É uma forma diferente de falar dos últimos 12 meses, mais comummente apelidados como “o ano da pandemia”. Mas, e neste caso, a Covid-19 surge não como um vírus que já matou quase três milhões de pessoas em todo o mundo, mas como uma espécie de contaminador de riqueza para os mais afortunados do planeta. O ranking mundial dos multimilionários publicado anualmente pela Forbes anunciou níveis recordistas no que respeita ao número total de magnatas, ao número de “estreantes” neste clube selecto – a cada 17 horas, surgiu um novo bilionário – e ao montante de riqueza colectiva acumulada que ascende a 13,1 triliões de dólares, um valor sem precedentes. Ao mesmo tempo, o fosso entre ricos e pobres transformou-se num profundo abismo e, apesar de alguns gestos de boa vontade filantrópica, os mais ricos do mundo não querem ouvir falar de um imposto especial sobre as suas fortunas, uma medida defendida por vários países para ajudar a mitigar os custos da crise pandémica
POR HELENA OLIVEIRA

Entre Março de 2020 e Março de 2021, e, (em média) a cada 17 horas, o clube dos mais ricos do mundo acolheu um novo bilionário, numa espécie de milagre da multiplicação ou, e em linguagem pandémica, numa disseminação sem precedentes. Um número recordista de 493 pessoas – 210 provenientes da China e Hong Kong e 88 dos Estados Unidos – juntou-se ao ranking mundial dos multimilionários elaborado anualmente pela revista Forbes, limando apenas alguns arestas face a outras listas que medem a riqueza individual global e coincidindo no essencial: assinalado um ano de pandemia, no qual quase três milhões de pessoas perderam a vida, e um número ainda por apurar de outras perderam a saúde, níveis de rendimento, o emprego, familiares ou amigos e, muito provavelmente, o futuro, o mundo conta agora com 2755 multimilionários, cuja riqueza conjunta ascende a 13,1 triliões de dólares, face a oito triliões estimados o ano passado.

De acordo com a 35ª lista anual dos mais ricos do mundo da revista Forbes, não só o número de novos bilionários atingiu um valor recordista – o recorde prévio era de 290 “estreantes” no ano de 2015 -, como também o número total de super-ricos – mais 660 do que há um ano – atingiu um novo máximo. Impressionante é também o facto de 86% dos que pertencem a tão selecto clube terem visto a sua riqueza aumentar ao longo dos últimos 12 meses.

Os Estados Unidos continuam a albergar o maior número de multimilionários – 724 -, mas seguidos de perto pela China (incluindo Hong Kong e Macau), com 698, o que significa que Pequim ultrapassou Nova Iorque como a cidade mais “rica” do planeta. Por seu turno, a Índia ocupa agora a terceira posição no ranking dos países com mais bilionários no mundo e, em conjunto, a riqueza total dos 1149 que residem nos países da Ásia-Pacífico é de 4,7 triliões de dólares face à dos seus pares nos Estados Unidos, que perfaz o valor de “apenas” 4,4 triliões. Também no seu conjunto, os multimilionários europeus viram a sua fortuna aumentar em um trilião de dólares neste último ano.

No topo do top 5 dos mais ricos do mundo continua, e pelo 4º ano consecutivo, Jeff Bezos que, devido ao resultado das acções da Amazon, viu a sua fortuna aumentar em 64 mil milhões de dólares para os actuais 177 mil milhões, sendo seguido por uma ascensão meteórica de Elon Musk – com 151 mil milhões de dólares – devidamente impulsionada pela subida de 705% das acções da Tesla e, quando há um ano, ocupava apenas a 31ª posição no ranking global da Forbes. Na verdade, e em Janeiro deste ano, e no Bloomberg Billionaires Index, Musk ultrapassaria pela primeira vez Bezos como o homem mais rico do mundo, proeza que não duraria muito tempo, mas que serviu para continuar alimentar a história de rivalidade entre os dois homens, ambos com ambições espaciais (Musk lidera a SpaceX e Bezos a Blue Origin) e conhecidos por se “picarem” mutuamente.

O magnata francês Bernard Arnault mantém a 3ª posição, apesar de a sua fortuna ter quase duplicado para 150 mil milhões de dólares, devido a um aumento de 86% nas acções da LVMH, proprietária de marcas como a Louis Vuitton e a Christian Dior e do retalhista de cosmética Sephora; Bill Gates ocupa o 4º lugar, com 124 mil milhões e a fechar o top 5 está Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, cujas acções aumentaram 80%, com 97 mil milhões. Uma nota apenas para Warren Buffett que, e pela primeira vez desde 1993, ficou de fora do clube dos 5 mais ricos do mundo. Nada que preocupe, contudo, o famoso investidor à frente da Berkshire Hathaway que, aos 90 anos, “vale” mais 28,5 mil milhões de dólares do que há um ano, e é a sexta pessoa mais rica do mundo com uma fortuna avaliada em 90 mil milhões.

Assim, e grafados os números mais expressivos desta lista e num ano em que a esmagadora maioria das notícias esteve relacionada com a Covid-19, não estamos longe de um paradoxo que sumariza bem o quanto os bilionários ganharam num período em que tanta gente perdeu alguma coisa. E, em particular, quando sabemos igualmente que a pandemia aumentou ainda mais o fosso entre ricos e pobres e que uma desigualdade crescentemente agravada está a atingir em força quase todos os países do mundo.

Várias questões são passíveis de ser colocadas no que respeita a este aumento extraordinário de riqueza. Que sectores foram os mais afortunados num ano em que muitas empresas fecharam portas? Que negócios foram mais estimulados exactamente devido ao surgimento deste vírus traiçoeiro e muitas vezes letal? Mas e principalmente, que contributo – se é que o houve – deram estes multimilionários para mitigar os efeitos da pandemia?

Quem mais ganhou com a luta contra a Covid-19?

Para alguns observadores, a lista elaborada pela Forbes, e apesar de retratar um aumento na ordem dos 30% no que se refere ao número de novos multimilionários, traça um quadro exagerado dos ganhos pandémicos dos multimilionários na medida em que compara o seu património líquido actual com a última análise realizada aos mesmos em meados de Março de 2020. Ora, foi nessa altura que a Organização Mundial de Saúde declarou a Covid-19 como uma pandemia global e, pouco tempo depois, os mercados colapsaram e as economias de todo o mundo mergulharam em recessão. Ao mesmo tempo, escreve a Forbes, centenas de multimilionários deixaram de ter os requisitos necessários para figurarem na lista em causa, pois “até” as suas fortunas sofreram um abalo significativo devido ao deflagrar da pandemia. Todavia e como já enunciado, um ano depois e o retrato é completamente diferente: impulsionadas por mercados financeiros florescentes e por estímulos económicos sem precedentes, as fortunas dos magnatas recuperaram e aumentaram o seu valor e, como também já acima referido, 493 novos multimilionários juntaram-se a esta rica elite.

De acordo com a Forbes, destes 493, existem pelo menos 40 que viram as suas fortunas a crescer consideravelmente devido ao facto de estarem ligados a empresas envolvidas na luta contra a Covid-19. É o caso do francês Stéphane Bancel, CEO da Moderna desde 2011 e proprietário de 11% da empresa, bem como o do co-fundador da BioNtech, o turco Uğur Şahin que, graças ao desenvolvimento das vacinas, viram ser-lhes estendido o tapete vermelho de entrada no grupo dos mais ricos do mundo.

Outras empresas dedicadas à pesquisa e produção de vacinas foram tão bem sucedidas que a sua ascensão ao longo do último ano acabaria por dar origem a vários novos bilionários no interior da mesma organização, incluindo quatro da Moderna e da CanSino Biologics, com sede em Tianjin, que viu a sua vacina de uma só toma aprovada pelos reguladores chineses em Fevereiro. E não são apenas os responsáveis pelas “descobertas” das vacinas que alcançaram o pote de ouro: as empresas que as produzem em massa e que contratam outras congéneres na área da investigação para ajudar na realização de ensaios clínicos também colheram as devidas recompensas, criando novas fortunas para pessoas como Juan López-Belmonte López, do grupo farmacêutico espanhol Rovi ou as irmãs Karin Sartorius-Herbst e Ulrike Baro, da empresa alemã Sartorius AG.

Todavia, não foi só a investigação e produção de vacinas que deu origem a novos milionários. Negócios variados como o fabrico de equipamento de protecção social ou de testes de diagnóstico, passando pelos tratamentos com anticorpos, ao desenvolvimento de software para ajudar as autoridades a programar as campanhas de vacinação, entre outras medidas necessárias que são e serão necessárias para reabrir a sociedade e preparar o regresso à vida quase normal, estão entre as actividades que abriram portas – e supostamente continuarão a abrir – à ascensão de novos bilionários.

Como destaca igualmente a Forbes, o mais rico destes novos bilionários é Li Jianquan, o presidente do fabricante chinês de produtos médicos Winner Medical, que aumentou a produção de máscaras e fatos protectores para equipar trabalhadores da linha da frente em todo o mundo. A IPO da Winner Medical na bolsa de Shenzhen, em Setembro de 2020, fez de Jianquan, 64 anos, um super-milionário, graças à sua participação de 68% na empresa, no valor de 6,8 mil milhões de dólares.

Como não poderia deixar de ser, a área dos cuidados de saúde (que ocupa o 5º lugar nos sectores mais prósperos) foi igualmente terreno fértil para o aumento da riqueza de vários dos seus intervenientes. Em 61 multimilionários presentes na lista da Forbes neste sector, pelo menos 40 são “estreantes” e por via do envolvimento que tiveram na luta global contra a pandemia de Covid-19. É o caso do italiano Sergio Stevanato, cuja empresa familiar produz ampolas de vidro para armazenar as vacinas ou do médico indiano Prathap Reddy, cuja cadeia hospitalar viu duplicar o preço das suas acções no meio de uma mudança para se concentrar no tratamento e diagnóstico da Covid-19, entre vários outros.

No entanto, e a nível sectorial, não foram as empresas mais directamente ligadas à pandemia que mais dinheiro deram a ganhar aos multimilionários da Forbes. A indústria financeira e dos investimentos continua a ser o caminho mais directo para acumular riqueza, com 371 representantes na lista da Forbes e com um crescimento de 50% ao longo do último ano e uma quase duplicação face há dois anos.

Apesar de muitos dos seus “membros” terem já um lugar cativo neste ranking, como é o caso de Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, ou de Carl Icahn, um dos mais bem-sucedidos investidores de Wall Street, houve igualmente espaço para novas “aquisições” como é o caso dos gémeos Winklevoss. A história dos dois irmãos começou por ser conhecida por causa do processo movido em 2004 a Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, alegando que a ideia subjacente à criação da famosa rede social era originalmente sua (a ConnectU), o que viria a dar origem ao filme The Social Network e a 65 milhões de dólares que receberam aquando do encerramento do processo, em 2008. Mas foi devido ao seu investimento precoce na bitcoin e, mis tarde, ao lançamento da Gemini, uma plataforma de câmbio de criptomoedas, que os gémeos conseguiram finalmente entrar na lista mais desejada do planeta. Na verdade, os investimentos em criptomoedas constituíram também, na lista deste ano, uma boa via para a estreia de novos milionários.

Dos demais sectores, a destacar o da manufactura, na 3ª posição, com 331 bilionários, com 155 a serem provenientes da China e, apesar dos confinamentos, a moda e a venda a retalho ocuparam o quarto lugar, com 273 bilionários, ou 10% da lista deste ano, em particular no que respeita à alta-costura ou aos produtos de luxo que parecem sobreviver a qualquer que seja a hecatombe. Como já anteriormente citado, o sector dos cuidados de saúde encerra o top 5 das indústrias que mais multimilionários geraram, com a tecnologia a ocupar a segunda posição, o que, e por motivos vários, merece uma reflexão mais cuidada.

Tecno-multi-milionários: filantropia sim, pagar mais impostos, nem por isso

Como já referido, os mercados bolsistas recuperaram em grande escala depois de uma queda aparatosa provocada pela chegada da Covid-19, o que ajudou, e muito, a impulsionar os níveis das fortunasdos mais do mundo para níveis recordistas.

Mas nenhum grupo dos ultra-ricos beneficiou tanto desta recuperação como aquele que integra o dos multimilionários da tecnologia que são donos e senhores de uma riqueza combinada no valor de 2,5 triliões de dólares, cerca de 80% acima dos 1,4 triliões de que dispunham há um ano. Adicionalmente, e apesar de pertencerem ao segundo sector com maior número de milionários – 365 versus os 371 das finanças e investimentos – as suas fortunas conjuntas excedem, em muito, as de qualquer outra “concorrente”, nomadamente a riqueza colectiva líquida da moda e retalho que ascende aos 1,7 triliões d dólares e a do sector financeiro e de investimento, na ordem dos 1,5 triliões.

Para se ter uma ideia da posição que ocupam na pirâmide da riqueza, oito destes magnatas da tecnologia encontram-se entre as 20 pessoas mais ricas do mundo, com seis deles a constarem do top 10. E, em termos geográficos, apesar dos Estados Unidos continuarem a ser o local que mais multimilionários tecnológicos alberga – 11 –, a China segue-lhe os passos, e bem de perto, com nove (eram seis o ano passado).

Todavia, e no que respeita aos ultra-ricos americanos, o aumentar explosivo das suas fortunas tem vindo a gerar um debate aceso na sociedade, relacionado com questões de filantropia – na medida em que alguns dos mesmos têm usado parte da sua fortuna para ajudar a solucionar problemáticas sociais ou ambientais – e, em particular, desde que a crise deflagrou. Afinal, com tanto dinheiro acumulado, até que ponto algumas das pessoas mais ricas do mundo estão dispostas a prescindir de uma parte (ínfima, para eles próprios) da sua fortuna para ajudar os mais vulneráveis?

Um dado curioso que consta desta lista da Forbes prende-se com a presença de MacKenzie Scott, a ex-mulher de Jeff Bezos, no número 10 do top dos 20 mais ricos do sector tecnológico. Scott não trabalha na área da tecnologia, mas foi casada com o fundador da Amazon e, no seu acordo de divórcio, ficou estabelecido que receberia um quarto do valor das acções da gigantesca tecnológica (que, e entretanto, foram subindo). E se o homem mais rico do mundo tem sido há muito criticado por, entre outras coisas, não ser dado a grandes projectos de filantropia – apesar de, e em 2020, ter anunciado a doação de 791 milhões de dólares do seu Bezos Earth Fund no valor de 10 mil milhões de dólares para projectos de luta contra as alterações climáticas – MacKenzie Scott, pelo contrário, parece querer afirmar-se como a “filantropa por excelência” da América. Só nos últimos quatro meses de 2020, Scott doou mil milhões de dólares por mês a cerca de 400 organizações que prestaram auxílio aos americanos durante a pandemia. Em declarações à imprensa e à medida que a pandemia foi assolando o país e afectando particularmente os seus cidadãos com rendimentos mais baixos, Scott falou explicitamente da dupla realidade que caracterizou 2020 – para os multimilionários e o resto da América –, algo que a maior parte dos seus pares ultra-ricos é bastante relutante em assinalar. Entretanto, e bem mais modesto, Bezos haveria de doar também 100 milhões de dólares para bancos alimentares espalhados pelos Estados Unidos como resposta à pandemia.

Outros multimilionários com provas dadas na filantropia, como Bill Gates, Steve Ballmer, Larry Ellison, Michael Dell ou Pierre Omidyar têm vindo a dar o seu contributo, mediante formas diversas, aos muitos estragos provocados pela Covid-19. O mesmo acontece com muitos outros “só milionários” do sector tecnológico. Mas nem toda a gente vê com bons olhos estas boas intenções.

Em Março deste ano, a revista Vox, em conjunto com a Data for Progress, publicou os resultados de uma sondagem exclusiva que revelou um público americano com sentimentos ambivalentes face à sua classe multimilionária. O inquérito revelou que os americanos têm sentimentos “acalorados” sobre os ultra-ricos, com mais de 40% dos inquiridos a afirmarem que os bilionários não são bons exemplos a seguir. Todavia e ao mesmo tempo, uma percentagem similar rejeita igualmente a ideia de que uma sociedade que “permite” a existência de multimilionários seja “inerentemente imoral”. Muitos americanos dizem também que os bilionários ficaram injustamente mais ricos durante a crise e que deveriam ter de pagar mais impostos, em vez de deixar o país a dependendo da sua filantropia.

Na verdade, a ideia de se taxar mais agressivamente as fortunas dos super-ricos para ajudar a minorar os custos impostos pela pandemia tem vindo a ser discutida em alguns países, como a Argentina, a África do Sul e o Reino Unido, por exemplo, e também na América. E existe até um conjunto de 83 super-ricos, de diferentes países, que subscreveram uma carta na qual pediam “por favor, taxem-nos, taxem-nos, taxem-nos. É a opção certa. É a única opção”.

O próprio Fundo Monetário Internacional é a favor deste imposto e, na América, é o próprio presidente Biden a considerar esta hipótese. E Bill Gates, conhecido por ser um “mãos-largas” no que respeita às suas iniciativas filantrópicas, há muito que defendia, teoricamente, ser a favor desse tipo de imposto “extra” sobre a sua fortuna pessoal.

No entanto, Gates e muitos dos seus pares milionários têm-se mantido em silêncio sobre uma série de propostas activas que fariam exactamente isso, evitando falar de um pacote legislativo no seu estado natal de Washington que os visa especificamente. Uma das propostas postas em curso pelos legisladores no estado de Washington assenta numa taxa de 1% sobre riquezas superiores a mil milhões de dólares.

Washington é o lar de quatro das pessoas mais ricas do planeta: Gates, Jeff Bezos, fundador da Amazon, MacKenzie Scott, ex-mulher de Bezos, e Steve Ballmer, CEO de longa data da Microsoft. E os quatro recusaram-se a fazer campanha para as propostas de aumento de impostos, recusando pedidos para apoiar as medidas e mantendo-se totalmente à margem dos mesmos.

Mas a verdade é que se já existia um fosso enorme entre ricos e pobres, esta pandemia acabou por o transformar num profundo abismo. E o que muitas pessoas pensam é que se os ricos puderam, em tempo de pandemia, continuar a viajar em jactos privados, a fazer o seu confinamento em casas de férias espaçosas e com todas as comodidades possíveis, a serem acompanhados por médicos privados ou a encomendar vacinar particularmente, o resto dos cidadãos, em particular os de baixos rendimentos, perderam os seus empregos, trabalharam desproporcionalmente na linha da frente, tinham e têm mais probabilidades de morrer por causa do vírus e vêem o seu futuro hipotecado.

E outra questão se coloca: no meio de uma pandemia, será que as empresas têm obrigações especiais para com a sociedade ou será que a sua principal vocação continua a ser maximizar os seus resultados?

Estas são grandes questões sobre as quais as pessoas discordam naturalmente. O que não se pode realmente debater é a realidade de que estas empresas são hoje mais poderosas do que eram antes da Covid-19. Todos os americanos (e também nós, europeus) foram forçados a abraçar e a depender da Big Tech. Os centros comerciais fecharam, mas a Amazon entrega tudo o que é preciso. As escolas encerraram portas, e alunos e professores ficaram dependentes das salas de aulas da Google. Os contactos foram vedados e toda a gente precisa do Facebook Messenger para comunicar com a família e amigos.

Na verdade, o que os americanos sentem – e tendo em conta que é o seu país aquele que maior número de multimilionários do sector tecnológico acolhe – é que estão perante uma indústria tecnológica cada vez mais poderosa, liderada por multimilionários com uma riqueza que não pára de crescer; que existe um grupo de filantropos que, de alguma forma, está a doar mais do que nunca, mas ainda não o suficiente para apaziguar os mais críticos e que vivem num ecossistema político que, e independentemente da ideologia que professam, é controlado pelos ricos.

E a pandemia só serve para agravar ainda mais este sentimento de frustração e de injustiça.

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