Para George Kell “as empresas estão a injectar as economias nacionais, regionais e locais com valores centrais que servem para construir a confiança nos mercados, estimular o crescimento e incentivar o desenvolvimento”. Num artigo de opinião publicado pela Stanford Social Innovation Review, que o VER reproduz, o director executivo do Global Compact faz um resumo dos principais passos dados a caminho de uma consciência empresarial global e do trilho a percorrer até que esse ideal seja atingido
Num artigo publicado na Stanford Social Innovation Review, que o VER aqui reproduz, Kell comenta os resultados do mais recente Global Corporate Sustainability Report (ver Caixa), referente a 2013. “As alterações dramáticas parecem sempre ilusórias. Os grandes problemas económicos e sociais parecem ser intratáveis, destinados a permanecerem connosco para sempre. Todavia, mesmo um estudo superficial retirado da história recente ensina-nos que vivemos em tempos extraordinários, nos quais as vidas de milhões de pessoas em todo o mundo estão a sofrer mudanças extraordinárias. Com reduções significativas da pobreza, progressos em importantes indicadores de saúde e maiores oportunidades económicas, uma economia internacional liderada pelo sector privado, tecnologicamente progressista e bem integrada está a tornar-se na maior força transformacional desde a Revolução Industrial. Os negócios, a principal fonte de actividade económica do mundo, estão a marcar o ritmo acelerado da produtividade do esforço humano, derrotando as doenças, reinventando a comunicações e retirando mais nutrientes do solo. Orientado pelo desejo de alavancar a actividade económica mundial, tanto dos mercados como das sociedades, o Global Compact das Nações Unidas foi criado há mais de uma década. O nosso objectivo consistia em fomentar uma nova narrativa que expressasse o poder e o potencial das práticas corporativas responsáveis. A nossa missão para tornar comum a sustentabilidade corporativa teve início com a articulação de um conjunto de princípios universais sobre direitos humanos, trabalho, ambiente e anti-corrupção que poderiam ser incorporados nas estratégias e operações de negócios em qualquer parte do mundo. De seguida, instituímos metodologias para o envolvimento das empresas, seguindo o modelo “compromisso, acção, reporte”. As redes de países, compostas por participantes da área empresarial e da sociedade civil, tornaram-se signatárias dos nossos princípios, totalizando 101 [redes]. Por fim, estabelecemos plataformas globais para as empresas poderem liderar desafios importantes. Actualmente, as nossas iniciativas que visam o empowerment das mulheres e as questões climáticas são as maiores do mundo em termos de acções corporativas. Entretanto, lançámos o Global Corporate Sustainability Report de 2013, o qual oferece uma análise aprofundada do progresso das empresas em todo o mundo no que respeita a incorporar práticas responsáveis nas suas estratégias, operações e culturas e a tornar real um futuro mais equitativo, próspero e sustentável. Tal como o estudo deste ano indica, empresas em todo o mundo estão a injectar as economias nacionais, regionais e locais com valores centrais que servem para construir a confiança nos mercados, estimular o crescimento e incentivar o desenvolvimento. Com a adesão aos princípios do Global Compact a crescer de 40 empresas na altura do seu lançamento para mais de 8 mil no presente, em 140 países, os líderes empresariais – que representam a quase totalidade de indústrias e sectores, sendo originários de economias desenvolvidas, em desenvolvimento e emergentes – estão a abraçar a premissa fundamental de que a conduta responsável, o desenvolvimento sustentável e o crescimento do negócio a longo prazo são mutuamente reforçáveis. Para este líderes ‘iluminados’ do sector privado, trabalhar em torno do bem comum já não é o principal ‘selling point’. Estes mesmos executivos compreendem que as questões da sustentabilidade – abarcadas pelos princípios do Global Compact – constituem factores substanciais para a viabilidade e sucesso de longo prazo das empresas, sejam estas pequenos fornecedores ou gigantes transnacionais. E também reconhecem que os distúrbios do mercado, as perturbações sociais e a devastação ecológica – independentemente de serem ‘perto ou longe’ – têm verdadeiros impactos nas cadeias de fornecimento, nos fluxos de capitais, na opinião pública e na produtividade dos empregados.
Por outro lado, investidores e escolas de negócios têm vindo a conferir um significativo impulso a estes esforços de sustentabilidade corporativa graças a actividades de grupos como os Principles for Responsible Investement, com cerca de mil investidores a gerirem activos na ordem dos 35 biliões de dólares, ou como os Principles For Responsible Management Education, apoiados por mais de 500 escolas de negócios e instituições de gestão. Todavia e apesar de este progresso ser promissor, só teremos uma verdadeira oportunidade que origine uma mudança sistémica, se 20 mil ou mais empresas se comprometerem plenamente com os princípios do Global Compact. Nessa altura, o sector privado irá começar a abraçar uma verdadeira consciência global que reflicta que a sustentabilidade é a melhor prática de negócio. Contudo, isto só irá acontecer se abordarmos o fosso crescente entre a adopção e a implementação dos princípios em causa. São demasiadas as vezes em que os CEO e os membros dos conselhos de administração fazem compromissos para perseguir um curso de acção mais sustentável e, de seguida, encontram um conjunto de barreira que os impedem de implementar as suas boas intenções. Para fechar o fosso entre o “dizer” e o “fazer”, os executivos devem ter uma abordagem sofisticada e detalhada para integrar as práticas de sustentabilidade vertical e horizontalmente, desde o próprio conselho de administração, incluindo o resto da organização e suas subsidiárias, sem esquecer a cadeia de fornecimento. Como parte deste esforço, os executivos têm de estabelecer objectivos claros, bem como medidas legítimas de responsabilização. Alcançar um verdadeiro progresso irá exigir que as empresas se movam para além dos silos e que se juntem às plataformas do Global Compact das Nações Unidas no que respeita ao clima, à água, ao género, aos direitos das crianças e à paz. O compromisso relativo a estas plataformas contribuirá para aumentar a performance e melhorar o impacto através de um posicionamento mais significativo no que respeita à colaboração, ao estabelecimento de parcerias e a um co-investimento com a sociedade civil, outras empresas, governos, comunidades locais, empregados e académicos. De qualquer das formas, com mais de metade das empresas a reportar parcerias, estamos a testemunhar uma colaboração e cooperação com as organizações não-governamentais e com concorrentes empresariais. Estes estão a unir-se mediante formas jamais imaginadas para ir ao encontro dos desafios colectivos como a corrupção ou as alterações climáticas. À medida que olhamos para o futuro, os nossos esforços irão beneficiar do facto de se estar a tornar cada vez mais fácil medir e avaliar o progresso, dado que as empresas se estão a tornar cada vez transparentes no que respeita à comunicação dos seus esforços em prol da sustentabilidade. Há 10 anos, explicar a relação existente entre princípios sustentáveis e negócios constituía um enorme desafio para as empresas,. Actualmente, milhares de empresas fazem-no anualmente, através dos seus relatórios públicos, reportando tópicos como os direitos humanos, a água ou a anti-corrupção. Em breve, estes esforços irão fornecer, a todas elas, um lugar na linha da frente, a partir do qual se testemunhará o amanhecer de uma nova era de consciência global e de práticas empresariais responsáveis”. Artigo originalmente publicado na Stanford Social Innovation Review. Adaptado com permissão.
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Helena Oliveira
Editora Executiva