A substituição em larga escala do comércio tradicional pelo e-commerce é algo irreversível e devemos saber viver com os seus lados positivos, mas também negativos. E, quanto a estes últimos, tentar mitigá-los da melhor forma possível, reduzindo o seu impacto ambiental. Uma solução interessante, e que empresas como a InPost têm estado a implementar com sucesso em toda e Europa – incluindo em Portugal – é a entrega não-domiciliária. Através de contratos com grandes retalhistas online e relações privilegiadas com o comércio local em cada país, são criadas rotas de “última milha” que passam pela entrega em “pontos de conveniência”. E dado que o comércio eletrónico veio para ficar, cabe-nos a todos, enquanto sociedade, garantir que esta é uma mudança positiva para todos mas, sobretudo, sustentável para o planeta
POR NICOLA D’ELIA

O senso comum sugere-nos que o advento do comércio eletrónico é algo positivo para o planeta. Afinal, o facto de podermos encomendar praticamente qualquer coisa do conforto da nossa casa (ou até em qualquer lado, através de um dispositivo portátil) será certamente melhor para o ambiente do que andarmos de um lado para o outro, provavelmente no nosso automóvel, até encontrarmos o que pretendemos.

E, na verdade, isso é realmente assim. Há exceções, claro. Se vivermos perto de um centro comercial e utilizarmos esse espaço para comprar produtos, serviços ou equipamentos rentabilizando para isso a mesma viagem que já tínhamos que realizar para nos deslocarmos ao supermercado, certamente que a substituição dessas compras por uma visita ao nosso website favorito nada fará pelo ambiente.

Contudo, a substituição em larga escala do comércio tradicional pelo e-commerce é algo irreversível e devemos saber viver com os seus lados positivos, mas também negativos. E, quanto a estes últimos, tentar mitigá-los da melhor forma possível.

Voltando ao ponto de partida, e de uma maneira geral, podemos efetivamente dizer que as compras online não são piores para o ambiente – sobretudo para quem vive numa grande cidade – do que andar às compras de carro de um lado para o outro. No entanto, estamos a deixar de lado uma parte importante da equação: é que a cada compra corresponde necessariamente uma entrega! E é aqui que as coisas se complicam um pouco.

De acordo com um relatório recente do World Economic Forum, as entregas porta-a-porta provenientes de compras online levaram ao aumento da circulação do número de veículos de entrega, uma situação que se estima que se venha a agravar com um aumento de 36% de tráfego até 2030 nas 100 maiores cidades do mundo. Isto, caso não haja alterações na logística atual.

O problema da entrega em casa

O principal motor deste potencial pesadelo logístico são as entregas em casa – que, até agora, têm sido o default da esmagadora maioria das lojas de comércio eletrónico. A entrega de correspondência em casa é tão antiga como os serviços de correio – os CTT portugueses foram fundados em 1520! – e é algo a que estamos habituados. Não é por acaso que todas as habitações têm uma caixa de correio…

O problema é que, salvo raras exceções, aquilo que compramos numa loja de e-commerce vem numa embalagem que não cabe na nossa caixa de correio. Quando cruzamos isso com o facto de que o mais provável é não estarmos em casa durante o dia para receber as encomendas, temos um problema: a carrinha da transportadora pode ter que fazer várias tentativas de entrega (com os consequentes impactos no aumento de tráfego e emissões de CO2) e, no limite, a encomenda até pode acabar por ser devolvida. E lá se vai o potencial impacto ambiental mais reduzido de comprar online…

Uma solução interessante, e que empresas como a InPost têm estado a implementar com sucesso em toda e Europa – incluindo em Portugal – é a entrega não-domiciliária. Através de contratos com grandes retalhistas online e relações privilegiadas com o comércio local em cada país, são criadas rotas de “última milha” que passam pela entrega em “pontos de conveniência”. De floristas a tabacarias, minimercados a bombas de gasolina, a ideia é que o consumidor selecione um ponto de entrega perto de si, a onde se poderá deslocar quando quiser, durante outros trajetos habituais ou até ir a pé ou de bicicleta.

Estes pontos de conveniência, juntamente com outras soluções que incluem cacifos inteligentes, também eles instalados em pontos estratégicos, contribuem efetivamente para a redução do tráfego nas grandes cidades e, consequentemente, para a diminuição das emissões de CO2 em resultados do comércio eletrónico.

Claro que para que tudo isto funcione é necessário que haja adoção destas formas de entrega do lado das lojas de e-commerce e também por parte dos consumidores. Mas, aqui, há sinais positivos. Em Portugal, onde o mais recente barómetro da Marktest revela que 60,9% da população com mais de 15 anos já faz compras online, um estudo realizado no final de 2021 aponta para uma grande adesão dos consumidores a este método de entrega, onde são apontadas vantagens como o baixo preço da solução (barata ou grátis), a conveniência e não ser necessário ter alguém em casa para receber as encomendas.

Também o facto de ser um método “amigo do ambiente”, evitando viagens repetidas e desnecessárias – quer pelo consumidor, quer pela empresa de entregas – é outra das vantagens apontadas pelos inquiridos no mesmo estudo.

Do lado dos comerciantes há ainda um caminho a percorrer, claro. É preciso que as lojas de e-commerce percebam que as entregas não-domiciliárias são uma vantagem para os seus clientes; estes devem ser incentivados a optar por essas soluções sempre que estejam disponíveis (sobretudo através de tarifas mais vantajosas do que as entregas tradicionais); e as empresas de entregas devem também apostar em minimizar o impacto ambiental das suas rotas de última milha, designadamente através da utilização, sempre que possível, de veículos elétricos.

Uma coisa é certa: o comércio eletrónico veio para ficar e cabe-nos a todos, enquanto sociedade, garantir que esta é uma mudança positiva para todos mas, sobretudo, sustentável para o planeta.

Nicola D'Elia

CEO da InPost para Portugal, Espanha e Itália