Temos a consciência de que o combate à exclusão social tem de assentar em pedagogias e intervenções que reconciliem as pessoas com a vida e as ajudem a ganharem poder para transformarem a sua realidade. São objectivos exigentes que requerem tempo, tolerância, resiliência e instrumentos adequados
POR LUÍSA SANCHES VALLE

Os temas relacionados com as crianças, com os idosos, com as pessoas com deficiência ou com outros grupos de pessoas vulneráveis foram assumindo, ao longo dos últimos 40 anos, um crescente destaque nas agendas dos vários governos.

Porém, nos últimos anos, e em resultado da crise económica, tem havido inversão das prioridades nas políticas públicas, com a consequente perda de importância daqueles temas. Em resultado disto, assistimos a uma preocupante emergência da pobreza e da exclusão social sem que haja a capacidade de implementar medidas eficazes de combate e mitigação destes fenómenos.

Este caminho só nos pode levar a uma sociedade mais desigual, menos justa, com menos mobilidade social e menos coesa, pelo que é urgente apostar no futuro, motivando e investindo na criatividade e na inovação social para encontrar novas respostas e soluções efectivas para estes problemas.

A este desafio a Fundação Calouste Gulbenkian responde com o reforço no aprofundamento do conhecimento, do debate e com o desenvolvimento e teste de novas abordagens.

[quote_center]Os projectos do PARTIS criam espaços de liberdade e de aprendizagem permanente, onde se desfazem preconceitos, onde se aprende e ensaia a compreensão e a tolerância[/quote_center]

Temos a consciência de que o combate à exclusão social tem de assentar em pedagogias e intervenções que reconciliem as pessoas com a vida e as ajudem a ganharem poder para transformarem a sua realidade. São objectivos exigentes que requerem tempo, tolerância, resiliência e instrumentos adequados.

A Fundação tem tempo, é tolerante e, nos seus 60 anos de vida, ganhou resiliência, pelo que importava identificar os instrumentos que melhor se lhe adaptavam para participar neste esforço em prol da inclusão social. Por outro lado, sendo uma das missões desta instituição – porventura uma das mais reconhecidas – a de ser uma Casa das Artes, foi com naturalidade que surgiu esta possibilidade de cruzamento entre duas das suas vocações: as Artes e a Intervenção Social.

A nossa própria experiência tem-nos mostrado que as práticas artísticas são um caminho complexo, por vezes difícil e moroso, de estímulo à criatividade, de aprendizagem e de promoção da autonomia sociais com vista à inclusão social.

Ao longo de vários anos apoiámos, acompanhámos e promovemos avaliações independentes dos resultados alcançados com os projectos experimentais que financiámos e que mostram, sem sombra de dúvida, que a arte tem um efeito de causalidade na alteração de comportamentos. Com estes projectos cometemos erros que seria importante corrigir, identificámos aspectos que teríamos de potenciar, reconhecemos atitudes que davam sinais contraditórios.

Com estas aprendizagens criámos um programa ambicioso – o PARTIS – de apoio a projectos que recorram ao potencial gerado pelas práticas artísticas aplicadas de uma forma exigente, para percorrer com sucesso o caminho de acesso à integração na sociedade. São projectos que criam espaços de liberdade e de aprendizagem permanente, onde se desfazem preconceitos, onde se aprende e ensaia a compreensão e a tolerância. Assim se constrói, a cada dia, um novo futuro.

Este artigo faz parte integrante do Especial PARTIS – Práticas Artísticas para a Inclusão Social

Directora do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano