Foi partilhar a vida, os sorrisos e os abraços pela alegria do encontro, mas também as lágrimas pela emoção incontrolável de nos sabermos em comunidade, dispostos a expor as nossas vulnerabilidades, as nossas dores de crescimento, as nossas dúvidas… Mas também disponíveis a acolher os sinais, a sentir a verdadeira fraternidade e a presença do amor de Cristo, que nos inspira a prosseguir, a construir em conjunto, a sermos pontes
POR DIANA SALGADO

As expetativas para o evento da Economia de Francisco (EdF) eram enormes! Após 3 anos de trabalho coletivo, online por imposição da pandemia, cerca de 1000 jovens de todos os continentes tiveram finalmente a possibilidade de se conhecerem e de se abraçarem. Foi, sem dúvida, um dos principais marcos deste encontro. 

Paralelamente, e sendo o reconhecimento da importância de debates e projetos intergeracionais um dos pilares da Economia de Francisco, tivemos também a possibilidade de participar em conferências com os «seniores», importantes referências na investigação/intervenção ativa em diversas áreas, como Vandana Shiva, Gael Girauld, Helen Alford, Stefano Zamagni, Padre Vilson Gro e Kate Raworth. 

Tínhamos também muita vontade de dizer «obrigada, Papa Francisco! Obrigada por mais este desafio que nos fizeste! Obrigada, por confiares em nós!» Mas Assis, o encontro da Economia de Francisco foi tão, tão mais que isto! 

Foi conhecer e percorrer parte do caminho de São Francisco, inspirados a despojar-nos, a prestarmos atenção aos que nos rodeiam, a cuidarmos uns dos outros e da nossa casa comum. 

Foi conhecer testemunhos fortes e acutilantes de jovens de todo o mundo, com experiências, conhecimentos, dificuldades e alegrias tão diversas, que nos interpelaram e inspiraram a ser «sentinelas na noite». 

Foi encontrar forma de fazer presentes os que, por diversos motivos (como a guerra ou a não atribuição de vistos), não puderam viajar até Assis, mas que são, também eles, EdF. 

Foi viver um dia em trabalho específico nas 12 aldeias em que nos organizámos, procurando debater e encontrar soluções para diferentes realidades.

Foi partilhar a vida, os sorrisos e os abraços pela alegria do encontro, mas também as lágrimas pela emoção incontrolável de nos sabermos em comunidade, dispostos a expor as nossas vulnerabilidades, as nossas dores de crescimento, as nossas dúvidas… Mas também disponíveis a acolher os sinais, a sentir a verdadeira fraternidade e a presença do amor de Cristo, que nos inspira a prosseguir, a construir em conjunto, a sermos pontes.

A riqueza destes dias foi a partilha sincera, a alegria pela consciência da nossa diversidade, a felicidade sentida pelo reconhecimento de tantos que se entregaram por completo a este processo, pondo, como nos disse o Papa Francisco, a sua mente, as suas mãos e o seu coração ao serviço de todos!

A EdF somos nós, cada um de nós, dispostos a abdicar do nosso ego, a fomentar o diálogo, colocando-nos ao serviço de todos e da nossa casa comum.

It’s only in giving that we, together, can flourish!

Mas o caminho não termina aqui. Este foi mais um passo na nossa jornada. No encontro reforçámos o nosso compromisso com o pacto firmado com o Papa Francisco, colocando-nos ao serviço para garantir «uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência, uma economia que crie riqueza para todos, que gere alegria e não apenas bem-estar, porque a felicidade não partilhada é muito pouco».

O Papa Francisco deu-nos orientações muito claras:

– Trabalhar para os pobres, mas sobretudo com os pobres e tornar-se próximo deles; 

– Promover o trabalho, o trabalho digno;

– Colocar as ideias em prática, encarnar!, aprendendo com a natureza

Assim, o desafio não foi viver estes dias! O desafio continua na nossa escolha diária (e difícil!) de viver estes valores e princípios que defendemos, em sermos testemunho de palavra e de ação. 

Não, não temos uma solução imediata para os problemas da economia!

Não, não teremos (só) soluções inovadoras! 

Mas sim, estamos comprometidos a, no nosso dia-a-dia, optar por escolhas mais sustentáveis, mais inclusivas, a dar voz aos mais vulneráveis, a envolvê-los na definição de políticas e práticas, a reforçar a nossa comunidade, fazendo pontes entre as respostas já existentes, promovendo a dinamização de novas soluções, cuidando da nossa comunidade e da nossa casa comum. Temos já algum caminho percorrido, alguns projetos implementados, mas muito há ainda a fazer. A EdF não é utopia nem teoria.

A EdF vive-se já e saiu fortalecida deste encontro. 

Obrigada, obrigada, obrigada. Que privilégio, e também que responsabilidade, a de ser e fazer parte desta incrível comunidade. 

A EdF somos nós – tu também estás incluído!

O «pacto» do Papa Francisco com os jovens pode ser lido mais detalhadamente aqui.

Diana Salgado

Diana Salgado é terapeuta ocupacional em contexto escolar; promove a participação e inclusão de alunos que beneficiam de medidas de suporte para a aprendizagem. É Mestre em Economia Social e em Reabilitação Psicossocial e Saúde Mental. É membro de movimentos da pastoral operária, nomeadamente do MAAC (Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças) e JOC (Juventude Operária Católica). Faz parte dos órgãos sociais da IPSS Obra Social e Cultural Sílvia Cardoso.