamente. Cowen, ao manter as suas visões libertárias, escreve que relativamente pouco pode ser feito até que as condições naturais evoluam para uma outra era de inovação rápida. Brynjolfsson e McAfee, apoiados pela sua visão tecnológica do mundo, são mais activistas. Todavia, as suas receitas falham na indução de um maior nível de confiança. Eles observam, por exemplo, que as actuais condições exigem uma “hiper-especialização” por parte dos trabalhadores. Mas os nossos sistemas educacionais estão criados de forma a criar um amplo número de generalistas, poucos especialistas e muito poucos hiper-especialistas. Brynjolfsson e McAfee invocam, igualmente, o empreendedorismo e a maior facilidade existente na actualidade para os empreendedores iniciarem o seu negócio. Esta realidade possibilita “uma experimentação paralela de milhões de empreendedores”, a mais provável origem, de acordo com a sua crença, de novos postos de trabalho. Mas e mais uma vez, não existem mecanismos formais de sucesso em curso para formar empreendedores – e milhões desses mesmos empreendedores irão fracassar e, talvez, partirem para a hiper-especialização, de uma forma tão forte que enfrentarão graves problemas para voltar a começar. Seria necessário um livro muito maior para explorar estas receitas, mas as que aqui são apresentadas – alterar o sistema educativo, formar mais empreendedores e investir em infra-estruturas – reintroduzem ideias que andam por cá há décadas. Ou seja, ideias cuja execução – e para utilizar o termo de Cowen – simplesmente estagnou. A boa notícia é que os autores acreditam, fervorosamente, que as coisas irão, eventualmente, melhorar. O problema, todavia, é saber até que ponto tudo irá piorar até que esse momento de recuperação surja. Como afirmou o presidente Franklin D. Roosevelt, parafraseado por Brynjolfsson e McAfee, “a desmoralização causada por um desemprego vasto é o maior dos perigos para a nossa sociedade”. A natureza pouco inspiradora das receitas dadas por Brynjolfsson e McAfee deveria servir como uma importante chamada de atenção para o sector social. Há anos que falamos sobre a nossa incapacidade de fornecer uma educação de qualidade e acessível para uma vasta fatia da população. Há anos que temos vindo a falar das glórias do empreendedorismo, social ou de outra coisa qualquer, sem quaisquer progressos mensuráveis em melhorar os níveis de sucesso (ou de providenciar as competências necessárias e o capital para tal) dos empreendedores aspirantes e fora da elite. Se a ideia é escaparmos à grande estagnação e ganharmos a corrida contra as máquinas, são necessárias acções urgentes. Para lutar contra a maior ameaça para a sociedade, precisamos de mais experiências na educação, de uma maior regulação, de mais formação e de programas sociais para aqueles que são deixados para trás na corrida contra as máquinas e nas inovações que suprimem os empregos. Artigo originalmente publicado na Stanford Social Innovation Review. Traduzido com permissão. |
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Helena Oliveira
Editora Executiva