A esperança é uma virtude teologal pedida a todos os cristãos. No entanto, e especialmente na instabilidade que hoje vivemos, nem sempre nos é natural cultivar uma atitude de quem espera com Alegria. Mas é nesta hora de crise, em que as forças tantas vezes nos falham, que devemos pedir pela graça de saber ser exemplo de esperança para quem nos sucede
POR LUÍSA GONÇALVES

Não há quem de nós, especialmente nos últimos dois anos, não se tenha perguntado pelo menos uma vez: «O que é que vai ser do futuro?». E os estímulos que vamos recebendo conduzem-nos a respostas desalentadas que nos fazem temer o que vem adiante.

Mas acredito que nós, cristãos, que procuramos viver a Fé em todos os âmbitos da nossa vida, tenhamos aqui uma missão especial. Uma obrigação, que nos é posta nas mãos, de devolvermos à sociedade uma das maiores virtudes que qualquer um pode pedir: a da esperança. Sem esperança, não há razão para seguir em frente. A vida torna-se uma enfadonha realidade crua, apenas vivida de forma mecânica sem haver qualquer motivação para se fazer mais e melhor, porque não vemos propósito para tal. E, a meu ver, não há nada mais perigoso.

Ter esperança, logicamente, não significa viver alienado do que se passa em volta, nem enfrentar os factos de uma forma enviesada e pueril. Dessa forma, não poderíamos encontrar soluções nem actuar concretamente sobre os problemas.

Ter esperança – e especialmente uma esperança cristã – é ser audaz e saber que, com Deus, somos instrumentos para construir este futuro, que se pode tornar ou não fecundo, dependendo da forma como o escolhemos encarar. É saber que vivemos em rede, ligados uns aos outros, e que temos todos o dever de responder com ânimo aos desafios do nosso tempo. Esta interdependência e saber que somos eternamente responsáveis uns pelos outros, deve dar-nos a segurança de que quando precisarmos, há também uma rede que toma conta de nós e nos suporta. Porque ninguém está só. Ninguém se salva sozinho.

Mas neste tema, acredito ser importante ressalvar que é preciso educar e liderar para a esperança. É preciso cultivar em volta um discurso que nos faça confiantes e conscientes, que nada acontece por acaso e que tudo tem um propósito.

E quando acima referi que é preciso devolver a esperança, é porque, pela observação directa do que dos que estão à minha volta, começa realmente a ser notório que há cada vez mais quem prefira conservar-se no presente, viver o tudo no agora e facilitar o fim das coisas, por achar que não há nada pelo qual possamos aspirar. E há um grupo em particular para o qual os nossos esforços devem ser mais evidentes: os nossos jovens adolescentes. Não me parece necessário enumerar nem citar os vários estudos que quase diariamente nos chegam que dão conta de uma geração que parece contrariar tudo aquilo que seria próprio da sua idade. Sentem-se cansados, desalentados, deprimidos e muitas vezes sem propósito. Ora, apesar de não acreditar que os devamos favorecer sob nenhum estatuto de vítimas, nem tão pouco desatar a defini-los com adjectivos negativos (até porque acredito firmemente serem uma geração com muitos talentos), acredito que devamos chamar para nós a responsabilidade de alterar este panorama ou, pelo menos, tentar atenuá-lo.

É também por eles, que temos a obrigação de liderar e educar para a esperança, mesmo quando nós próprios nos sentimos enfraquecidos. É especialmente aí que devemos pedir por esta virtude heróica de ter esperança na crise. Porque é em nós que está a responsabilidade de ser exemplo para os que nos sucedem.

As causas para este diagnóstico estão amplamente identificadas e não são de grande complexidade: uma pandemia que alterou violentamente as nossas vidas, uma guerra «à porta de casa», as redes sociais que promovem o isolamento e uma sociedade cada vez mais virada para si mesma. Arrisco ainda acrescentar, a falta de espiritualidade, seja ela de que natureza for, que lhes roubou a capacidade de olhar para além, de aspirar a algo transcendente e maior que eles próprios. Enfim, um sem número de justificações já bastante discutidas e que podíamos passar horas a enumerar.

Mas como este artigo não pretende ser de grande profundidade científica nem basear-se em relatos estatísticos, gostava apenas de deixar a todos a seguinte reflexão: que responsabilidade temos nós? E mais do que isso, como podemos ajudar os nossos jovens adolescentes?

Eu sou das que acredita que do pequeno se faz o grande, pelo que é na rotina dos dias (por outras palavras, na santidade da vida diária) que podemos transformar uma sociedade. É em evitar viver numa constante procura das fatalidades, é em conservar neles uma certa (e controlada) ingenuidade que lhes concede a audácia da juventude, é provocar-lhes um pensamento crítico que procura soluções. É aguçar-lhes o sentimento de conquista e da beleza da responsabilidade. Torná-los alertas para os problemas, mas ensinando que nunca se devem tolher perante nada. Ensina-los que a Alegria da vida não se faz de ansiar pelos fins-de-semana, nem pelas férias, mas também no normal das pequenas coisas do dia-a-dia.

É ensiná-los a viver o mau com os olhos de quem procura o bom.

Para mim é, essencialmente, relembrá-los, a eles e a nós, que são o futuro deste país. E que esse futuro, para bem de todos, só pode ser de esperança.

Luísa Gonçalves Colaço

Tem 31 anos e é licenciada em gestão pelo ISCTE. Tem um mestrado em Business Intelligence pela NOVA IMS. É actualmente Marketing Manager no grupo Memmo Unforgettable Hotels. Faz parte do Movimento de Schönstatt e integra um grupo Cristo Na Empresa da ACEGE Next.