O programa Liderança Social para Gestores, da Nova SBE, promove uma ampla capacitação em empreendedorismo social e apoia nas transições de muitos líderes empresariais que derivam para organizações da economia social em determinado momento da vida. Para a 4ª edição que agora arranca deverão vir com uma mentalidade aberta, reconhecendo as diferenças, mas entregando-se a uma nova missão de mudar e melhorar as realidades sociais destas organizações que são, muitas vezes, frágeis, mas valiosíssimas
POR JOÃO PEDRO TAVARES

Viver num mundo global não significa apenas uma visão geográfica ou espacial. É também uma realidade que é temporal, que é relacional, que é de valores, de modelos, de capacidades. Vivemos num momento em que nos chegam notícias, realidades, de todo o mundo e em tempo real. Tornamo-nos próximos de um drama pessoal, como se fossemos familiares de alguém distante. Um navio encalhado provoca uma quebra na logística global. A forma como o vírus se propagou foi, na medida, deste mundo global, Ou seja, chegou a todos.

É relevante e necessário que nos novos desafios deste mundo procuremos ser convergentes e não divergentes. O “nós” sobrepõe-se ao “eu”. O conjunto é mais relevante do que as partes. O propósito impõe-se aos meios. No passado agrupamos as organizações em relação ao lucro, denominando-as “com e sem fins lucrativos”. De facto, deveria ter sido “com e sem meios lucrativos” já que hoje é aceite que o lucro, sendo importante, não é a finalidade de uma organização, podendo (devendo!) ser um meio maior para a sua sustentabilidade. Do mesmo modo, não o ter ou não o perspetivar é curto no que uma organização pode ambicionar. Num caso ou no outro, não é, de todo, a sua missão nem o seu propósito. A finalidade de qualquer organização é criar valor e contribuir para a justa distribuição, com impacto.

O mundo não se pode dividir em silos, mas precisa de ser convergente, em modelos, em critérios, em linguagem. Em formas de liderar. Todas as organizações deverão criar valor económico, social e ecológico. Cabe às organizações “com fins lucrativos” entenderem que a sua finalidade e propósito vai para lá do lucro (a título de exemplo, o caso da Nike cujo propósito é “Unir o mundo através do desporto para criar um mundo mais saudável, com comunidades ativas e com oportunidades para todos) ou para as organizações “sem fins lucrativos” entenderem que não são estritamente sociais, mas que devem ir para lá dessa realidade a que se propõem, com uma proposta de valor que seja percecionada (por exemplo “melhorar a qualidade de vida daqueles que serve”).

A convergência também deverá existir ao nível das capacidades, do acesso ao talento, à forma como se lidera e serve. É por isso tão determinante que pessoas que fizeram uma vida profissional no ambiente corporativo se disponibilizem para apoiar organizações (ditas) sociais, na aplicação de novos modelos que promovam a sua sustentabilidade e não desvirtuem o seu propósito ou a sua missão. É determinante que exista esta linguagem comum, que aproxima e enriquece, sabendo que as realidades podem ser distintas, mas devem ser, sobretudo, convergentes e complementares. Na vida profissional existe uma crescente consciência do voluntariado, com espirito de serviço, mas também de capacidades. Começou por ser uma iniciativa de pessoas, mas neste momento é acompanhado e fomentado por empresas, mobilizando os seus colaboradores. O verdadeiro voluntariado corporativo é efetuado em horário laboral e não “fora de horas”. As empresas passaram dos donativos para a oferta de capacidades ou de ativos (tornar acessíveis soluções especificas que de outra forma não estariam).

Nesta vertente, o programa Liderança Social para Gestores, da Nova SBE, promove uma ampla capacitação em empreendedorismo social e apoia nas transições de muitos líderes empresariais que derivam para organizações da economia social em determinado momento da vida. Para a 4ª edição que agora arranca deverão vir com uma mentalidade aberta, reconhecendo as diferenças, mas entregando-se a uma nova missão de mudar e melhorar as realidades sociais destas organizações que são, muitas vezes, frágeis, mas valiosíssimas. A visão corporativa, no bom uso dos recursos, na capacidade de aceder a mais recursos, numa liderança e serviço para o impacto, na busca de soluções inovadoras, é muito enriquecedora se for colocada ao serviço da enorme missão destas organizações. Tenho colaborado em contextos corporativos, sociais, fundacionais e sinto-me muito enriquecido e agradecido pois em todos aprendo e sirvo, procurando, sempre, acrescentar valor e contribuir para um bem maior que vai para lá de um interesse pessoal. E é tanto o que está ao nosso alcance fazer, se nos alinharmos com este propósito.


Partilhar competências. CONSELHO CONSULTIVO em Organizações Sociais? Porquê?

O facto de os gestores portugueses se envolverem cada vez mais em causas sociais e o impacto que podem ter no sector social é de crescente importância.

Esta dinâmica permite aos gestores potenciar o seu sentido de propósito e contribuição social e, ao mesmo tempo, diversificar e aprofundar skills de liderança, atuando num contexto que alia o know how que já dispõem ao colmatar de necessidades de optimização de recursos e sustentabilidade do sector social.

Assim, é imperativo reflectir nas seguintes questões:

  • Faz sentido as organizações sociais terem Conselhos Consultivos?

  • As empresas podem ter um papel ativo?

  • Os profissionais do setor privado podem fazer a diferença?

  • Como podem os empresários e os profissionais do setor privado contribuir?


Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores