Para várias organizações internacionais e para a UE é evidente que a educação é um aspecto fundamental para a sustentabilidade. O próximo QREN, ao seguir a estratégia Europeia 2020, terá de apostar na agricultura sustentável, na construção sustentável e na eficiência energética. Existe conhecimento sólido sobre esta matéria em Portugal? Em terras lusas surgiu, em 2013 um programa de âmbito nacional – O Projecto 80 – que pretende promover a educação para a sustentabilidade, empreendedorismo e cidadania democrática nas escolas. Um primeiro passo para as gerações vindouras
POR SOFIA SANTOS*

A educação para a sustentabilidade é já um tema bastante discutido na agenda internacional. Na realidade, os principais pensamentos sobre este tipo de educação surgiram na Agenda 21, Capítulo 36, dedicado à “Promoção da educação, difusão do conhecimento e formação”, publicado em 1992 na Cimeira do Rio.

De acordo com documentos escritos pela UNESCO, a educação para a sustentabilidade tem sido iniciada por pessoas fora da comunidade educativa, tendo como maiores impulsionadores as Nações Unidas e as organizações para a cooperação e desenvolvimento económico. Para estas organizações, é evidente que a educação é um aspecto fundamental para a sustentabilidade. Atendendo a que a estratégia europeia para 2020, que se substancia em linhas de investimento para o próximo QREN de 2014 a 2020, assenta no desenvolvimento sustentável da economia, a existência desta abordagem à educação torna-se essencial e útil. Questiono-me se existirá em Portugal conhecimento suficiente, por parte dos empresários, para elaborarem candidaturas a projectos sustentáveis, quer sejam eles na área da agricultura, da construção, da reabilitação, da eficiência energética, entre outros. Os 27 mil milhões de euros que serão distribuídos pelo QREN à economia Portuguesa entre 2014 e 2020 necessitam ser, efectivamente, investidos em projectos sustentáveis e reais.

Inerente ao conceito de educação para a sustentabilidade está a ideia da implementação de programas que sejam localmente relevantes e culturalmente apropriados, o que significa que esta forma de educação adquire várias formas consoante o país em causa. Trata-se assim de uma abordagem bem mais ampla do que simplesmente dar a conhecer os principais factores associados ao ambiente, economia e sociedade. Abarca também a necessidade de se transmitir e educar competências de aprendizagem, valores que guiam e motivam as pessoas a desejar viver em ambientes sustentáveis e de participação na sociedade democrática como cidadãos activos.

Uma educação para o desenvolvimento sustentável permite que cada ser humano consiga adquirir o conhecimento, competências, atitudes e valores necessários à construção de um futuro sustentável. Para tal há que incluir nos curricula os temas das alterações climáticas, biodiversidade, redução da pobreza, consumo sustentável e suas consequências ao nível da cadeia de valor dos produtos. Há que implementar técnicas participativas de ensino e métodos de aprendizagem que motivem os jovens a mudar os seus comportamentos. O que implica que uma educação para o desenvolvimento sustentável promova a criação de competências ao nível do pensamento crítico, da conceptualização de cenários futuros e da capacidade de decisão em formatos colaborativos. De acordo com vários autores, para que esta abordagem à educação seja bem conseguida, é necessário o desenvolvimento de diferentes formas de raciocínio associadas ao pensamento sistémico, responsabilidade intergeracional, protecção e promoção do valor partilhado proveniente de recursos, consciencialização das forças motoras da economia, tendo por base o conceito de responsabilidade estratégica.

No Capítulo 36 da Agenda 21 são identificados os quatro eixos de actuação necessários à promoção da educação para a sustentabilidade: melhorar a educação básica; reorientar a educação existente para incluir o tema do desenvolvimento sustentável; promover o conhecimento público sobre o tema e formação.

Neste contexto surge em Portugal e em 2013 o Projecto 80. Este projecto assume-se como um programa de âmbito nacional, que pretende dinamizar o movimento associativo nas Escolas e promover a educação para a sustentabilidade, empreendedorismo e cidadania democrática. Neste projecto, as Associações de Estudantes do Ensino Básico e do Ensino Secundário podem candidatar-se a um prémio final, desde que desenvolvam um ou mais projectos de sustentabilidade ambiental, nomeadamente, projectos que promovam a gestão eficiente de recursos, a diminuição da pegada carbónica e hídrica, a biodiversidade, o empreendedorismo, a economia verde e a inovação social, bem como o voluntariado ou outras formas de cidadania e participação pública. Entre Março e Abril existirá um roadshow por 18 escolas nas capitais de distrito, de forma a transmitir um conjunto de conhecimento e boas praticas na área da sustentabilidade aos estudantes. Sendo um projecto inovador e audacioso, vai ao encontro de um dos pilares estratégicos da estratégia europeia para 2020 referente à educação e à sustentabilidade.

Trata-se de uma iniciativa conjunta da Agência Portuguesa do Ambiente, da Direcção Geral de Educação, do Instituto Português do Desporto e Juventude, da Quercus e do Green Project Awards, sendo promovida pela GCI, consultora em Public Engagement. Seria desejável que este projecto tivesse repercussões ao nível das mentalidades, comportamentos e políticas públicas. O primeiro passo está dado.

Nota: este artigo teve por base as ideias apresentadas num documento da UNESCO que pode ser consultado em: http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001524/152453eo.pdf

CEO da Systemic