Na transição para a “nova economia” os indicadores de desenvolvimento devem reflectir a efectiva melhoria das condições de vida das populações, o estado do ambiente e a distribuição equitativa do rendimento.
POR CARLOS OLIVEIRA AUGUSTO

“Melhorar a qualidade das nossas vidas deveria constituir o objectivo principal das políticas públicas. Mas as políticas públicas só produzirão os melhores frutos se tiverem como base ferramentas fiáveis que sejam capazes de avaliar essas mesmas melhorias que pretendem gerar nas nossas vidas”
Ángel Gurría, Secretário-geral da OCDE, 2011

Se a questão civilizacional mais relevante de responder for a de saber se o actual modelo de desenvolvimento é viável, os vários estudos que nos chegam de fontes distintas são elucidativos e a resposta é um rotundo NÃO!

A pressão ambiental, social e económica – reflexo de uma crise mais profunda – levam à conclusão que estamos, em termos ambientais, a viver um tempo “emprestado” às gerações vindouras e que a protecção dos cerca de dois terços dos recursos naturais em acentuada degradação são um factor crítico a levar em conta no que respeita à criação de riqueza e do desenvolvimento humano.

Assim, se o Desenvolvimento Sustentável implica um conflito com o actual paradigma, importa, sem dúvida, implementar novos modelos de desenvolvimento e novos Indicadores mais apropriados à nova realidade.

Ainda hoje o PIB (Produto Interno Bruto) ou GDP (Gross Domestic Product) é o indicador de referência no que respeita à medição de prosperidade, consumo e qualidade de vida de um país. O crescimento zero, ou mesmo negativo, eram cenários impensáveis antes da crise de 2008, por conduzirem a uma perda de competitividade, investimento e emprego, tal como se veio a confirmar.

[pull_quote_left]Se o Desenvolvimento Sustentável implica um conflito com o actual paradigma, importa, sem dúvida, implementar novos modelos de desenvolvimento e novos Indicadores mais apropriados à nova realidade[/pull_quote_left]

Porém, a análise do PIB feita per se é enganadora, visto que se pode fazer crescer este indicador à custa da degradação do ambiente, da qualidade de vida das populações ou…pedindo empréstimos ao estrangeiro. Nem sequer é credível no que respeita à pobreza, pois existem casos em que o crescimento económico foi acompanhado pelo aumento desta e/ou pela diminuição dos rendimentos da classe média.

Na transição para a “nova economia” os indicadores de desenvolvimento devem reflectir a efectiva melhoria das condições de vida das populações, o estado do ambiente e a distribuição equitativa do rendimento.

Há alguns anos (2005) o Reino do Butão tornou-se o primeiro país a implementar o FIB (Felicidade Interna Bruta) ou GNH (Gross National Happinesss), ao colocar em prática estratégias de crescimento económico compatíveis com a preservação do ambiente e dos valores tradicionais com vista à melhoria da educação, da saúde e da qualidade de vida, tendo como base os objectivos do Desenvolvimento Sustentável.

Este caso tem sido objecto de acompanhamento por parte da comunidade internacional. Recentemente foi reconhecido como “Carbon Negative” ou seja, o saldo entre as emissões de carbono que emite (1.5 milhões de toneladas eq.) e as que sequestra por meio da sua floresta (6.0 milhões de toneladas eq.) é negativo, o que o torna num caso único e de referência.

Neste contexto, surge o HPI (Happy Planet Index), desenvolvido pela NEF (The New Economics Foundation), e que se define por ser um indicador que se foca “…on what matters: sustainable well-being for all”, ou seja, no modo como as nações estão a promover políticas conducentes a uma vida feliz e realizada dos seus cidadãos, enquanto asseguram as condições para que as próximas gerações o possam igualmente fazer no futuro.

O HPI é um rácio que utiliza dados e informação obtidas de inquéritos e fontes oficiais, relacionando a “satisfação com a vida” e a “expectativa de vida da população” (numerador) com a “pegada ecológica” de um país (denominador). Este valor dá-nos uma ideia clara da direcção que uma sociedade está a tomar e é uma valiosa ferramenta de apoio às decisões políticas.

Por curiosidade, no relatório de 2012, entre 151 países, Portugal ocupa a 97ª posição, bastante distanciado de outros países comparáveis (como por exemplo a Espanha, em 62º lugar, e a Grécia, em 83º). O primeiro lugar pertence à Costa Rica, o último ao Botswana e os EUA encontram-se em 105º.

Na Europa, a França (Relatório Stiglitz-Sen- Fitoussi), o Reino Unido (Office for National Statistics ), a Itália ( Benessere Equo e Sostenibile) e a Alemanha (Comissão para o Crescimento, Prosperidade e Qualidade de Vida e Índice Nacional de Prosperidade) têm discutido esta questão e encontram-se a estudar alternativas.

Esta ideia foi também expressa na Resolução 65/309 de 2011 das Nações Unidas (Happiness: towards a holistic approach to development), na qual se reconhece que o PIB não reflecte adequadamente o grau de felicidade e bem-estar da população de um país e se convidam os Estados-membros a desenvolverem, e a comunicarem, indicadores alternativos.

Assumindo que estas matérias são de fundo e que interessam a todos nós, poderemos aspirar a ter um Indicador de desenvolvimento baseado na Felicidade e Bem-estar dos Portugueses? Fica aqui o desafio!

Carlos Oliveira Augusto, CEO da FACTOR4Sustainability

Engenheiro e CEO da FACTOR4Sustainability®