É uma tradição na maioria das organizações e uma forma de agradecimento aos trabalhadores, contribuindo igualmente para promover o espírito de solidariedade que marca a época natalícia. Mas, e neste ano em que nada é como foi, as habituais festas de Natal nas empresas têm, também, de ser reinventadas. Se alguns empregadores, com a anuência dos colaboradores, decidiram não as organizar, optando por doar o que iriam gastar a instituições de caridade, outros há que, com uma boa dose de criatividade, tentarão recriar a proximidade festiva à distância. E sim, se foi possível trabalhar remotamente, por que motivo não organizar uma celebração virtual?
POR HELENA OLIVEIRA

Depois dos meses mais conturbados e atípicos das nossas vidas, com custos emocionais, sociais e económicos sem precedentes, o Natal aproxima-se por entre um conjunto de dúvidas, ansiedades e receios contrários ao habitual espírito festivo que caracteriza esta quadra. Com o confinamento a tornar-se uma quase normalidade, e com os alertas de que este ano o Natal terá, forçosamente, de ser diferente, vamos, se bem que a custo, interiorizando a ideia que em 2020 não nos reuniremos com todos os que nos são queridos, que não veremos os olhos das nossas crianças a brilhar enquanto abrem os presentes, que não sairemos das nossas casas para celebrar a missa do Galo e que muitos enfrentarão uma inevitável solidão.

Mas e as empresas? Sejam as que mantêm o regime presencial mas que não podem contrariar a proibição de ajuntamentos, não podendo, por isso, organizar os habituais almoços ou jantares de de Natal, sejam as que têm os seus trabalhadores em teletrabalho, há uma questão que se impõe: depois de quase um ano em que praticamente todos os domínios das nossas vidas foram afectados mediante formas jamais imaginadas, mantém-se a vontade para algum tipo de celebração?

De acordo com vários inquéritos que têm vindo a ser realizados sobre esta questão, as opiniões dividem-se. Se, por um lado, existem muitas empresas cujos empregadores e trabalhadores concordam que não há espírito ou condições para se festejar a quadra natalícia, outras tantas há que consideram que neste ano, e mais do que nunca, é crucial que exista um gesto de “união” ou de “proximidade” depois de todo o distanciamento que marcou o ambiente organizacional ao longo dos últimos longos meses.

Para as empresas que já optaram por não festejar a data, e na sua maioria, a forma que arranjaram para reconhecer o esforço adicional que representou trabalhar em condições radicalmente novas para muitos dos seus trabalhadores está a ser materializada através de cabazes de Natal ou da oferta de vales em compras, os quais são enviados e de forma personalizada para as suas residências.

Em particular nas grandes empresas que, habitualmente, gastam uma significativa quantia de dinheiro na organização das suas festas de Natal, os vales são de valor considerável, sendo que, de acordo com várias pesquisas realizadas, parece estar na moda a oferta dos airpods da Apple, os quais custam perto de 300 euros. Uma outra ideia e que acaba por representar um dois-em-um, é a oferta de vouchers para refeições em família nos restaurantes locais, permitindo saciar o apetite dos trabalhadores e, em simultâneo, ajudar a economia. Na moda parece estar igualmente a oferta de cursos, sejam eles de âmbito profissional, ou pessoal, como por exemplo cursos de cozinha.

Já as empresas mais socialmente responsáveis – e com a aprovação dos seus empregados – estão a optar por entregar o dinheiro habitualmente gasto nestas celebrações a instituições de solidariedade, contribuindo assim para minimizar a crise social agudizada pela pandemia.

Por exemplo, e em Portugal, e no âmbito da sua vertente de “cidadania activa”, o GRACE disponibiliza o acesso a uma oferta diversa de campanhas e ideias de prendas solidárias, diariamente actualizadas, e que podem ajudar as empresas a escolher a instituição que pretendem ajudar, contribuindo assim para um verdadeiro espírito de Natal. Os presentes solidários são também uma forma de celebrar este mesmo espírito e estão reunidos no site https://comprasolidaria.pt/ . Uma ideia original para promover e reforçar a celebração do Natal foi a da ACEGE, que está a promover, junto das empresas e dos seus trabalhadores, um concurso de presépios .

Quando a festa de Natal é virtual

Todavia, são também muitas as organizações que não desistiram de oferecer uma festa de Natal aos seus colaboradores que, e à semelhança do que tem sido o trabalho para muitos, só poderá ser… virtual. Apesar de podermos apelidar esta ideia como uma ironia, visto que as celebrações natalícias servem também para promover a união das pessoas, o estreitar de laços de amizade e o “encontro” entre empregados e chefias, são claras as razões para que não possam existir excepções. Com o renovar do estado de emergência, aliado ao facto de este ano de trabalho ter provocado, em muitos casos, uma inevitável desconexão entre as chefias e as equipas, bem como entre colegas, é verdade que o “local de trabalho”, presencial ou à distância, se transformou numa realidade muito estranha. E que motivador seria poder-se promover um reencontro “ao vivo”, livre dos constrangimentos impostos pela pandemia.

Ora e não sendo tal possível, são muitos os departamentos de Recursos Humanos – em geral os responsáveis pela organização deste tipo de celebração – que estão a tentar reproduzir o espírito natalício através de um mero ecrã de computador. Regra número 1 para o sucesso: que a festa em causa nada tenha a ver com uma mera reunião de Zoom ou Teams e que as pessoas não se sintam obrigadas a fazer parte da mesma. Ou seja, e de acordo com vários especialistas em RH, o convite deve ser isso mesmo, um convite, e não uma obrigatoriedade.

De acordo com a Society for Human Resource Management, “às pessoas deve ser dada a oportunidade de dizerem ‘não’, pois há muito que estamos a viver ‘dentro do trabalho’ e estas não se devem sentir obrigadas a comparecer a mais um evento online, por muito boa vontade que tenha a empresa que o está a organizar”.

Mas, e para os que estão a levar muito a sério este desafio de transportar o espírito natalício para as plataformas virtuais, a regra número 2 exige uma boa dose de criatividade por parte da equipa organizadora, a qual terá como principal objectivo “juntar”, de alguma forma, aqueles que há muito estão distantes. E existem boas ideias para que a festa seja um sucesso.

Antes de partilharmos algumas dessas ideias, uma curiosidade, que é também uma excelente ideia de negócio nestes tempos de confinamento. Para assinalar a época festiva que se aproxima, a Preciate Inc., sediada em Dallas – uma plataforma social para empresas – anunciou recentemente o lançamento da Preciate Social, a sua primeira plataforma “socializadora” virtual para equipas e/ou grupos.

Ao contrário das ferramentas tradicionais de videoconferência que são concebidas exclusivamente para reuniões e para que apenas uma pessoa possa falar de cada vez, o que dificilmente é ideal para grandes grupos, a Preciate Social permite a realização de múltiplas conversas em simultâneo, tal como aconteceria numa festa ou evento social presencial. A tecnologia permite que os participantes se afastem ou se aproximem em direcção às pessoas com quem querem conversar, sendo igualmente possível contratar artistas, tais como músicos e comediantes, para animar a festa.

A plataforma foi construída de raiz pela Preciate e esteve, até há pouco tempo, em modo beta. Actualmente, conta já com cerca de 10 mil utilizadores de 1700 empresas e promete ser uma das principais escolhas para a organização de festas de Natal “imersivas”. Como afirma o seu co-fundador e CEO, Ed Stevens, “com o trabalho remoto a tornar-se o novo normal, as empresas e organizações precisam de uma ferramenta que ofereça o valor da construção de relações presenciais à distância” replicando virtualmente essas mesmas relações sociais. A plataforma permite ainda a personalizar a música “ambiente” – por exemplo e para a época em causa, com canções de Natal –, oferece “quebra-gelos” para conversas e pode “juntar” cerca de 50 pessoas em simultâneo.

Ideias para os seus colaboradores não desligarem o wifi

Brinde à equipa

O ano foi duro e a melhor forma de agradecer aos que trabalharam em conjunto consigo é começar a festa virtual com um brinde, sublinhando em particular os maus momentos ultrapassados e os bons que se conseguiram alcançar. Mas não se alongue. O discurso deve ser breve, se bem que inspirado e inspirador.

Promova um concurso de “pijama mais feio”

Foi, para o bem e para o mal, um dos “temas” que nos acompanharam ao longo do confinamento. Assim, por que não transformá-lo num divertimento e avisar antecipadamente os colaboradores para escolherem um pijama original ou uma camisola adaptada à época natalícia para vestirem durante a “festa”, elegendo, depois, por votação de todos, a peça mais feia ou a mais original?

Organize uma troca de receitas

Com as pessoas a cozinharem mais do que nunca em casa, é uma boa forma de pedir aos seus colaboradores para partilharem os seus dotes culinários, em particular se existir diversidade cultural dentro da empresa. Um prato tradicional ou uma especialidade gastronómica não usual servirá também para promover o encontro de diversas culturas.

Reinvente o amigo secreto

A habitual troca de presentes no local de trabalho – o famoso “amigo secreto” – não tem de deixar de existir só porque estamos a celebrar à distância. Como a ideia não é sobrecarregar financeiramente os trabalhadores nestes tempos difíceis, envie, antecipadamente, a cada um deles, um cartão de oferta com um valor simbólico, bem como o endereço do “amigo” correspondente a quem deverá enviar o presente por si escolhido. No dia da festa, a ideia é que todos os colaboradores desembrulhem os presentes ao mesmo tempo.

Faça uma prova de vinhos virtual

Pode optar por enviar para casa dos colaboradores uma garrafa de vinho – ou incluí-la num cabaz de Natal – e fazerem um brinde virtual durante a celebração, pedindo a cada um que profira um pequeno discurso inspirador. Brindar a melhores dias é, decerto, o desejo de todos nós.

Mostra de talentos

Avise antecipadamente os seus colaboradores que a festa virtual terá um espaço dedicado para os que desejem partilhar algum talento em especial. Seja cantar, contar uma história, uma anedota ou qualquer outra actividade similar, será sempre uma oportunidade para se divertirem em conjunto.

Concurso de mímica

A mímica é uma actividade que funciona perfeitamente a partir de um ecrã. Estabeleça as regras – os participantes não podem falar ou teclar, eleja um tema em particular – por exemplo, algo relacionado com a actividade da empresa ou até mesmo imitando as características específicas dos colegas – e ofereça um prémio simbólico a quem mais acertar.

E porque não dançar?

Com toda a ansiedade acumulada ao longo dos últimos meses, há que libertar energias. Peça antecipadamente aos colaboradores que enviem algumas das suas músicas favoritas, faça uma compilação e ponha-a a tocar. E mesmo que os introvertidos ofereçam alguma resistência, talvez o vinho que ofereceu anteriormente contribua para que todos possam participar.

Para que estas ou outras ideias – mais uma vez, a criatividade é essencial – corram da melhor forma, envie o “programa” com antecedência e não se esqueça que está a oferecer uma festa e que não está a conduzir uma reunião. Agradeça o tempo e a disponibilidade de todos os que consigo navegaram neste ano tão tempestuoso e, se quiser dar um verdadeiro presente de Natal aos seus colaboradores, ofereça-lhes um dia (a mais) de férias. O ano foi complexo e todos precisam de descansar.

Editora Executiva