Estamos perante a necessidade urgente do mundo empresarial se adaptar a este novo modelo económico, gerindo os riscos, mas também gerando mais conhecimento, estabelecendo o diálogo e a colaboração com a administração pública, na definição de potenciais estratégias nacionais de economia circular
POR LUÍS ROBERTO

Em 2025, estima-se que a população mundial produzirá anualmente 2.2 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, com uma tendência crescente do consumo. Em 2050 existirá mais plástico nos oceanos do que peixes, e a população mundial atingirá os 9.8 milhões, com mais de metade dos habitantes do planeta a viver nos grandes centros urbanos.

Segundo estudos realizados pela OCDE-FAO, serão necessários mais 30% da energia do que a que consumimos atualmente, mais 30% da água que bebemos e mais 50% dos alimentos que ingerimos. Em média, cada habitante irá usar mais 70 % de materiais do que aqueles que eram necessários em 2005.

E, com mais consumo, mais emissões de gases com efeito de estufa e resíduos serão gerados.

Para fazer face a esta inevitabilidade, em dezembro de 2015, a Comissão Europeia (CE) apresentou o Pacote de Economia Circular com o intuito de dinamizar a nova economia na Europa, incluindo as linhas estratégicas da União Europeia (UE) e um Plano de Ação para uma Economia mais Circular.

Em paralelo, o apelo ao consumo e à produção responsável com a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS12 – é convergente com a necessidade de se desenvolverem ações por parte das empresas, decisores políticos e consumidores, baseada na capacidade tecnológica, na eficiência na utilização dos recursos e na redução dos resíduos a nível global.

Portugal é um dos estados membros da UE que tem avançado com estratégias e planos de ação para uma Economia Circular, em linha com os objetivos da CE, embora no Sustainable Development Report 2021, recentemente publicado, tenha caído duas posições, ocupando a 27ª posição entre 165 Países.

Em concreto, Portugal não ultrapassa os 60% de performance média na implementação do ODS 12, ainda com desafios significativos a serem ultrapassados.

Contrariamente ao que muitos possam pensar, o maior objetivo da Economia Circular está na geração de lucros, sendo por isso fundamental identificar as oportunidades económicas que possibilitem eliminar os resíduos, manter os produtos e materiais em uso e regenerar os sistemas naturais.

Estamos perante a necessidade urgente do mundo empresarial se adaptar a este novo modelo económico, gerindo os riscos, mas também gerando mais conhecimento, estabelecendo o diálogo e a colaboração com a administração pública, na definição de potenciais estratégias nacionais de economia circular.

As autarquias que apostam na inovação, poderão ter um papel disseminador da economia circular, através do incentivo ao desenvolvimento de projetos com impacto na sua comunidade e são já vários os exemplos de Municipalities em diversas cidades europeias, que já deram sinal verde à economia circular.

E como podem as empresas criar o seu roadmap para integrar a economia circular na estratégia corporativa?

Na resposta a esta questão, limito-me a trazer a minha experiência enquanto observador atento, e o conhecimento partilhado entre empresas e organizações em várias geografias, ao longo dos últimos anos.

Comecemos por identificar os benefícios que a empresa pode alcançar com a implementação da economia circular e de como o seu negócio pode contribuir para um modelo circular, procurando a inspiração no melhor de outras organizações.

Habitualmente as empresas identificam com relativa facilidade o crescimento do negócio, a redução de custos operacionais e a melhoria da competitividade como benefícios primários. Mas este é um exercício que merece uma análise cuidada e aprofundada, pois dele depende em grande parte, o sucesso da integração.

É importante ter o compromisso dos stakeholders internos e externos em todas as fases do processo (afinal trata-se de um processo de transformação), usando para o efeito uma comunicação que posicione a empresa como líder no caminho para o desenvolvimento sustentável.

Definir o Plano de Ação para a integração da economia circular na empresa implica também definir os critérios de inovação circular: inovação de processo; inovação de produto e/ou serviço; inovação do modelo de negócio, e a forma como este será alcançado – Fornecedores; projeto de longo prazo; valorização de resíduos e/ou através da Integração de tecnologia.

Medir e monitorizar é um processo chave para garantir a eficiência, a performance e o sucesso da integração, traduzindo as métricas em resultados económicos com impacto.

Por ultimo é crucial comunicar, destacar as boas práticas e as iniciativas de economia circular da empresa, como impulsionadora da circularidade, enquanto atividade económica em Portugal, que se deseja ver crescer.

Existem nos dias de hoje vários projetos liderados pela indústria, faltando ainda, todavia, políticas públicas no mundo inteiro que contrariem a economia extrativa.

O caminho é longo e a criação de um modelo funcional e transversal capaz de garantir a sustentabilidade do negócio circular é absolutamente necessário mas, sobretudo, é importante assegurar que os novos conceitos de circularidade são aceites e compreendidos por todos.

Luís Roberto
Corporate Sustainability & Responsibility Expert

Head of Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa
Rede do Empresário