Reforçar o ecossistema de capitais próprios português é o propósito dos dois novos fundos destinados a fazer crescer as PME nacionais, lançados na Web Summit com o apoio do Fundo Europeu de Investimento, no valor de 190 milhões de euros. Disponibilizando “capitais frescos para projectos inovadores de elevado valor acrescentado e para empresas sociais”, estas duas iniciativas darão às PME “o impulso de que necessitam para mostrarem os seus talentos e materializarem as suas ideias”, como sublinhou Carlos Moedas no maior evento tecnológico da Europa
POR GABRIELA COSTA

O Fundo Europeu de Investimento (FEI) vai apoiar investimentos no valor de 190 milhões de euros destinados a empresas portuguesas inovadoras. As PME nacionais terão acesso a dois novos fundos de capital próprio, geridos pela Vallis Capital Partners e pela Mustard Seed MAZE. Os dois fundos, que beneficiam do apoio da UE no âmbito do mecanismo InnovFin Equity, do programa COSME EFG e do Plano Juncker, foram lançados na Web Summit 2018, em Lisboa, pelo Comissário Europeu da Ciência e da Inovação, Carlos Moedas, pelo FEI e por representantes das duas empresas que os gerem.

Como sublinhou no maior evento tecnológico da Europa Carlos Moedas, “estas duas iniciativas darão às pequenas e médias empresas portuguesas o impulso de que necessitam para mostrarem os seus talentos e materializarem as suas ideias em projectos concretos”. Segundo o Comissário Europeu, que este ano já se deslocou inúmeras vezes ao seu país para participar em eventos nas áreas da investigação, inovação e tecnologia, “serão disponibilizados capitais frescos para projectos inovadores de elevado valor acrescentado e para empresas sociais, dois sectores fundamentais para o futuro da economia europeia”. E nada melhor que fazê-lo naWeb Summit, “provavelmente o local mais simbólico onde tais iniciativas podem ser formalizadas”.

Ambos os fundos beneficiam, em concreto, do apoio do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE), que está no âmago do Plano de Investimento para a Europa – o Plano Juncker.

Apoiar as dinâmicas de sustentabilidade e os desafios sociais e ambientais

Carlos Moedas com os responsáveis pelos dois fundos de investimento na Web Summit 2018

O Vallis Sustainable Investments II é um fundo no montante de 150 milhões de euros, vocacionado para o mercado inferior-médio e que se destina a apoiar as PME portuguesas durante os próximos cinco anos. Este fundo gerido pela Vallis Capital Partners – uma sociedade de participações privadas independente que apoia a criação de valor a longo prazo, investindo em PME ibéricas inovadoras com elevado potencial de crescimento, e cujos motores de procura estão associados às tendências sustentáveis a médio e longo prazo – disponibiliza investimentos para apoiar as dinâmicas de sustentabilidade, incluindo sectores relacionados com o crescimento demográfico e a escassez de recursos naturais. Para tanto, beneficia do apoio do programa COSME, financiado pela Comissão Europeia.

Como sublinhou na Web Summit Eduardo Rocha, director executivo da Vallis Capital Partners, “a nossa parceria a longo prazo com o FEI foi reciprocamente bem-sucedida e permitiu à Vallis investir nas empresas portuguesas mais inovadoras e promissoras, promovendo o seu crescimento, modernizando os seus processos, alargando o seu alcance internacional, criando postos de trabalho e, em última instância, gerando valor para os investidores e para a sociedade no seu conjunto”. O FEI foi um dos principais investidores no primeiro fundo desta sociedade de participações privadas, consolidando agora o seu investimento no Vallis Sustainable Investments II.

De referir que a Vallis foi o primeiro gestor de activos português a subscrever os “Princípios para o Investimento Responsável” (PRI) das Nações Unidas, no âmbito do seu empenho nas questões do ambiente, da responsabilidade social e do governo das sociedades. Actualmente apoia a criação de valor intrínseco sustentável para os investidores, com base numa participação proactiva das empresas da sua carteira.

Por sua vez, o Mustard Seed MAZE Social Entrepreneurship Fund I é o primeiro fundo de investimento de impacto social vocacionado para as empresas sociais portuguesas, e espera-se que venha a ser “um factor de mudança no mercado português”, já que proporcionará a primeira fonte de financiamento estável para os modelos empresariais de inovação social mais promissores em Portugal.

[quote_center]O Vallis Sustainable Investments II apoia as dinâmicas de sustentabilidade, incluindo sectores relacionados com o crescimento demográfico e a escassez de recursos naturais[/quote_center]

No valor de 40 milhões de euros, este fundo de investimento do consórcio entre a Mustard Seed e a MAZE – a primeira, um fundo de capital de risco em fase precoce que tem um historial de investimento em empresas europeias de rápido crescimento que procuram soluções para os problemas sociais e ambientais, a nível mundial; a segunda, uma empresa de investimento de impacto criada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que trabalha com empreendimentos de impacto e investidores também para encontrar soluções eficazes para os desafios sociais e ambientais – investe em empresas sociais em Portugal e terá o apoio da vertente PME em fase precoce do mecanismo InnovFin Capital Próprio, ao abrigo do Horizonte 2020 (o programa-quadro da UE para a investigação e a inovação), e do Acelerador de Impacto Social.

Reconhecendo a relevância do apoio do FEI e dos demais parceiros do projecto, o qual “permitirá continuar a apoiar equipas de talento para fazerem face aos desafios mais prementes a nível mundial”, os sócios gerentes do Mustard Seed MAZE Social Entrepreneurship Fund I, António Miguel e Henry Wigan, avançaram, na Web Summit 2018, que este fundo vai realizar “a maior parte dos investimentos em empreendimentos de impacto baseados em Portugal, com diversos tipos de financiamento disponível, desde capital de pré-lançamento até capital de série A/B”, proporcionando assim aos seus fundadores “um parceiro de capital paciente e flexível, enquanto dão resposta a desafios sociais e ambientais arraigados”.


Os mecanismos da UE para estimular a inovação

Muitos são hoje os mecanismos europeus de que as empresas, e as PME em concreto, dispõem para reforçar o seu capital e inovar, consolidando os seus negócios. Mas o desconhecimento dos mesmos e alguma entropia na hora de recorrer a fundos de investimento e a instrumentos de financiamento impede-as, muitas vezes, de beneficiarem dos mesmos.

Por isso, fique a saber que o Fundo Europeu de Investimento integra o grupo do Banco Europeu de Investimento, facilitando o acesso ao financiamento às micro, pequenas e médias empresas europeias. Gerando e realizando tanto operações de capital de risco como de capital de crescimento, bem como instrumentos de garantia e de microfinanciamento que visam especificamente este segmento de mercado, o FEI contribui para os objectivos da UE nos domínios da inovação, da investigação e desenvolvimento, do empreendedorismo, do crescimento e do emprego.

Combatendo as faltas de confiança e de investimentos que resultaram da crise económica e financeira e dinamizando a liquidez das instituições financeiras, das empresas e dos cidadãos num momento em que os recursos públicos são escassos, o Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos – que apoia directamente os dois novos fundos de investimento apresentados este mês em Lisboa – é o pilar central do Plano de Investimento para a Europa defendido pela Comissão Juncker.

[quote_center]O Mustard Seed MAZE Social Entrepreneurship Fund I apoia soluções eficazes para os desafios sociais e ambientais[/quote_center]

Resultando da colaboração entre a Comissão Europeia e o Grupo do Banco Europeu de Investimento (BEI), parceiro estratégico da CE, o FEIE apoia investimentos estratégicos em domínios como as infra-estruturas, a eficiência energética e as energias renováveis, a investigação e a inovação, o ambiente, a agricultura, a tecnologia digital, a educação, a saúde e os projectos sociais. Paralelamente, ajuda as pequenas empresas em fase de arranque a crescer e a expandir-se através da disponibilização de financiamento de risco.

Depois de uma proposta do presidente Juncker anunciada em 2016 no seu discurso sobre o estado da União, o período de vigência deste fundo estratégico foi prorrogado para que se alcancem investimentos de, pelo menos, 500 mil milhões de euros até 2020. O chamado “FEIE 2.0” coloca maior ênfase na adicionalidade, em projectos transfronteiriços e em iniciativas que contribuam para a realização dos compromissos assumidos na COP21, apoiando as PME e melhorando a cobertura geográfica do FEIE.

Já o InnovFin Capital Próprio integra o InnovFin – Financiamento da UE para Inovadores, uma geração de instrumentos financeiros e de serviços de aconselhamento da UE desenvolvidos no âmbito do Horizonte 2020 para ajudar as empresas inovadoras a acederem ao financiamento com mais facilidade. Este financiamento visa injectar cerca de 50 milhões de euros em investimentos em investigação e inovação em toda a Europa e, dentro dele, o InnovFin Capital Próprio fornece investimentos e co-investimentos em capital próprio, a par de fundos especializados em fase inicial de empresas que operam em sectores inovadores. As empresas podem (e devem) contactar as instituições financeiras seleccionadas no seu país para acederem ao InnovFin e a outras fontes de financiamento da UE.

Por seu turno, o programa COSME da UE estimula a competitividade das PME, centrando-se em grande parte nos instrumentos financeiros geridos pelo FEI, com vista a melhorar o acesso ao financiamento por parte destas empresas. Os instrumentos financeiros do programa COSME operam entre 2014 e 2020, com um orçamento previsto de 1,3 mil milhões de euros.

Finalmente, o Acelerador de Impacto Social(SIA) é uma parceria público-privada pan-europeia, no valor de 243 milhões de euros, que visa dar resposta à crescente necessidade de financiamento em capitais próprios para apoiar as empresas sociais. O SIA contribui para o objectivo político da UE de criar um mercado de financiamento sustentável para o empreendedorismo social na Europa.

O Plano de Investimento para a Europa centra-se na eliminação dos obstáculos ao investimento, aumentando a visibilidade dos projectos de investimento e fornecendo-lhes assistência técnica, optimizando assim tanto os novos recursos financeiros como os já existentes. Em Outubro deste ano o chamado Plano Juncker tinha já mobilizado mais de 344 mil milhões de euros de investimento em toda a Europa, incluindo 7,3 mil milhões de euros em Portugal, e apoiado 793 mil PME.