Sentimos que em Portugal ainda existe um longo caminho a percorrer na valorização e integração de pessoas com mais de 55 anos. Neste sentido, nasceu a Ageless Portugal, que pretende ser um agente de mudança através da concretização de projetos com impacto na sociedade e, concretamente, na denominada “Silver Economy”. Mas será assim tão importante a existência de uma empresa exclusiva para este segmento?
POR MÓNICA PÓVOAS

Só em Portugal temos cerca de quatro milhões de pessoas com idade superior a 55 anos e são poucas as marcas que têm produtos e serviços focados nas necessidades específicas dos seniores (55+), que são totalmente distintas face às dos mais jovens, por exemplo.

A Ageless Portugal surgiu da oportunidade que identificámos relativamente a necessidades não satisfeitas em pessoas com mais de 55 anos, a chamada Economia de Prata ou, na designação internacional, “The Silver Economy”. Pretendemos combater a exclusão destas pessoas, valorizando, capacitando e ajudando-as a serem um ativo nas empresas e na sociedade.

Com o mote “Quanto Mais Velho Melhor”, a Ageless Portugal pretende que as empresas e as organizações possam valorizar a sabedoria e a experiência dos maiores de 55 anos, promovendo a sua contratação e inclusão. Por outro tem lado, tem igualmente como objectivo ajudar as marcas no desenvolvimento de produtos e serviços focados nas suas necessidades mais específicas. Desenvolver um espírito criativo e empreendedor neste segmento populacional, de forma personalizada, e promover o envelhecimento activo através de práticas desportivas, artísticas ou de qualquer outra natureza faz igualmente parte da missão da empresa.

Gina Pell, de origem americana, diretora criativa e empreendedora da área de tecnologia, deu, em 2016, o nome de Perennials [que significa “aqueles que não tem idade”] a esta geração de pessoas que adoram a vida, que estão em constante descoberta e aprendizagem. Estes indivíduos “atemporais” têm um estilo de vida que contém gostos e hábitos de diversas faixas etárias e, para lidar consigo mesmos, com os outros e com o ambiente, não se baseiam em aspectos geracionais, mas na forma como se percebem a si mesmos, ou seja, de acordo com a sua identidade social. São criativos, acreditam que são os valores que determinam se uma empresa falha ou sobrevive e têm muito para oferecer à sociedade: experiencia, fiabilidade, conhecimento, lealdade e estabilidade. Não se querem reformar pois muitos deles fazem o que realmente gostam e lhes dá prazer. Todavia, e como sabemos, são igualmente alvo de discriminação no mundo organizacional, seja em termos de selecção para integração e contratação, ou até em casos de despedimento, sendo os primeiros a serem dispensados, apesar da experiência e know-how acumulados ao longo dos anos e do valor que poderiam continuar a criar na gestão intergeracional. A verdade é que, nos tempos que correm, o foco dos discursos e ação estão na maior parte das vezes centrados nos jovens, o que é, na nossa opinião, não só é errado, como contraproducente.

Nos últimos meses tivemos a oportunidade de conversar com inúmeras pessoas que já trabalham nesta área, nomeadamente com os nossos parceiros da rede europeia Agetech Accelerator, onde temos aprendido bastante e partilhado ideias com profissionais que atuam em países como por exemplo a Holanda, Reino Unido, França e Dinamarca. A Agetech Accelerator é a maior rede europeia especializada na inovação para maiores de 55 anos. Foi assim bastante evidente para nós – Ageless Portugal – que seria importante estarmos ligados a esta rede desde o primeiro momento, na medida em que irmos beneficiar bastante em termos de partilha de know-how, experiência e uma rede de contactos à escala europeia.

Por outro lado, é importante reforçar que os 55+-Perennials são, de forma crescente, consumidores digitais e que estão a captar a atenção das marcas devido à sua capacidade de adaptação às novas tecnologias. Adicionalmente, o mercado para seniores está em franco crescimento e são inúmeras as oportunidades no que respeita à criação de produtos e serviços que atendam às suas preferências e necessidades.

Na Ageless Portugal, contamos ainda com os living labs, nos quais existe a possibilidade de testar produtos e serviços através da rede própria de pessoas que temos em Portugal e nos países representados na Agetech Accelerator. Isto maximiza as probabilidades de sucesso das inovações, facilita os processos de comercialização e internacionalização. Por outro lado, ao estarmos integrados numa rede europeia desta dimensão, e altamente especializada no setor dos 55+, temos acesso a uma carteira de investidores qualificados.

Sentimos que em Portugal ainda existe um longo caminho a percorrer na valorização e integração de pessoas com mais de 55 anos. Neste sentido, pretendemos ser um agente de mudança através da concretização de projetos com impacto na sociedade e concretamente nos 55+. A sociedade e as empresas portuguesas terão de aprender como aproveitar e capitalizar estes talentos, experiência e dedicação, criando um lugar para a geração sem idade ou para os Perennials. Na minha opinião, para colmatar estas dificuldades será necessário existir uma mudança de mentalidades por parte de todos os agentes deste ecossistema. É importante que nós, enquanto sociedade, tenhamos uma maior consciencialização para a importância de possibilitarmos às pessoas com mais de 55 anos um envelhecimento ativo, saudável e inclusivo. As pessoas não podem ser marginalizadas simplesmente pela idade.

Por outro lado, consideramos extremamente importante que existam medidas públicas de incentivo à capacitação e inclusão dos 55+ na sociedade. É fundamental que os nossos governantes tenham a perceção clara que é urgente agir para contrariar a atual situação. Acredito também que se organismos públicos dessem o exemplo, com um conjunto de boas práticas, mais facilmente existiria um “contágio” positivo no setor privado.

Ser Perennial é mais do que ter idade, é uma mentalidade. Envolvem-se, mantêm-se em constante desenvolvimento e aprendizagem, ajudam os outros, numa lógica de mentoria e são apaixonados pela vida e pelo que fazem.

Muitas destas pessoas querem ainda fazer parte de algo maior que eles próprios, deixando uma marca visível e fazendo a diferença no seio da sua comunidade e da sociedade que integram e onde vivem, ou mesmo para além desta.

Em jeito de resumo e respondendo à questão inicial: Sim, faz todo o sentido o nascimento da Ageless Portugal!

Fundadora da AgeLess Portugal e licenciada em Comunicação Empresarial