Apesar da recessão pandémica, os fundos que observam os factores ambientais, sociais e de governação (ESG) superaram largamente os seus valores de referência. Entretanto, a UE e o FMI apelam a uma “recuperação verde” pós-pandémica
POR MARISA DREW

Desde meados de Fevereiro de 2020, a maioria dos fundos ESG ultrapassou os seus valores de referência, tendo os ESG e os temas da sustentabilidade atraído fortes entradas de fundos. Tal como foi referido pela Morningstar, no primeiro trimestre de 2020, os investidores mundiais injectaram um montante recorde de 45,76 mil milhões de dólares em fundos que investem de acordo com as práticas ambientais, sociais e de governação. Isto é comparável a uma saída de 384,7 mil milhões de dólares em todos os fundos.

No Credit Suisse, temos visto o mercado caminhar cada vez mais para um investimento responsável, impulsionado em parte por um crescente compromisso social com a sustentabilidade. A pandemia do Coronavirus aumentou a determinação dos nossos clientes em direccionar os seus investimentos para resultados ambientais e sociais positivos.

Seguindo uma tendência crescente do ano passado, a Europa continua a ser um forte líder do investimento sustentável – e o tema está a ganhar popularidade noutras regiões. Até agora, este ano, os investidores nos EUA demonstraram uma maior apetência pelo investimento sustentável do que nos trimestres anteriores, tendo os fundos ESG norte-americanos sido responsáveis por 10,45 mil milhões de dólares, ou 22,8% de todo o dinheiro recebido, nos primeiros três meses deste ano. Isto é significativamente mais do que no mesmo período do ano passado, quando os EUA se encontravam a meio do “bull market” mais longo da sua história.

Apoio regulamentar e um apelo a uma “recuperação verde”

A regulamentação da sustentabilidade é um tema global e assistimos a uma maior orientação dos reguladores em todas as regiões, estando a UE a planear implementar requisitos regulamentares vinculativos em 2021.

Nos termos da nova regulamentação da UE, as instituições financeiras serão obrigadas a fornecer indicadores de transparência e adequação aos clientes e investidores relativamente à exposição à sustentabilidade e aos riscos dos produtos de investimento. A UE confirmou, igualmente, que o financiamento verde será fundamental na recuperação pós-pandémica, a fim de se manter no bom caminho em relação aos seus objectivos de sustentabilidade.

Os três objectivos fundamentais do novo quadro que entrará em vigor no próximo ano são:

  • reorientar os fluxos de capital para investimentos sustentáveis, a fim de alcançar um crescimento sustentável e inclusivo,

  • gerir os riscos financeiros decorrentes das alterações climáticas, da degradação ambiental e das questões sociais, e

  • promover a transparência e uma visão a longo prazo da actividade financeira e económica.

Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional, faz eco do sentimento da UE e apoia-a com as orientações do FMI sobre “tornar a recuperação mais ecológica”. Os seus objectivos incluem a promoção do financiamento verde e a mobilização de capitais privados para investimentos verdes.

Um mundo pós-pandémico precisa de investimento responsável

A pandemia do coronavírus expôs fraquezas estruturais e fundamentais do nosso mundo e mostrou quantas questões estão interligadas a nível global. Também exacerbou muitos desafios climáticos e societais definidos pelo quadro dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O vírus vai deixar-nos com lacunas de financiamento ainda maiores, que não podem ser colmatadas sem o envolvimento de capital privado. Colmatar as desigualdades climáticas e sociais e as lacunas de financiamento que lhes estão associadas pode constituir um forte incentivo para os investidores que se orientam para objectivos específicos e que impulsionam o financiamento sustentável e o impacto do investimento, em particular.

Num contexto de maior apoio regulamentar, de incerteza contínua no mercado e de melhor resiliência dos investimentos sustentáveis, a procura de investimentos sustentáveis não deve vacilar.

CEO of the Impact Advisory and Finance Department, Credit Suisse